sexta-feira, 26 de setembro de 2014

AS MÃES ANCESTRAIS

Significa todo um processo de equilíbrio e de harmonia. Para se entender bem tal relação, se faz necessário situar as mulheres do ritual GÈLÈDÈ , que representam o culto às ÌYÁMÌ, as grandes mães ancestrais, encabeçadas por: Nàná , , Òsun Ijimu, Òsun Ìyánlá,Yewa e Oya. ODÙA simboliza a grande representante do princípio feminino, sendo o elemento responsável por todo o poder criador, do poder das mulheres, liderando o movimento das ÌYÁMÌ, grandes mães ancestrais, que tudo criaram, transformaram e transmutaram desde o princípio dos princípios da formação do universo.
A sociedade GÈLÈDÈS, que já existiu no Brasil, é um ritual de mulheres que vestem panos coloridos – diferentes panos mostrando diferentes procedências. São as diferentes raízes que as pessoas podem ter na maternidade. A máscara ÈFÉ-GÈLÈDÈ que cobre a cabeça da mulher vai representar o mistério, o maravilhoso, na cultura negra. O uso da máscara significa o símbolo de outro espaço, um espaço vivo, um espaço invisível que não se conhece, mas sente-se!

No Brasil esta sociedade existiu, sua ultima sacerdotisa suprema foi Omóník é Ìyálóde-Erelú que tinha o nome católico Maria Julia Figueiredo, uma das Ìyálà se do Ilè Ìyá-Nàsó , com sua morte cessaram-se as festividades , que eram realizadas no bairro da Boa Viagem. O propósito da sociedade GÈ LÈDÈ é propiciar os poderes míticos das mulheres, cuja a boa vontade deve ser cultivada porque é essencial a continuidade da vida para esta sociedade.

Sem o poder feminino, sem o princípio de criação não brotam plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade. Assim, o princípio feminino é o princípio da criação e preservação do mundo: sem a mulher não existe vida, sendo, segundo os mitos, ser reverenciada e respeitada pelos orixás e pelos homens.

As GÈLÈDÈ e suas máscaras se tornam uma metáfora, sendo uma linguagem para a mãe natureza. O GÈLÈ é um símbolo das GÈLÈDÈ porque personifica o útero, pois ele carrega as crianças e as protege. Através das Ìyámì (mães ancestrais) a arte das máscaras é usada para aglutinar as pessoas que se relacionam como filhos de uma mesma mãe, fazendo com que o espírito se manifeste através desta máscara, seguindo e alimentando o espírito humano. Representam o não uso da violência para resolver questões. Nas culturas negras a mulher está presente em todos os lugares.

As máscaras tem grande importância na vida religiosa, social e política da comunidade, mostrando as diferentes categorias de mulher:

- mulher secreta – ligada ao divino, serve como passagem e receptáculo do sagrado no mundo dos vivos, por gerar frutos.

-mulher símbolo político – não usa violência para resolver as questões, aglutinando as pessoas, vivendo o cotidiano.

- mulher sagrada – símbolo de todos os tempos, pois está virada para o futuro, sempre vulnerável e frágil, mas é aquela que abre o céu ( Òrun) e deixa lugar para a mudança, o futuro, e para a transformação.

A sexualidade da mulher negra faz parte da sua essência de princípio feminino, sendo muitos os mitos que representam a função e o papel mulher vista como útero fecundado, cabaça que contem e é contida, responsável pela continuidade da espécie e pela sobrevivência da comunidade. Não se encontra pecado nesta sexualidade.
Através das ÌYÁ as comunidades – terreiros se constituam num verdadeiro sistema de alianças. Desde a simples condição de irmão de santo até a mais complexa organização hierárquica, há o estabelecimento de um parentesco comunitário, como uma recriação das linhagens e da família extensiva africana. Os laços de sangue são substituídos pelos de participação na comunidade, de acordo com a antigüidade, as obrigações e a linhagem iniciática. Todos estão unidos por laços de iniciação às divindades cultuadas, aos demais iniciados, às autoridades, aos antepassados e aos ancestrais da comunidade.

Através do rito se tem todo um sentido de manifestação das mulheres do grupo: rodando, dançando, se integrando com o cosmos, mostrando que temos consciência de que somos elementos dinâmicos, de que o movimento da roda – já que as mulheres são os elementos que dançam em círculo – representa o altar da criação, da vida, já que a terra está em movimento, o universo está em movimento e só se conseguirá estar em sintonia com o universo através do movimento.

GÈLÈDÈ é originalmente uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso, existente nas sociedades tradicionais yorubás , que expressam o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem estar da comunidade.

O culto Gèlèdè visa apaziguar e reverenciar as mães ancestrais para assegurar o equilíbrio do mundo. As principais representações do culto também nos fala um itòn de òséyèkú, que obàtálá e odù logbojé são uma única coisa e no culto a Obàtálá, Òsòrongà é diretamente participante , o próprio itòn nos fala: “tudo aquilo que o homem vier a conseguir na terra, o será através das mãos das mulheres . esta é uma tradição do culto a Obàtálá, pela relação direta de Yemoja Odùa. – ìtòn òsá méjì ( o mito da roupa de Éégún)- quanto ao culto Èfé -Gèlèdè , os homens participam , até nas chamadas “incorporações”- dàpò sòkan – e uma das principais diferenças, estão nas próprias danças rituais, quando “feminina” e lenta e nobre, quando “a masculina” é firme e agressiva, e cabe aos òsò de Òò s ààlà’ esta função.- Seja ako, baká, mundiá, tetedè, okunriu, onilu e “às outras” .

Mas quando se trata da essência da filosofia, na relação Obàtálá (símbolo da ancestralidade masculina) e, Yemoja Odùa – (Òsòròngà – símbolo da ancestralidade feminina) como uma relação perfeita, trazida por Òsé-òyèkú , e também pela relação de ambos com Ikú.

O culto anual de Èfé-Gèlèdè , originário da cidade de Ketu no décimo quarto século, é organizado no começo da estação agricultural exatamente por uma importante questão dentro da cultura Yorùbá – a Fertilidade. Este culto se organiza da seguinte forma- sua parte diurna é exatamente Gèlèdè e sua parte noturna é Èfé ( o pássaro ). Os dançarinos são homens, contudo representam homens e mulheres em suas representações.

Isto prova que o culto das Gèlèdè não é vetado aos Homens.

Fonte: Pièré Verger
oloje iku ike obarainan

AXOGUM (ÁSÒGÚN): PARTÍCIPE DO MISTÉRIO DO SACRÍCIO E DO EGJÈ

Entre os cargos próprios aos Ogáns, está o de Axogum (Ásògún). Este cargo deve ser ocupado por alguém iniciado pois também é um ministério de sacerdócio. Depois da iniciação, ou durante a saída da mesma, o Ogan é confirmado ou suspenso (conforme a tradição da casa) ao cargo de Axogum. Este é o responsável pelo sacrifício dos animais, durante os rituais festivos, atua como um vigia, que observa se há irregularidades nos sacrifícios.

Deve ser pessoa de absoluta confiança do líder religioso, precisa ter boa memória, saber as técnicas complexas para a execução de suas tarefas, não pode cometer nenhum erro.

Dependendo do prestígio do Axogum, poderá ser convidado por outros sacerdotes de outras casas para exercer suas funções em caso de grandes obrigações.

O mistério do sacrifício geralmente é exercido pelo uso do Òbè (faca), pelo qual, se sacrifica os animais votivos. Cabe ao detentor do cargo de Axogum empunhar o mesmo ou pelo menos assistir o uso dele. Em algumas casas é o Axogum que faz uso do Òbé e este colhe o egjé (sangue) dos animais para os sagrados Òròs, enquanto o babalòrisá ou Iyàlòrisá reza os Òrikís. Quando não é este que usa do Òbé e sim o baba ou a Iyà, fica ali de prontidão para ajudá-lo(a) nas rezas e necessidades imediatas.

Queira Òlorún suscitar em nossos Ilés homens de fino trato e caráter digno para o cargo de Axogum. Que saibamos valorizar e honrar tão vigorosos e necessários homens ao nosso culto Òrisá.
oloje iku ike obarainan

(O Mito de Barú)

Lenda de Xangô Barú

Existe uma qualidade de Xangô, chamada Baru, que não pode comer quiabo. Ele era muito brigão. Só vivia em atrito com os outros. Ele é que era o valente. Quem resolvia tudo era ele . Xangô Baru era muito destemido, mas, quando ele comia quiabo, que ele gostava muito, lhe dava muita sonolência. Dormia o tempo todo! E pôr isso perdeu muitas contendas, pois quando ele acordava, já tudo tinha acabado.

Então, resolveu consultar um oluô, que lhe disse:

- Se é assim, deixa de comer quiabo.

- Eu deixar de comer o que eu mais gosto? – respondeu Xangô Baru.

- Então, fique por sua conta. Não me incomode mais! Será que a gula vai vencê- lo? – perguntou o oluô. Xangô baru foi para casa e pensou :

- Eu não vou me deixar vencer pela boca. Vou voltar lá e perguntar a ele o que faço, pois o quiabo é meu prato predileto.

E saiu no caminho da casa do oluô, que já sabia que ele voltaria. Lá chegando, disse:

- Aqui estou. Me diz o que eu vou comer no lugar do quiabo.

- Aqui neste mocó tem o que você tem que comer. São estas folhas. Você temperando como quiabo, mata sua fome – lhe mostrou o oluô.

