quinta-feira, 13 de novembro de 2014

ODÉ FAIM E OUTROS ODÉS

Odé é o caçador que dá fartura ao povo, providenciando as carnes que alimentam os homens . Pelo fato de andar muito no mato, atrás dos bichos, ele sempre encontra novos lugares onde se estabelecer. Por isso é considerado um fundador, o primeiro ocupante, o dono da terra. Pierre Fatumbi Verger interpreta seu nome – Oxóssi – como oxo wusi (o guardião noturno é popular). Segundo o mito, este foi o grito dado pela multidão quando ele conseguiu matar um pássaro malvado enviado pelas Yamis para perturbar o reino de Ifé. Já o babalaô Afisi Akisola Ifamuiwa, de Owu, Abeokutá, conta que Odé era um moço muito acanhado – oxo osi (aquele que olha de banda), muito desconfiado; ele se sentia feio e se escondia atrás de sua mulher; só ela aparecia. Isso pode explicar por que Odé veste camisu (camisa curta, usada pelas mulheres) e saia comprida.

Os instrumentos de Odé são o eruexim (chicote de rabo de cavalo) e o ofá ou damatá (peça de metal que consiste em um arco e uma flecha unidos). Distinguem-se vários tipos de Odé:

- Odé Akueran: ligado a Ossaim. Quando incorpora, é difícil de segurar, pois é extremamente desconfiado. Veste azul com verde e em alguns Ilês, tiras vermelhas; usa um bioco, tipo de boné bordado com búzios; carrega ofá e eruexim.

- Odé Ixewê: come bode, carneiro, porco e caça. É ligado às folhas e aos remédios. Veste azul estampado com detalhes de couro.

- Odé Ikolô: ligado à Oxalá.

- Odé Isambô: ligado a Omolu; leva palha-da-costa na roupa.

- Ajenipapô: mora na jaqueira e é ligado às Yamis.

- Goronijá: ligado a Ogun, Oyá e Oxum. Come bode, caça e peixe de água doce assado na brasa; veste roupa estampada, azul-clara com barra verde e dourada; usa metal amarelo e ferro, além de pulseiras de búzios.

- Odé Faim: é rico, usa adornos de coral; não gosta muito de bode, mas come tatu e aves de caça, além de frutas. Gosta de comidas muito enfeitadas. Veste azul e branco com dourado; usa pulseiras de couro com búzios; carrega eruexim branco, com cabo enfeitado de búzios.

- Odé Arô ou Arolé: é considerado o Orixá-rei de Ketu e um dos mais belos Oxóssi. Come bode, carneiro,porco, caça e todas as comidas secas. Veste muitas peles; usa chapéu de veludo aul-turquesa forte, com muitas penas. Não caça, mas recebe a caça dos outros.

- Karé – É ligado as águas e a Oxum, porém os dois não se dão bem, pois, exercem as mesmas forças e funções. Come com Oxum e Oxalá. Usa azul e um Banté dourado. Gosta de pentear-se, de perfume e de acarajé. Bom caçador mora sempre perto das fontes.

- Odé Danadaná: ligado a vários Exus que devem ser assentados. Come bode, carneiro, porco, caça, preás. Gosta de bichos escuros, malhados; come no tempo; leva um garfo na ponta do ofá; usa chapéu de couro. É caçador de elefantes e se pinta com wáji (anil) para se esconder.

- Odé Agunalá: ligado a Oxaguiã. Come bode branco e outros bichos brancos, caça e peixe; só aceita muito pouco dendê; come ebô, recebe inhame em bolas e canjica amarela. Veste roupa azul-turquesa e branco.

- Odé Olofusi: ligado a Oxalufã. Muito velho, não dança as cantigas de caça. Come bichos claros. Usa roupas claras, ofá de ferro e eruexim branco.