- Folha?! – perguntou Xangô Baru.

- Sim – respondeu o oluô – Tem duas qualidades, uma se chama oyó e a outra, sanã. São tão boas e gostosas quanto o quiabo.

Xangô Baru foi para casa e preparou o refogado, e fez um angu de farinha e comeu. Gostou tanto, e se sentiu tão bem e tão fortalecido, e não teve mais aquele sono profundo. Aliás, ele se sentiu bem mais jovem e com mais força. E não ficou com a sonolência que o quiabo lhe dava. Aí ele disse:

- A partir de hoje, eu não como mais quiabo.

Daí a sua quizila com o mesmo. “Todo caso é um caso. “Esse caso me foi contado pelas minhas mais velhas; assim, agora quem quiser dar quiabo a Baru, que dê!

Uma passagem na História de Xango que explica o Branco de Barú em contraste com o negro:

“Recebeu de Oxalá um cavalo branco como presente. Passado um tempo, Oxalá voltou ao reino de Xangô Baru, onde foi aprisionado por sete anos num calabouço. Calado no seu sofrimento, Oxalá provocou a infertilidade da terra e das mulheres de Baru. Com a ajuda dos babalawôs, Xangô Baru descobriu seu pai, Oxalá, preso no palácio. Naquele dia mesmo, Baru e seu povo vestiram-se de branco e pediram perdão ao grande Orixá da Criação. Neste mito, Xangô surge como um rei humilde e solidário com a causa de seu povo.”
oloje iku ike obarainan


Ikómojáde dia do orúko

"O presente texto pretende mostrar a importância dada pelos Yorùbá tradicionais à escolha do nome pessoal (Orúko) de seus filhos e anunciado no ritual denominado "Ikómojáde", bem como sua correspondência dentro do Processo Iniciático para Òrìsà ou "Feitura de Santo" no Candomblé de raízes Kétu."

Segundo maior grupo étnico da Nigéria, dentre os cerca de 250 grupos étnicos existentes, os Yorùbá estão presentes principalmente em estados localizados no sudoeste nigeriano, onde é maioria, e ainda em algumas cidades da República do Benin (antigo Daomé).

A história deste povo tem início antes da era cristã. Eles fizeram parte de um dos grandes Impérios constituídos na região hoje ocupada pela Nigéria: O Império Yorùbá.

Segundo as tradições locais, que mistura dados históricos com mitológicos, o Império Yorùbá tem início com a chegada de "Odùduwà" e seus seguidores, na região onde hoje é a cidade de Ifè, no estado de Òsún; ele teria expulsado os líderes locais e iniciado ali o seu reinado.

Após estabelecer o reino de Ifè, Odùduwà teria enviado seus filhos para a conquista de terras vizinhas, assim, a partir do reino de Ifè outros reinos foram estabelecidos pelos seus descendentes. Esses reinos evoluíram ao longo dos séculos, baseados no comércio e na agricultura.

Do contato com os primeiros europeus, a partir do século XV, resultou a colonização da Nigéria pelos ingleses no final do século XIX, mas mesmo com a administração inglesa, os Yorùbá mantém o seu sistema de governo tradicional, que hoje procura conviver com o governo civil presidencialista.

Atualmente, antigos costumes como a escolha do nome de uma criança, só são mantidos pelos Yorùbá mais tradicionais, no entanto essa prática era comum antes da introdução dos costumes ocidentais.

Para entender a importância da escolha do nome, precisamos ter uma noção da religiosidade Yorùbá e da importância dada à "palavra", por esse povo de tradição oral que só conhece a escrita a partir do contato com os colonizadores.

Os Yorùbá concebem que a existência transcorre em dois planos: no aiyé, isto é, o universo físico com todos os seres naturais que o habitam, e no òrun, o espaço sobrenatural, um mundo paralelo ao mundo real, habitado pelos espíritos de seus ancestrais...

A religião tradicional Yorùbá consiste no culto à Olóòrun, o "Criador do aiyé e do òrun", através de "ancestrais divinizados" denominados Òrìsà. Os Yorùbá acreditam que os Òrìsà são uma extensão de Olóòrun, que através deles intervém nos problemas humanos, sendo assim rezando para "Eles", podem interferir positivamente em suas vidas.

Òrúnmìlá é considerado o precursor e estruturador da "religião" dos Yorùbá. Acreditam que ele introduziu em Ifè a prática da consulta ao "Oráculo de Ifá", através da qual, pela utilização de alguns "instrumentos", o Bàbáláwo (Sacerdote de Ifá) verifica o destino de uma pessoa, que é traduzido por signos gráficos denominados "Odù".

Para os Yorùbá, a palavra conduz um poder de realização, denominado "Àse", que coloca em movimento e desperta as forças que estão estáticas nas coisas. Cada palavra proferida é única, ela comunica a experiência de uma geração à outra, transmite o Àse dos antepassados à geração do presente.

Sikiru Salami diz que: "A palavra, considerada elemento de origem divina, força fundamental emanada do próprio Ser Supremo, é, ela própria, instrumento de criação. Considerada um dom do pré-existente serve de instrumento à materialização e exteriorização de forças vitais" (Sikiru Salami, 1997, p. 44).

Por ocasião do nascimento dos filhos, a mulher Yorùbá e o recém-nascido permanecem em casa até o dia do Ikómojáde, ritual tradicional durante o qual o nome da criança é anunciado para a família e para a comunidade. O Ikómojáde é uma prática antiga entre os Yorùbá, e tem por objetivos anunciar o nome da criança, dar a ela as boas vindas e felicitar os seus pais.
Tradicionalmente, se a criança era um menino, recebia o nome no nono dia de vida, se era uma menina, no sétimo dia, e se eram gêmeos, no oitavo dia. Nos dias atuais, a escolha tem acontecido no oitavo dia, independente do gênero e número de crianças nascidas.

Antes porém, do Ikómojáde, no terceiro dia após o nascimento, um Bàbáláwo é chamado para realizar o Àkosèjayè, ritual divinatório que objetiva obter dados a respeito do destino do novo membro que está chegando para aquela família e indagar sobre seu futuro. São verificados quais os Odù que direcionam a vida da criança, e como conseqüência quais "Èèwò" (interdições alimentares e de conduta) que a criança deverá obedecer para facilitar seu desenvolvimento material e espiritual.

O nome, que deve ser escolhido previamente ao dia da cerimônia, pode ter a influência das circunstâncias que cercam o nascimento da criança, sendo nesse caso denominado"Orúko Àmútoruwá" (nome trazido ao nascer) ou "Isomolóruko" (ato de escolher o nome do recém nascido, com a observância à cerca do fato). Os orúko àmútoruwá ou isomolóruko indicam circunstâncias da gestação ou do parto, circunstâncias familiares ou da sua comunidade.

Dentre os orúko àmútoruwá os mais importantes são os relacionados a gêmeos: O nome do primeiro nascido será sempre Taiwo (experimentar a vida), e o último sempre Kèhìndé (último a chegar). A criança nascida após a gestação de gêmeos recebe o nome de Idowu. Ige é o nome dado à criança nascida com apresentação dos pés; Dàda, o nome dado á criança nascida com cabelos encaracolados.

São exemplos de nomes determinados por circunstâncias familiares: Bàbátúndé (papai retornou), dado à criança nascida após a morte de um avô e Ìyábo (mamãe retornou), dado à criança nascida após a morte da avó.

Se uma criança nasce durante o Ano Novo ou durante um Festival Anual, recebe o nome de Àbíodún.

Se a criança não traz um nome ao nascer, ou seja, um orúko àmútoruwá, a família terá que decidir pela sua escolha, sendo nesse caso denominado "Orúko Àbíso".

Há um provérbio yorùbá que diz: "os pais devem sempre olhar para a sua casa, antes de escolher o nome de uma criança", devendo-se entender a palavra „casa‟, como a „família‟. Os orúko àbiso são escolhidos após um estudo sobre a família, em aspectos como profissão, ancestralidade, òrìsà cultuado, etc.

A grande importância dada ao orúko àbíso é que, segundo o entendimento Yorùbá, ele irá refletir diretamente na vida daquele indivíduo. Esse entendimento está relacionado à importância atribuída à "palavra", ou seja, à medida que aquele nome é pronunciado estará agindo na vida e no comportamento daquele que o carrega, logo, a escolha do "nome ideal" é uma tarefa muito importante, pois é por este nome que o indivíduo será chamado durante toda a sua vida.

A criança nascida em uma família que cultua o Òrìsà Ògún pode receber um nome que evidencia esse compromisso: Ògúndolá (Ògún traz/trouxe prosperidade) ou Àgbèdédolá ( a forja trouxe prosperidade); se for Sòngó: Sòngódéye (Sòngó trouxe este filho) ou Sòngóbunmi (Sòngó me deu de presente).

Alguns orúko àbíso:
Masculinos Femininos
- Àbíáyomi (nascido para me trazer alegria)
- Dáyo (alegria alcançada)
- Akin (homem valente)
- Àyomidé (minha alegria chegou)
- Àyodélé (alegria vem ao lar)
- Fúnmiláyo (deu-me felicidade)
- Olákúndé (o valoroso chegou)
- Olábunmi (minha honra foi recompensada)

Tradicionalmente o Ikómojáde acontece fora da casa, ao ar livre, de forma que os pés descalços da criança possam tocar à terra pela primeira vez. A cerimônia marcará a primeira vez que a criança e sua mãe saem de casa. Dentre os convidados estão parentes e membros da comunidade, que vêm dar as boas vindas à criança e felicitações aos pais.

A mãe da criança a apresenta à um ancião da família, que realizará o Ikómojáde. O papel que os anciões da família exercem no Ikómojáde tem uma importância simbólica e tradicional: eles acreditam que a criança veio de onde eles se preparam para ir, o òrun, por causa desse laço, o ancião da família deve ser o primeiro a guiar os primeiros passos da criança recém chegada.

No Ikómojáde uma série de elementos são utilizados: epo-pupa (azeite de dendê), oyin (mel), obi e orogbo (noz de cola), atare (pimenta da costa), omi (água), ìrèkè (cana-de-açucar), iyò (sal), òti (bebida destilada), etc.

Cada um desses elementos é encostado na cabeça da criança e em sua boca, enquanto se recita as suas propriedades vitais. Ao apresentar esses elementos à criança, pretende-se que cada um deles forneça a ela um determinado atributo, relacionado ao seu significado simbólico. Assim, o obi é utilizado para protegê-la da doença e da morte prematura; a pimenta da costa favorece a vitória sobre os inimigos e obstáculos ao longo da vida; o sal é voto de longevidade; a cana-de-açúcar e o mel são usados para atrair circunstâncias agradáveis; etc. Depois que cada elemento é oferecido à criança, será oferecido também a todos os presentes.

Depois que a criança recebe a força desses elementos, seu nome lhe é atribuído por meio de uma recitação que pede sucesso, saúde e felicidade. A cerimônia termina com uma grande festa.
A partir da colonização da Nigéria pela Inglaterra, os Yorùbá passam a usar nomes com influência cristã e islâmica. Algumas famílias, no entanto, usam o nome principal de acordo com o modelo ocidental, deixando para o sobrenome o nome tradicional Yòrubá.

No nosso entender, tendo como referência autores como Juana Elbein dos Santos, o "Terreiro de Candomblé" surge no Brasil do século XIX, como uma necessidade de recriar o espaço geográfico Yorùbá, assim como as suas relações familiares, perdidas com o tráfico de escravos. Os laços de parentesco deixam de ser de sangue, para ser simbólicos, no entanto o objetivo é reproduzir a família Yorùbá tradicional.

Dentro desse contexto é que acreditamos que muitos dos gestos e atitudes que reproduzimos hoje em nossas "Casas de Santo", são as reproduções do dia a dia desse povo.

Não estamos querendo com isso diminuir o valor dos rituais praticados, mais sim simplificá-los e entendê-los dentro de um contexto cultural diferente do nosso.

Assim é que analisamos o Ikómojáde dentro do Processo Iniciático para Òrìsà ou "Feitura de Santo" nos Candomblé de raízes Kétu no Brasil.

A Iniciação para Òrìsà implica numa "morte simbólica" e no "renascimento" para uma nova vida, vida esta consagrada ao òrìsà. Dentro desse processo, a primeira parte é dedicada a uma "gestação simbólica" em que se reproduz a vida no ventre materno. O novo indivíduo "nasce" e como acontece em território yorùbá tem lugar o Àkosèjayè.

O indivíduo nasceu, foi verificado o seu destino (odù) e precisa receber um nome, o qual será anunciado em cerimônia pública, também denominada de Ikómojáde ou "Dia do nome".

No Brasil, nem sempre o nome é escolhido pelo Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, há casos em que o iniciado tem que receber o nome através de "sonho".

Pelas características dos Orúko encontrados entre os adeptos do Candomblé brasileiro, percebemos que se tratam de Orúko àbíso, e ainda que, na maioria das vezes, fazem referência ao òrìsà individual daquele indivíduo:

"...Um dos aspectos importante que define cada grupo de iniciados é o fato de trazer diante do nome de iniciação um nome genérico comum a todos os que pertencem a um determinado òrìsà: Òrìsàlá – Iwin (Iwin-tólá, Iwin-múìwá, Iwin-solá, Iwin-dùnsí); Obalúaiyé – Iji (Iji-lánà, Iji-bùmi, Iji-dare); Nana – Na (Na-dógiyá, Na-jide); Sangó – Oba (Oba-téru, Oba-bìyì, Oba-tosi)" (Juana Elbein dos Santos, 2002, p. 35).

Diferentemente do que ocorre em território Yorùbá o novo nome não é anunciado por um membro mais velho da comunidade, é o próprio Òrìsà quem o proclama.

Depois de toda essa exposição o que queremos deixar para reflexão é o seguinte: vimos que entre os Yorùbá tradicionais a escolha do nome é de vital importância, pois acreditam que ele irá refletir diretamente no comportamento e na vida daquele indivíduo, por que então em algumas de nossa "Casas de santo" a pronúncia desse novo nome é um tabu? Chegando mesmo em algumas delas a ser omitido até mesmo do filho-de-santo!

Se estivermos reproduzindo a família e a comunidade Yorùbá dispersadas pelo tráfico de escravos no passado, por que não fazer desses costumes uma prática mais natural? Ou habitual?
oloje iku ike obarainan
O QUE É REALMENTE UM EGBONMY?

Muitos são os mitos e falácias relacionados ao ser Egbonmy no Candomblé. Muitos são os Òmo Òrisá que desejam sê-lo sem nem mesmo compreender o que isto significa ou o que acarreta na vida de um filho do Candomblé.

Em nossas Casas de Àsé ouve-se comumente: "Quando eu for egbonmy..." E aí vêm os sonhos. Na maioria das vezes, sonhos de grandeza. A priori, devemos salientar que ser religioso é servir à Òlòdúmare, nossa Divindade Maior. Servir à Deus, significa - antes de tudo - ser humilde pois aquele que se eleva ofusca a luz Daquele que é Verdadeiramente Grande: Deus. Assim sendo, ser Egbonmy, não significa ser maior, nem melhor. Significa ser mais velho.

Quando nos tornamos Egbonmys? Quando "arriamos" nossa obrigação de sete anos. Somente e exclusivamente depois disso. Não há casos diversos nem exceções. Ninguém é Egbonmy antes de dar seus sete anos. Antes disso, todos somos Iyawós. Assim sendo, em condição "sine qua non", não há ninguém que possa ser considerado egbonmy sem ter concluído seu tempo de noviciado que dura sete anos.

Há que se salientar que ser egbonmy, ter dado seus sete anos, não significa ter seus direitos de sacerdócio. O sacerdócio no Candomblé nunca pode ser outorgado à alguém antes dos sete anos, entretanto, não significa que dar sete anos faz de alguém babalòrisá ou Iyálòrisá. Os termos anteriores, babalòrisá ou Iyálòrisá, são próprios à quem tem seus filhos iniciados e uma Casa de Àsé fundada. Só é sacerdote quem recebeu este direito de um mais velho, quem iniciou seus primeiros Iyawòs, quem abriu uma Casa de Àsé.

Como se abre uma Casa de Àsé? Primeiramente, a pessoa tem que possuir uma propriedade para fundá-lo. Nunca, irrefutavelmente, alguém pode abrir uma Casa de Àsé em área alugada, cedida, emprestada. Uma vez sendo um Ilè Àsé, uma propriedade nunca mais poderá deixar de sê-lo. Assim sendo, o terreno, a propriedade, tem que estar em uma condição de posse legal, devidamente registrada por escritura lavrada em cartório, para não se correr o risco de que este Àsé venha a ser desapropriado e com isso, os Òrisás sejam despejados ou fiquem sem sua propriedade de direito. A Casa de Àsé é de propriedade do Òrisá e nunca poderá deixar de sê-lo. Assim, não será usada após a fundação para outros fins, quaisquer que sejam.

Concluindo, não existe Egbonmy sem ter dado seus sete anos e nem babalòrisá ou Iyàlòrisá sem Casa de Àsé aberta e filhos iniciados nesta, por suas mãos. Cada um tem sua missão, seu dever e seu lugar. Deve honrá-lo respeitando sua etapa com amor e dedicação, revestido da mais sincera humildade. Importa que somos iniciados no Culto Òrisá e não qual cargo galgamos. Ser de Àsé é ser religioso a serviço do Bem maior: Òlòdúmare e os Òrisás e não a nós mesmos ou nossa vaidade.
oloje iku ike obarainan

A realeza de Xangô (Sòngó) e sua relação com a morte

Nem seria preciso falar do poder de Xangô (Sòngó), porque o poder é a sua síntese. Xangô nasce do poder morre em nome do poder. Rei absoluto, forte, imbatível. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis. Não existe uma hierarquia entre os orixás, nenhum possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião e é o orixá mais velho, goza de certa primazia. Contudo, se preciso fosse escolher um orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô para assumir esse papel?

Xangô gosta dos desafios, que não raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.

A maneira como todos devem se referir a Xangô já expressa o seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um Elefante-de-olhos-tão-grandes-quanto-potes-de-boca-larga: esse é Xangô e, se o corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o Elefante-que-manda-na-savana, imponente, poderoso.

Percebe-se que a imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por ter se tornado o quarto alafim de Òyó, que era considerada a capital política dos iorubas, a cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio meio-irmão Dadá-Ajaká com um golpe militar. A personalidade paciente e tolerante do irmão irritavam Xangô e, certamente, o povo de Òyó, que o apoiou para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado.