- Inlê ou Erinlé: É também um outro Oxóssi, cujo culto também caiu no obscurantismo, acabando por tornar-se "qualidade". É o filho querido de Oxaguiã e Yemonjá. Veste-se de branco em homenagem a seu pai. Usa chapéu com plumas brancas e azuis claro. É tão amado que Oxaguiã usa em suas contas um azul claro de seu filho (outros Oxaguiãs usam um azul mais escuro em homenagem a Ogun). Leva um ofá de prata no ojá; usa um segundo ofá na mão e um rebenque de couro com búzios nas pontas; veste branco ou cores claras e usa chapéu branco. Inlê era um caçador muito considerado em Ilobu. Um dia, foi acusado de roubar o gado da aldeia; fugiu desesperado e se fustigou com o rebenque como se fosse culpado; parou de caçar e acabou se escondendo nas águas do rio. Existem ainda, em Ilobu, vários lugares dentro do rio onde se fazem oferendas: Fayemi, Ondun, Asunara, Apala, Agbandada, Owala, Kusi, Ibuanun, Olumeyé, Akanbi, Abadi,Ibualamô, Alapadé. Cada um tem seu templo, mas, mesmo com essa pluralidade de Inlês, todos são considerados um só Orixá.

- Ibualamô: considerado pai de Logunedé com Yeyê Pondá, mas essa paternidade é contestada: alguns, em África, acreditam que ele seja filho de Ogun. Ibualamô come bode, carneiro, porco e caça. Leva dois rebenques de couro de 17 pernas; usa ofá de ferro, Usa um capacete feito de palha da costa e um saiote de palha.

- Koifé: Não se faz no Brasil e na África, pois, muitos de seus fundamentos estão extintos. Seus eleitos ficam um ano recolhidos, tomando todos os dias o banho das folhas. Veste vermelho, leva na mão uma espada e uma lança. Come com Ossain e vive muito escondido dentro das matas, sozinho. Suas contas são azuis claras, usa capangas e braceletes. Usa um capacete que lhe cobre todo o rosto. Assenta-se Koifé e faz-se Igbò, Inlé ou Oxum Karé; trinta dias após, faz-se toda a matança.

- Otokán Sósó: Embora muitas vezes seja citado como uma qualidade, não é qualidade, é um oríkì que significa o caçador que só tem uma flecha. Ele não precisa de mais nenhuma flecha porque jamais erra o alvo. Título que Oxóssi recebeu ao matar o pássaro das Yamis. Não fazendo parte do rol dos caçadores que possuíam várias flechas, Oxóssi era aquele que só tinha uma flecha. Por essa razão é que ele não recebe mel, pois o mel é um dos elementos fabricado pelas abelhas, que são tidas como animais pertencentes a Oxum, mas, também às Yamis. Por essa razão também, é que se dá para Oxóssi o peito inteiro das aves, como reminiscência desse ìtàn.

- Ínsèèwé ou Oni Sèwè / Igbò: É o senhor da floresta, ligado as folhas e a Ossain, com quem vive nas matas. Veste azul claro, e banda de palha da costa, usa capacete quase tapando o seu rosto.
-ÍNKÚLÈ ou Oni Kulé- Odé das montanhas, de culto no platô das serras, muito ligado a Oxaguiã e Jagun, veste verde claro, turquesa.

- Ìnfamí ou Infaín Odé funfun: ligado a Oxaguiã e Oxalufã, só usa branco e come abadô.

- Odé Otim*: come bode, carneiro, coelho, caça; come fora, no pé de Apaoká. Leva muitas pequenas cabaças no igbá. Carrega um ofá na cintura e leva, na mão, um rebenque de 16 tiras de couro trançadas, terminadas por uma bola de couro; usa na cabeça um gorro baixo de veludo.

*Otim, na verdade, é um Orixá feminino, companheira de caça de Oxóssi. Em África, acredita-se que seja o lado feminino de Oxóssi, a mulher caçadora que habita a floresta, desbravando as matas. Em alguns Ilês, algumas pessoas já foram iniciadas para esse Orixá em seu formato feminino de Ìyágbá
oloje iku ike obarainan

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