O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois seu pai, Oranian, foi fundador da cidade e de sua dinastia. Ele só fez apressar a sua ascensão. Xangô é o rei que não aceita contestação, todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão, pela força, é merecido. Xangô foi o grande alafim de Òyo porque soube inspirar credibilidade aos seus súbditos, tomou as decisões mais acertadas e sábias e, sobretudo, demonstrou a sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado.

Não erram, como se viu, os que dizem que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular. Em outros termos, o déspota reflecte a imagem de seu povo, e este ama o seu senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por assumir a postura de um pai. No caso de Xangô, sua rectidão e honestidade superam o seu carácter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre justas e por isso ele é, acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu estilo, não por maldade.

Fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor.
Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas, seria terra de origem de sua família materna.

Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.

Xangô sempre foi um homem bonito extremamente vaidoso, por isso conquistou todas a mulheres que quis, e, afinal, o que seria um ‘olhar de fogo’senão um olhar de desejo ardente? Quem resiste ao olhar de “flirt” de Xangô?

Xangô era um amante irresistível e por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. È com ela que divide o domínio sobre o fogo.
Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.

A terceira esposa de Xangô foi Oba, que amou e não foi amada. Oba abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor o seu rei.

Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.
oloje iku ike obarainan
VOCÊ PERGUNTA SOBRE ESTE MITO !! OS SACERDOTES NUNCA VIU,OUVIU,NÃO SABEM ,NÃO PESQUISA ,OU SIMPLESMENTE VIRAM O ROSTO TORCE O BICO COMO RESPOSTA..

População do sul do Benin e sul do Togo, cuja origem mítica está entre os adjá. Os Fon possuem como características o uso dalíngua fon, e sua maior expressão histórica, política e social do povo se expressou no Benin através do Reino do Dahomey e naDiáspora africanaatravés do vodun. O complexo cultural expressado tanto pelo vodun como pelo Reino do Dahomey possui uma origem mítica na cidade-reino adjá de Tadô ou Sadô, onde uma filha solteira do rei, ao dirigir-se à floresta sozinha para realizar uma tarefa encontrou-se com um leopardo encantado. Ao retornar à cidade, descobriu-se grávida e a paternidade da criança foi atribuída ao leopardo. Como entre os adjá o sangue da mãe também enobrece, esse filho do leopardo, kpòvi e seus descendentes constituíram-se em uma nova linhagem real. Entretanto, o filho do leopardo ficou sendo conhecido na posteridade pelo cognome deAgassu, o bastardo, e seus descendentes por isso sempre eram preteridos no sistema sucessório de Adjá-Tadô, ainda que herdassem a bravura e ousadia de seu ancestral animal.
Um dia porém, os kpòvi, mais uma vez excluídos, se revoltaram contra a escolha do sucessor no trono de Adjá–Tadô. Eles e seus partidários se armaram e, após uma violenta refrega, muitos cadáveres tombaram de lado a lado, inclusive o do rei escolhido. O chefe dos kpòvi, Kokpon por esta razão, ficou sendo conhecido como Adjá-hutó, o matador de adjás, e ele junto com seus partidários tiveram que partir para o exílio, uma vez que perpetrou o delito de maior lesa-majestade que é o de amaldiçoar a terra com o derramamento do precioso sangue real.
O êxodo dos kpòvi e seus seguidores, após várias peripécias, deteve-se em Aladá, onde Adjá-hutó Kokpon fundou uma nova dinastia de governantes até que o falecimento um rei também chamado Kokpon dá lugar a uma guerra de sucessão entre seus três herdeiros: Medji, Té-Agbanlin e Ahô-Dakodonu. Medji permanece em Aladá e dá continuidade à dinastia local reinante; Té-Agbanlin dirige-se para o leste, onde funda uma nova dinastia em Adjaxé (Porto Novo) enquanto que Dakodonu segue para o norte com seu irmão Ganiehessu e, após algumas peripécias, busca alojar-se com seus ferozes seguidores entre a população de língua yorubá dos iguedê (guedevi) e mata seu reiAgli, dizimando seu povo, escravizando mulheres e crianças, os quais mais tarde são vendidos aos portugueses. Funda ali uma nova dinastia.Dakodonu tenta estabelecer-se em Kana e vai solicitando consecutivamente ao rei de Kana, cujo nome era Dan, locais para alojamento. Um dia Dan, aborrecido com mais uma solicitação dos adjá-tadonus, declara mordazmente: “Depois de alojar-se em tantos lugares do meu reino, só falta agora a minha barriga para esta gente ficar”. Os adjá-tadonus compreenderam essa declaração como um chamado para a luta e, desta forma, Dakodonu matou e estripou pessoalmente Dan, e disse que cumpriria sua palavra e construiria seu reino sobre a barriga deste, daí a expressão Dan-ho-mé, que era o reino edificado “no ventre de Dan”.
O Reino do Dahomey superou as duas outras dinastias adjá-tadonus reinantes em Porto-Novo e Allada, governando um poderoso Estado da capital Abomey, fundada por Agassuvi Aho, sobrinho e sucessor de Dakodonu, também chamado de Hwegbadjá, em circunstâncias muito parecidas com a fundação do próprio reino. Outra versão da história conta que Abomei teria sido fundada por Hwessu, filho de Hwegbadjá. Os dois outros reinos, apesar do crescimento do Daomé, continuaram a ser considerados Estados-irmãos e, tanto os reis de Porto Novocomo os de Abomey, dirigiam-se à Allada, cidade onde as suas dinastias teriam começado a reinar, como parte do ritual da cerimônia de entronização.
Na dinastia daomeana a tradição conta que sucederam-se onze reis até que os colonizadores franceses reduzem seu status para o de “chef de canton.
Dǎko-Donu (1620-1645)
. Hwegbajà (1645-1680)
. Akabá (1680-1704)
. Agadjá (1708-1732)
. Tegbessu (1732-1775)
. Kpenglá (1775-1789)
. Agonglô (1789-1797)
. Guezô (1818-1858)
. Glelé (1858-1889)
. Gbehanzìn (1889-1894)
. Agoli-Agbô (1894-1900)
Nota: A lista oficial às vezes é encabeçada por Ganiehéssu, irmão mais velho de Dǎko-Donu e chefe do clá dos agassuvi, tendo sido o primeiro sumo-sacerdote local do culto de Agassu. Hangbê, irmã-gêmea de Akabá reinou também junto com este, enquanto Adandozan (1797-1818), reinou como usurpador durante a infância de Guezô. (Wikipédia, a enciclopédia livre)
SE ESCOLHESTE O CANDOMBLÉ COMO TUA RELIGIÃO, ENTRE COMO SE ESTIVESSE ENTRANDO NUMA OUTRA RELIGIÃO QUALQUER…
NÃO ESPERE FICAR MILIONÁRIO, NEM FORMULAS MAGICAS PARA O AMOR, O CANDOMBLÉ NÃO É SINÔNIMO DISSO, MAS APENAS O AMOR PELA NATUREZA E POR TODAS AS FORÇAS QUE NELA HABITA

VODUN DAN

Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje os maiores deuses.

Aido Wedo é o arco-íris e Dambala a sua imagem refletida nas águas oceânicas.
O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan. Na África esse Vodum é conhecido como DA.

Dada – Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado. A coroa de Dan é chamada de Coroa de Dada. Dan tanto pode ser um Vodum masculino quanto pode ser um Vodum feminino, porém para tratá-lo, fazê-lo ou assentá-lo temos que cuidar sempre do casal. Como dizem os antigos “cobra não anda sozinha, seu parceiro esta sempre por perto”. Dambala também é conhecida como Daidah (daídar) – A “Cobra–Mãe”. Essa Vodum não pode ser feita em mais de duas pessoas num mesmo país. Os velhos vodunos contam que ela é originária da Palestina. Em uma outra versão, encontramos Daidah como Lilith, a primeira mulher de Adão.
No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na África encontramos muito mais que isso. Essa família é muito grande. Dan é um Vodum muito exigente em seus preceitos, muito orgulhoso e teimoso. Quando tratado corretamente, dá tudo aos seus filhos e a casa de santo, mas se tratado de maneira errada ou se for esquecido castiga severamente. Vodum Dan é muito fiel a casa e a mãe/pai de santo que o fez. Os símbolos de Dan, são: o arco-íris, a serpente pithon, o traken ou draka, patokwe, o dahun , a ..takara. e o ason (assôm). Seu principal atinsa (atinsá) dentro de uma casa de Santo é denominado Dan-gbi , que é onde o arco-íris se encontra com a terra (“panela lendária do tesouro!”). Dan usa muitos brajás feitos de búzios. As aighy (aigri), são importantissimas em seus assetamentos e atinsas. Para nós, Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da vidência, é ele junto com Vodum Fa, quem dá aos bakonos o poder do oráculo, assim como deu a Yewa e a Legba.
Aido Wedo e Dambala são quem sustentam o mundo e quando eles se agitam provocam catástrofes como os terremotos. Eles fazem parte da criação do mundo, pois vieram ajudar Nana Buluku nessa tarefa. Nos arcos-íris da lua e do sol também encontramos Voduns Dan. Ao se iniciar um filho de Dan, preceitos são feitos para que esse Vodum venha sempre em forma humana e nunca em forma de serpente, pois entendemos que na forma humana ele é menos perigoso e entende melhor os homens, podendo assim atender suas necessidades e suprí-las. Na forma de serpente torna-se muito perigoso. De modo geral os filhos de Dan são muito chegado a doenças, principalmente de olhos. São pessoas vaidosas, ambiciosas, “perigosas”, espertas e inteligentes. São muito dedicados ao santo e dificilmente saem da casa onde foram feitos. Vestem branco em sua grande maioria. Alguns usam cores verde bem clarinho, prateado, ou tecido liso com o arco-íris estampado. Seus fios de conta variam de acordo com cada Vodum, não existe um modelo padrão.
Dan – É o vodun da riqueza, bastante popular na Religião Fon. É representado por uma serpente que se rasteja e se esconde na terra, mas que ascende ao céu na forma de arco-íris, sendo chamado pelo título completo de Dan Ayidohwedo. Ele é um Ayi-vodun, ainda que possa ser associado aos Ji-vodun, pois diz-se que ele transporta Heviossô até as nuvens para semear as chuvas benfazejas. O culto de Dan é originário do província Mahi, no planalto ao noroeste de Abomei e, de fato, pode ser considerado o Tô-vodun, divindade nacional dos Mahi. No resto do país Fon, os noviços de Dan são chamados por isso de mahinu, e falam o dialeto mahi dentro do convento. No final da iniciação eles são chamados de lali, que têm somente metade da cabeça totalmente raspada ao término do processo de iniciação. O vodun Dan corresponde a uma família completa, onde existem 41 aspectos masculinos e femininos da divindade. Talvez por ser ligado à fertilidade e à riqueza, Dan possui muitos adeptos e iniciados que buscam suas benesses. Não pode ser confundido com Dangbê (Dangbê – É a píton sagrada, cultuada sobretudo em Uidá, no Benin, onde seu convento principal fica em frente a catedral católica.

VODUN AYSAN

Ayizan é um Vodum muito antigo, originário de Allada, segundo parece. Alguns dizem que foi levado para lá por Adjahuto, quando ele chegou de Tado. Outros afirmam que Ayizan já se encontrava na região antes de sua chegada e que ele representa “ a esteira da terra”, “a crosta terrestre”.

Ayizan é constituído por um montículo de terra, em cima do qual se coloca uma jarra com pequenos orifícios, rodeados por franjas de folhas de dendezeiro (Azan).
Ayizan é encontrado no mercado de grandes cidades, tais como Abomé e Ouidah. Ele é o guardião ou, mais exatamente, o senhor do mercado, o protetor da cidade, o dono da terra. Certas famílias têm um Ayizan particular, que as apóia, as dirige e castiga o mau procedimento dos filhos. É uma espécie de ancestral, “ a terra”.

No Brasil, quase não se fala mais desse Vodum.

ADJAHUTO
Adjahuto: é o fundador das dinastias reais de Allada, Abomé e Porto-Novo.
Existem diversas lendas a seu respeito. Todas elas coincidem ao situar a origem de Adjahuto em Tado, próximo ao rio Mono. Quase todas atribuem-lhe igualmente parentesco com uma pantera chamada Agusu. Em algumas dessas lendas é uma pantera macho que teria tido relações amorosas com a mulher do rei de Tado; em outras, foi o rei de Tado quem teria desposado uma fêmea de pantera, metamorfoseada em mulher. Nos dois casos, o fruto dessas uniões teria sido o futuro Adjahuto. Ele assumiu esse nome, que significa o matador de Adja, por ter dado a morte a um de seus irmãos, durante uma briga pela sucessão ao trono de Tado. Obrigado a fugir, ele foi fixar-se em Allada com seus partidários.
Algumas gerações mais tarde, no século XVII, ocorreu uma cisão entre seus descendentes. Um deles, Dako Donu, foi fundar o reino de Abomé, um outro, Te Agbanlin, o de Porto-Novo, e o terceiro permaneceu em Allada.
Todos os anos realizam-se cerimônias pelos descendentes do rei de Allada. O rei de Porto-Novo e a família dos antigos reis de Abomé enviam representantes para honrar a memória do antepassado comum.
O túmulo de Adjahuto, está em uma floresta bem perto de Togudo, onde se encontra o palácio dos antigos reis de Allada.
Os asen do fundador da dinastia são fincados no chão, diante do seu túmulo. As sacerdotisas de Adjahuto vão procurar água no riacho sagrado Sodji. As cerimônias realizam-se na mesma maneira que a dos Tọhosu, descritas adiante, porém com maior sobriedade.
O ritual instituído pela adoração e pelas oferendas a Adjahuto serviu de modelo ao ritual seguido para as cerimônias dos reis e dos membros das famílias reais descendentes do filho da pantera, vindo de Tado.
No Brasil, o nome Adjahuto é conhecido na Bahia, em certos terreiros Djèjè, em São Luís do Maranhão prestam-lhe culto na Casa das Minas. Seu nome é citado por Nunes Pereira e ele assinala: “Existe o vodun Ajauto, que jamais se abaixa, pois, embora velho, ainda se considera poderoso e indomável.” Os membros do terreiro da Casa Grande saúdam-no assim: “Ajauto ja la da na!”.

RELAÇÃO COM OS ELEMENTOS DA NATUREZA

Os Ayi-vodun são os voduns da terra, considerados de extrema importância na mitologia fon por controlarem a fertilidade da terra, as doenças e a duração da vida, enfim, a própria morte. O chefe dos Ayi-vodun é o vodun Sakpatá o Rei do Mundo, senhor da terra e da varíola. A família deste vodun é numerosa e seu culto bastante disseminado entre os Ewe-fon, da mesma forma que o culto de Ayizan, também pertencente ao segmento dos Ayi-vodun, como também Dan e Dangbê. Aparentemente, os Ayi-vodun são os que tem mais iniciados dentro do culto vodun.

Mawu é o Ser Supremo dos povos Ewe e Fon, que criou a terra e os seres vivos e engendrou os voduns, divindades que a (Mawu é do gênero feminino) secundariam no comando do Universo. Ela é associada a Lissá, que é masculino, e também co-responsável pela Criação, e os voduns são filhos e descendentes de ambos. A divindade dupla Mawu-Lissá é intitulada Dadá Segbô (Grande Pai Espírito Vital).
Loko, É o primogênito dos voduns. Representado pela árvore sagrada Ficus idolatrica ou Ficus doliaria (gameleira branca).
Gu, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.
Heviossô, Vodun que comanda os raios e relâmpagos.
Sakpatá, Vodun da varíola.
Dan, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.
Agué, Vodun da caça e protetor das florestas.
Agbê, Vodun dono dos mares.
Ayizan, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.
Agassu, Vodun que representa a linhagem real do Reino do Daomé.
Aguê, Vodun que representa a terra firme.
Legba, O caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas a sexualidade, o guardiao da entrada do Hunkpame.
Fa , Vodun da Adivinhação e do destino.
Os voduns na África são agrupados em “famílias” chefiadas por um vodun principal, ora representando um elemento ou fenômeno da natureza, ora da cultura. Existem basicamente 4 famílias principais:
Os Ji-vodun , ou “voduns do alto”, chefiados por Sô (forma basilar de Heviossô).
Os Ayi-vodun , que são os voduns da terra, chefiados por Sakpatá.
Os Tô-vodun , que são voduns próprios de uma determinada localidade (variados).
Os Henu-vodun , que são voduns cultuados por certos clãs que se consideram seus descendentes (variados).
No Brasil os voduns são cultuados nos terreiros de Candomblé, sobretudo nos da Nação Jêje, onde ainda se conserva alguma lembrança da divisão por famílias.
A iniciação ao culto dos voduns é complexa é longa e pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetido a uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.
Sé-medô (Princípio da Existência) e Gbé-dotó (Criador da Vida). Mawu representa o Leste, a noite , a Lua, a terra e o subterrâneo.Na iconografia, ela é representada como uma anciã, trajada apenas de um pano cingindo-lhe a cintura, caminhando apoiada num cajado na mão direita e levando um bastão encimado por uma lua crescente com as pontas para cima, na mão esquerda
Éwé é um grupo étnico da África Ocidental, que vive no Gana, Benin e Togo. Pertence ao grupo dos Kwa. Ver Éwés.
A língua éwé é a língua falada pelo povo éwé.
O nome de Mawu foi utilizado para denominar o Deus Único dos judeus, cristãos e muçulmanos nas línguas ewe-fon, mas dentro de culto dos voduns, Mawu possui seus próprios conventos pelo sul do Benin e do Togo, com culto organizados, sacerdotes, iniciados, etc., como qualquer outro vodun.

Lissá está também ali presente, assim como o filho “problemático” Aguê. Os mawunon (sacerdotes de Mawu), apesar da aparente importância da divindade que cultuam, não têm nenhuma ascendência especial sobre os sacerdotes de outros voduns. Suas cores emblemáticas são o branco, o azul e o vermelho.

População do sul do Benin e sul do Togo, cuja origem mítica está entre os adjá. Os fon possuem como características o uso da língua Fon, e sua maior expressão histórica, política e social do povo se expressou no Benin através do Reino do Daomé e na Diáspora através do vodu.
O complexo cultural expressado tanto pelo vodu como pelo Reino do Daomé possui uma origem mítica na cidade-reino adjá de Tadô ou Sadô, onde uma filha solteira do rei, ao dirigir-se à floresta sozinha para realizar uma tarefa encontrou-se com um leopardo encantado. Ao retornar à cidade, descobriu-se grávida e a paternidade da criança foi atribuída ao leopardo. Como entre os adjá o sangue da mãe também enobrece, esse filho do leopardo, kpòvi e seus descendentes constituíram-se em uma nova linhagem real. Entretanto, o filho do leopardo ficou sendo conhecido na posteridade pelo cognome de Agassu, o bastardo, e seus descendentes por isso sempre eram preteridos no sistema sucessório de Adjá-Tadô, ainda que herdassem a bravura e ousadia de seu ancestral animal.
Um dia porém, os kpòvi, mais uma vez excluídos, se revoltaram contra a escolha do sucessor no trono de Adjá –Tadô. Eles e seus partidários se armaram e, após uma violenta refrega, muitos cadáveres tombaram de lado a lado, inclusive o do rei escolhido. O chefe dos kpòvi, Kokpon por esta razão, ficou sendo conhecido comoAdjá-hutó, o matador de adjás, e ele junto com seus partidários tiveram que partir para o exílio, uma vez que perpetrou o delito de maior lesa-majestade que é o de amaldiçoar a terra com o derramamento do precioso sangue real.
O êxodo dos kpòvi e seus seguidores, após várias peripécias, deteve-se em Aladá, onde Adjá-hutó Kokpon fundou uma nova dinastia de governantes até que o falecimento um rei também chamado Kokpon dá lugar a uma guerra de sucessão entre seus três herdeiros: Medji, Té-Agbanlin e Ahô-Dakodonu. Medji permanece em Aladá e dá continuidade à dinastia local reinante; Té-Agbanlin dirige-se para o leste, onde funda uma nova dinastia em Adjaxé (Porto Novo) enquanto que Dakodonu segue para o norte com seu irmão Ganiehessu e, após algumas peripécias, busca alojar-se com seus ferozes seguidores entre a população de língua iorubá dos iguedê (guedevi) e mata seu rei Agli, dizimando seu povo, escravizando mulheres e crianças, os quais mais tarde são vendidos aos portugueses. Funda ali uma nova dinastia.
Na mitologia fon são os voduns do alto, muito respeitados no panteão vodun por estarem ligados ao ciclo das chuvas que possibilitam as colheitas, e é uma grande família cujo chefe é simplesmente chamado de Sô.
Sô é filho de Aguê e Mawu e teve como parceira sua irmã gêmea Agbê, da qual nasceram os Sovi (filhos do fogo), os machos Heviossô, Aklonbé, Adjakatá, Gbadé, etc. e as fêmeas Sinmenu-Sogbô, Naeté, Aden, Keli, Gbewessú, etc., e a caçula mimada Avlekete. Todos eles representam aspectos da tempestade, produto do turbulento acasalamento concreto entre o fogo e a água.
Ague
Vodun da terra firme na mitologia fon, filho de Mawu e Lissá, e se enamorou da própria mãe, e gerou filhos com ela (dizem que Aguê a violou). Ele não tem culto individualizado nem vodunsis. É cultuado no convento de seus pais e seu altar é um montículo de barro entre os de Mawu e Lissá
. Agbe: É o Vodun do mar (está entre os Tovodun). Ele também é conhecido comoHu. Ele é representado por uma serpente, um símbolo que representa tudo que é vitalício. Uma de suas crianças poderosas é Dan Toxosu, que manifesta sua própria imagem, nos nascimentos de bebês de monstro, pois os Fons consideram, que crianças com deformidades, são protegidos por Tohosu ou Toxosu(ler-se – Torrossu).

Xêvioso (ou Xêbioso): É o Vodun do céu (esta entre os Jivodun) que se manifesta em forma do trovão e raio. Ele é segundo filho do Mawu e é considerado um Vodun de justiça que castiga ladrões, mentirosos, criminais e fazedores do mal(feiticeiros e injustos também). Seu símbolos são o raio; o machado duplo; o carneiro; a cor vermelha e fogo. Xêvioso tem vários filhos inclusive Sogbo, Aklobè e Avlékété.
Avlekete (ou averekete) é a filha caçula de Agbê e Sô era como chamavamKhevioso, Hevioso ou Heviossô
É cultuada no Xambá como Afrekete.
Loko
Também chamado de Atinmé-vodun (o vodun dentro da árvore), representa o primeiro ser sagrado do mundo, por isso considerado o primogênito de Mawu e Lissá, muito embora Sakpatá seja muitas reconhecido com esta atribuição. Loko é cultuado em toda parte, tanto pode ser um Ji-vodun, como um Ayi-vodun, assim como também Tô-vodun e Henu-vodun. Os vodunsis de Loko em muitos casos têm os cabelos raspados apenas na metade esquerda do crânio, e levam nas costas a atchina. Os Atinmé-vodun podem habitar diferentes espécies de árvores, mas suas favoritas são mesmo o lokotin (Ficus doliaria, a gameleira branca, no Brasil; Chlorophora excelsa, na África) e o huntin (Ceiba petandra, conhecida no Brasil como sumaúma de várzea), mas pode também eleger outras como o detin (Elaeis guineensis, o dendezeiro), o kpentin (Carica papaya, o mamoeiro).
oloje iku ike obarainan

.............Rivalidade entre Orumilá e Ossain...........

Orunmilá (Eleri Ipin), o testemunho do destino dos seres humanos, está precisando de um criado. Ele vai ao mercado e, entre os escravos que estão à venda ele escolhe Ossain. Manda-o desmatar o campo para preparar as novas plantações. Entretanto, para desespêro de Orunmilá, Ossain volta, à noite, sem ter cumprido sua ordem. Orunmilá o peergunta por que nada fez. Ossain lhe responde:

"Todas essas plantas, estas folhas e estas ervas têm virtudes. Elas não podem ser destruídas. Esta folha por exemplo, acalma as dores de dentes; esta outra, protege contra os efeitos de trabalhos maléficos; esta outra, ainda, cura a febre. Impossível, em verdade, arrancar plantas tão necessárias à saúde e à felicidade!"

Orunmilá, impressionado, decide que Ossain deverá, a partir de então, permanecer ao seu lado durante as sessões de adivinhação, para guiá-lo na escolha dos remédios que deverá prescrever a seus consulentes. Uma surda rivalidade se estabelece, pouco a pouco, entre esses deuses. Ossain, sofrendo por ser mantido em submissão, se vangloriava de ser mais importante que Orunmilá, pois ele possuía o poder da magia mortal e dos medicamentos que preparava. Ossain chegou a declarar ao rei Ajalayé que ele viera ao mundo antes de Orunmilá e, sendo mais antigo, tinha direito a seu respeito. O rei Ajalayé envia, uma mensagem a Orunmilá. Ele quer saber, entre ele e Ossain, qual é o mais importante dos dois. Orunmilá responde ser ele mais antigo que Ossain. O rei decide submetê-los a uma prova. Ele os convoca, acompanhados de seus primogênitos. Orunmilá chega com seu filho chamado Sacrifício. Ossain apresenta-se com o seu, chamado Remédio. Os dois serão enterrados durante sete dias. Aquele que sobreviver à provação e responder primeiro, com uma voz clara e forte, ao chamado que será feito, no fim do último dia, verá seu pai ser declarado vencedor.

Duas covas foram abertas. Sacrifício e Remédio foram colocados dentro e as covas firam fechadas. Orunmilá, voltando para casa, consultou Ifá. "Meu filho estará ainda vivo, passados os sete dias?" Ifá aconselhou-o a oferecer muito ekuru - um prato saboroso, bolo de feijão, pimenta, um galo, um bode, um pombo, um coelho e dezesseis búzios da costa. Orunmilá preparou a oferenda. Ela foi colocada em quatro lugares: na estrada, numa encruzilhada, diante de Exú e no mercado. Exú exerceu seu poder sobre o coelho sacrificado. Este ressuscitou e cavou um buraco que foi terminar na cova de Sacrifício, o filho de Orunmilá. Assim, o coelho levou alimento para ele.

Remédio, o filho de Ossain, nada tinha para comer. Mas ele possuía alguns talismãs, que agiam sobre a terra e lhe permitiram, assim, encontrar Sacrifício no fundo da sua cova. Remédio pede-lhe comida. Sacrifício responde: " Ah! Como posso eu, filho de Orunmilá, dar-lhe comida, quando há uma disputa em jogo? Tu não vês que assim causarás o sucesso de Ossain, estando vivo para responder ao chamado que será feito no fim dos sete dias?" Remédio insiste e promete a Sacrifício permanecer calado quando for feito o apêlo. Sacrifício, então, dá de comer a Remédio.

E chegou o final da prova. Os juízes chamam o filho de Ossain: "Remédio, Remédio, Remédio" Eles chamam em vão. Remédio não responde. "Bem! Remédio está morto", concluem eles. Chamam, em seguida, o filho de Orunmilá: "Sacrifício!" Imediatamente, escutam um forte sim. Sacrifício está são e salvo! Remédio sai, em seguida, igualmente vivo. Ossain pergunta ao filho a razão do seu silêncio, quando foi chamado o seu nome. Remédio narra o pacto feito com Sacrifício. Comida contra silêncio!

Este pacto tornou-se provérbio: "Sacrifício não deixa Remédio falar." Significando que Sacrifício é mais eficaz que Remédio. Razão pela qual, Orunmilá tem uma posição mais elevada que Ossain

Babá Dankó
Babá Dankô é o Senhor dos grandes bambuzais! Orixá Funfun e que vem sempre em socorro nos momentos de cruciais, entre a vida e a morte. Babá Dankó é um Orixá do Ketu, ligado a linhagem dos Ajagunãs (Oxaguians). O itãn de que ele encabeçou os Oloke ao pé de gameleira e que ele é um dos orixas fum fum.
Dizem que ele é um orixa mágico e raro, mora no bambuzal branco, que Onira lhe deu o atori e ele é o portador real do atori que vive mais do lado dos mortos do que dos vivos, que é o único que tem o poder de punir e absorver qualquer um.
Para alguns antigos zeladores, não se inicia-se ninguém para este Orixá, existem fundamentos especiais para as pessoas de Babá Dankó, pois ele não pega a cabeça do iniciado, até por que, sua liturgia não permitiria. Quem se faz é Oxaguiã, e o motivo de ser tudo muito vago é porque não há informação sobre feituras deste orixá, não é porque é raro ou deixa de ser raro é porque se trata de um dos fumfum e sendo assim ele não viram mesmo na cabeça de ninguém, e neste caso é substituído por Oxaguiã.
Esse Oxalá é o pai do nascer do dia, portanto o primeiro Orixá na essência da luz do sol. Babá Èpé é a síntese que reúne o equilíbrio e a luta/o pilão e a espada.
Asé ôô!!
oloje iku ike obarainan

Dankó veio logo após o casal Obatalá e Yemowo (Yemu), veio encabeçando os demais orixás funfun, juntamente de seu irmão Akafojiyan e ambos passaram a habitar o bambuzal branco. Junto com eles vieram Ogiyan, Olufon, Osafuru, Baba Ajala, Olufande, Ikere e os demais funfun. Lembrando que todos eles passaram por Olooke, o grande Orixa da montanha, que foi o primeiro elo entre Orun e Aiyê.

Orisá de grande poder e muito necessário para nosso convívio neste sistema, pois é o responsável por transformar as impurezas da terra em energia positiva. O bambu amarelo ou branco o representa e é por este arbusto que Danko realiza sua tarefa, absorvendo por suas raízes e emanando por suas longas hastes. É por este arbusto que Eegun, os ancestrais masculinos, podem entrar e sair de sua morada, dizem que a casa subterrânea e inalcançável dos mortos fica logo abaixo das raízes de Danko, pois atribuímos este mesmo nome ao bambuzal. Este Orisá é ligado a Oya e Osumare.
oloje iku ike obarainan

Efon
Uma casa, uma nação

Falar de uma nação de Candomblé no Brasil e sua origem, assim como a origem de qualquer casa antiga é sempre muito difícil, pois nos primórdios dessas casas não haviam registros escritos, tudo era transmitido oralmente e com isso fica muito difícil fazer um estudo exato de como tudo começou.

De uma forma simples e resumida tentaremos contar a história da casa que é o berço dos Efon no Brasil, o "Asé Yangba Oloroke ti Efon" ou simplesmente como é chamado o Terreiro do Oloroke situado à Rua Antonio Costa (antiga travessa de Oloke) nº 12, no bairro do Engenho Velho de Brotas - Salvador - Bahia, para que quando alguém ouvir falar de nosso Asé, saibam quem somos e de onde viemos.

Em primeiro lugar vamos à origem na África, mais exatamente em Ekiti-Efon (não confundir com Ile Ifon, a terra de Osalufon) de onde vem um termo muito usado entre os Efon no Brasil "Lu Lokiti Efon" e onde reina absoluta aquela que é a rainha da nação no Brasil, Efon, ou seja, Osun, pois é bom esclarecer que Osun, nossa matriarca, é nascida em Ekiti-Efon, onde ela era considerada a mãe de Yemonja e do Awujale de Ijebu-Ere, no estado de Ekiti (Onadele Epega). Para concluir podemos traduzir o nome da divindade Efon dos tempos Lailai como sendo Osun, nome de seu rio e onde guardava seus tesouros, companheira inseparável de Oloroke que é seu pai, ficando assim esclarecido o porque da casa chamar-se terreiro do Oloroke e Osun ser a dona do Asé, sendo ele louvado juntamente com Osun nos nossos principais ritos.

Pois bem, foi desta localidade, que veio para o Brasil na condição de escravos por volta de 1850 um Tio Africano conhecido como Baba Irufa, filho de Osun e iniciado para Ifa, portanto um Babalawo que no Brasil passou a chamar-se José Firmino dos Santos ou tio Firmo, juntamente com uma princesa do Ekiti-Efon de nome Adebolui iniciada em sua terra natal para o orixá Olooke, que no Brasil passou a chamar-se Maria Bernarda da Paixão, a Maria Violão, alcunha que ganhou por ter um corpo muito bonito, e é dito ainda por uma fonte do Axé Pantanal do falecido Cristóvão Lopes dos Anjos, que veio ainda junto com eles uma filha de Tio Firmo que atendia pelo nome de Asika, a existência desta Asika não é confirmada em Salvador por algumas pessoas antigas ligadas ao Asé. Existe uma outra possibilidade de que Baba Irufa e Asika sejam a mesma pessoa, sendo Baba Irufa seu titulo de Ifa e Baba Asika seu nome ou ainda um outro titulo.

Mesmo antes de serem libertos já promoviam encontros e participavam de encontros, pois faziam parte da Irmandade da Igreja da Barroquinha (pesquisa de campo em Salvador) onde se reuniam os fundadores da Casa Branca do Engenho Velho e segundo pessoas antigas, Maria Bernarda da Paixão era prima carnal da primeira Yalorisa da Casa Branca.
bahia1.jpg
Por volta de 1860 Tio Firmo e Maria Bernarda fundam o Asé Oloroke no endereço acima citado no engenho velho de Brotas, onde encontra-se até hoje, plantando ali o Asé de Osun e com isto além de fundar uma casa fundam também a Nação Efon.
Mais tarde tio Firmo passa a viver maritalmente com Maria Bernarda da Paixão que era sua governanta e passam a dividir as funções do Asé. Acredita-se que nesta época ambos já eram libertos.
Os Igbas ou assentamentos dos orixás foram trazidos da África e estão até a presente data preservados no Ile. La encontra-se a Osun de Tio Firmo e Oloke de Maria Bernarda entre outros.

Apesar da libertação dos escravos, a perseguição a cultos Afros foi intensa e conta-se que Tio Firmo foi preso por várias vezes.
A árvore do Iroko, um dos símbolos da casa, foi plantada após a libertação dos escravos, mas bem no final do século XIX, e a muda do Iroko veio da Casa de Osumare. Outra história interessante do Iroko do terreiro do Oloroke, é que onde ele foi plantado era caminho das pessoas, pois ainda não haviam muros nem cercas e foi debaixo do Iroko da casa, que a finada Mãe Runho da nação Jeje deu a luz a Nicinha Lokosi e esta informação pode ser confirmada por Nenê de Osagiyan neto carnal de Runho e por outros antigos ligados ao Bogun.

Por volta de 1905 morre tio Firmo que ainda em vida já tinha passado a casa para Maria Violão, sendo esta a segunda pessoa a sentar-se como mãe da casa.
Maria Violão iniciou várias pessoas entre os quais podemos citar Mãe Milu que foi a Ya kekere do Asé, Matilde de Jagun (Baba Oluwa) sua sucessora e terceira mãe da casa, Cristóvão Lopes dos Anjos de Ogun Já, Ogan e mais tarde Asogun sendo também o Olowo do Ile e a quarta pessoa a governar o Asé, Celina de Yemonja (esposa de Cristóvão), Paulo de Sango, filho carnal de Mãe Milu, Crispina de Ogun, a quinta pessoa a governar o Asé, e muitos outros.
bahia2.jpg
No dia 4 de outubro de 1936 morre Maria Bernarda da Paixão aos 94 anos de idade.
Após muitas divergências assume a casa Matilde de Jagun, Baba Oluwa, que fez muitos iyawo entre os quais Noélia de Osun e Emiliana também de Osun. Mãe Matilde vem a falecer no dia 30 de outubro de 1970 aos 67 anos de idade.
Após o falecimento de Matilde quem assume a casa é Cristóvão de Ogun que faleceu no dia 23 de setembro de 1985 aos 83 anos de idade. Após a morte de Cristóvão, graças ao esforço de Maria de Sango (sua herdeira no Asé Pantanal), sentou-se na cadeira de Yalorisa do Terreiro do Oloroke, Mãe Crispina de Ogun e Mãe Maria de Sango foi quem dirigiu os ritos de posse da nova Yalorisa. Após a morte de Mãe Crispina, a cadeira está a espera de uma nova Yalorisa até a data de hoje.

Bem, não podemos nos esquecer de duas casas tradicionais de Efon a quem nós, os Omo Efon, devemos muito. Uma das casas já completou 50 anos de fundação, é o 'Asé Pantanal' como é conhecido e dirigido pela Yalorisa Maria de Sango. A Outra casa que também é um reduto de Efon é o "Ile Ifa Monjé Gibanawe" do conhecido Babalorisa Alvinho de Omolu.

Aqui esta um pouco de nossa história, e aproveitamos o ensejo para desejar a todos os filhos, netos, bisnetos e todas as gerações do Asé assim como aos amigos e simpatizantes, sejam felizes, convivam com paz e harmonia e muita fraternidade na graça de Osun e Oloroke. Asé a todos.

Lu Lokiti Efon
Lokiti yemi
Lokiti yemu
Lokiti awo
Cantigas

As cantigas (orin) e oriki dos orisa sempre foram de difícil tradução, pois os africanos que as trouxeram para o Brasil não deixaram nada registrado em escrita e as palavras foram passando por transformações, pois se aprendia o que se ouvia.

Através de um árduo estudo, conseguimos traduzir uma grande quantidade de cânticos da nação Efon e hoje podemos dizer que no Asé Oloroke Oba Orun Olosunta sabemos muito bem o que cantamos.
Estamos expondo aqui uma ínfima parcela de nosso arquivo, esperamos com isto estar colaborando com o estudo e o aprimoramento das pessoas interessadas em nossa cultura.

• A injo o layó A njo o la (a)yó
Omo efan farayó Omó Éfón fa (a)ra (a)yó

Nós dançamos com alegria
Os filhos de Osun estão cheios de felicidade


• Me mo injó M(i)e mo njó
Me mo inko M(i)e mo nk(i)oo
A orun male ixê A oro wun malé ise
Ara oro ara oro

Vamos dançar
Vamos saúda-la (Osun)
Nós gostamos e faremos a cerimônia aos orisa (imalé)
A cerimônia é de nossa gente.


• Aira oke a yi(a)ra oke
Oloroke Oloroke
loroke loroke loroke loroke

Nosso povo esta na montanha
Oloroke
Senhor que recebe suas oferendas na montanha
Senhor que recebe suas oferendas na montanha


• Aira da gbe de orun a yi (a)ra nda gbe de oro wun
Aira da gbe de orun a yi (a)ra nda gbe de oro wun

Nosso povo cobriu-se e chegou fazendo a cerimônia
Nosso povo cobriu-se e chegou fazendo a cerimônia


• Oloke me mole xinxe Oloke me imole s(e)hin (o)se
Axe boxe (E)kiti Ase b'ose (E)kiti

Oloke orixá adorado na árvore Oxe (Baoba)
Axé que cultuamos e adoramos ao pé da árvore Oxe (Baoba) no Ekiti

Obs: esta cantiga mostra claramente que a verdadeira árvore onde oloke é cultuado é a árvore Ose e não o Iroko, sendo ambos dois orisa distintos. A árvore Osé (baoba) é considerada uma verdadeira montanha, pois é a árvore de vida mais longa do planeta, podendo viver até 6000 anos.
oloje iku ike obarainan

Olooke, Oloroke, Orisa-Oke

Entre os Orisa e os Ebora existe um chamado Orisa-Oke.
Entre todos os oke existe um mestre muito importante de nome Oloke, o dono e senhor das montanhas e anteriormente existiam vários outros Oke junto com ele. Eles também são muito importantes e não se deve brincar com eles, pois são a justiça acima de qualquer coisa. Sua importância se deve muito ao fato de que todos os orisa que chegaram no tempo da criação, desceram na terra por intermédio de Oloke, pois Oke foi a primeira ligação entre òde-orun e òde-aiye, sendo que ele foi a primeira terra firme, uma montanha que elevou-se do fundo do mar a pedido de Olodumare e com a ajuda de Oroina (não confundir com Oraniyan) e resfriada por Olokun..

Conta o mito dos tempo da criação que no principio do mundo, só reinava Yeye Olokun, a deusa do oceano avó de Ya Olokun e bisavó de Yemoja, e Olodumare, o deus supremo estava aborrecido com tanta monotonia de só haver água cobrindo tudo, então ordenou a Oroina, o fogo universal, matéria de origem do sol, a lava vulcânica contida nas entranhas da terra, a fazer surgir com a força vital da existência que lhe deu Olodumare a primeira colina do fundo do mar que cresceu em forma de um vulcão em erupção lançando lava que Oroina, com a ajuda de Oloke, Aganju, e Igbona, traziam das profundezas da terra e que eram resfriadas por Olokun. Foi assim que nasceu Oke, a montanha, divindade que também é conhecida como Oloke, o dono e senhor da montanha.

Logo Olodumare, o universo com todos os seus elementos, reuniu todos os demais orisa funfun em Oke e determinou a cada um o seu domínio na criação da vida.
Chegaram primeiro Obatala e Yemu (Oduaremu).
Após a chegada de Obatala e sua esposa Yemu chegaram os outros orisa funfun sendo um muito especial Akafojiyan que com seu irmão Danko (ou Ndako) encabeçou os demais vindo a frente e este ultimo passou a habitar os bambuzais branco. Chegaram Ogiyan, Olufon, Osafuru, Baba Ajala, Olufande, orisa Ikere e todos os demais orisa funfun.

Após a chegada dos orisas era a vez dos Ebora que tendo à frente o ebora losiwaju, Ogun Alagbede Orun o Ogunda Osi e os demais ebora e a cada um foi dada por Olodumare uma função na terra.
Sem Oloke nenhuma divindade teria chegado na terra e sendo ele a primeira terra firme, sempre se deve recorda-lo e fazer-lhe oferendas, pois o que aconteceria se ele resolvesse voltar para Okun. Epa mole.

Oloke é a colina, tudo que é elevado e alto, a lava vulcânica também lhe pertence e é a divindade de todas as montanhas da terra, sendo ainda a força e o guardião de todos os orisa, é inseparável de Obatala e muitas vezes fala por sua boca, é por isto que quando se inicia um Osala velho deve-se por uma criança para cria-lo em virtude de Oloke ser um menino a criança o representaria perante Obatala na iniciação. Obatala e Olofin moram ao lado de Oloke no alto da montanha.

A arvore Ose (Baoba) é também sua representação e seu arbusto de culto, pois a grandiosidade do Baoba, sua altura, sua magnitude, a idade de até 6000 anos que pode viver, sua solidez faz dela a arvore escolhida por Oloke para seu culto. No Brasil por existirem poucos Baoba passou-se a cultuar Oloke ao pé da gameleira branca que serve de culto também para Iroko, mas um orisa não tem nada em haver com o outro e é bom lembrar que a arvore Iroko também não existe no Brasil e a gameleira lhe foi adaptada para o culto da divindade cujo verdadeiro nome é Oluwere, nome que poucos conhecem no Brasil, onde o orisa tomou o nome da arvore onde é cultuado.

As oferendas de Oloke consistem em carneiros, galos, conquem, pombos, certa espécie de peixe, feito de uma maneira especial e boi, come ainda amala, feito também de maneira especial, certa espécie de feijão, eko, e milho branco e sua comida principal são folhas recozidas de Oniapaja, sempre com muito cuidado uma vez que Oniapaja é altamente urtigosa. Em épocas difíceis na África lhe era oferecido nos tempos antigos, a exemplo de muitos orisas um ser humano ainda criança ou ainda recém-nascido e em certos lugares de culto existiam mulheres que geravam filhos para serem ofertados ao orisa e eram escolhidas aquelas que geram mais gêmeos pois nas aldeias em que ele era cultuado quando acontecia o nascimento de gêmeos um deveria ser sacrificado para o orisa e o outro seria consagrado a ele. Atualmente esta pratica foi abolida e não se tem noticia se no Brasil chegou a ser praticada.

Em pesquisa de campo, segundo o Antropólogo Andrew Apter, Phd da Universidade de Chicago, e que presenciou o festival de Oloke em Ayede Ekiti, declara pelo que pôde ver que este orisa é muito próximo de Obatala. Seus ewo são os mesmos de Obatala. Na África, até os dias atuais este orisa é tido por muita importância sendo muito temido e seus festivais anuais, o “SEMUREGEDE”, atraem grande numero de fieis e estes acreditam que Oloke trará prosperidade e paz pelo ano todo.

Seus ritos são sete e dois deles são os pontos culminantes que é a oferenda no arbusto na floresta sagrada e sua saída a rua acompanhado de seus adoradores onde as pessoas prostram-se com a cabeça no chão em sinal de grande respeito e temor perante um orisa tão poderoso. Os não iniciados escondem-se dentro das casas e as mulheres grávidas assim como crianças que não fazem parte do Egbe devem esconder-se em casa. O “Apenon”, cargo da casa de Oloke, é quem sai à sua frente empunhando um grande atori ou Isan com o qual ele afasta as pessoas e abre o caminho para que o orisa passe. “Aboke” outro cargo da casa de Oloke e que raramente aparece em publico tendo apenas função interna neste dia poderá acompanhar o cortejo e será a única vez que estará em publico. Baba Elejoka é aquele que pode dirigir-se a Olooke e conversar, fazer pedidos a ele.

Nota: No “Ase Oloroke de Bauru este ritual é vivido todos os anos quando acontece o grande festival “OJOKEREGEDE” em honra a Oloke onde podemos ver Olooke Ijero, a qualidade de Oloke da casa e seus Oyes num grande festival.

Oloke é o guardião de muitos povos no Ekiti, e lá estão localizadas as maiores rochas onde se praticam seu culto. As mais notáveis destas rochas e montes ficam nas cidades de Okiti- Efon, Ikere-Ekiti e Okemesi-Ekiti. Nobres entre eles são os montes de Okiti-Efon no limite ocidental com o estado de Osun e próximo a Osogbo, Ikere-Ekiti na parte sul, e montes de Ado-Ekiti na parte central. Mais um detalhe que deve ser citado é que a palavra Ekiti vem de “Okiti” [Ok(e)iti] e quer dizer montanhas esplendorosas.

A lenda da criação continua:
Quando tudo já estava funcionado com cada orisa e ebora com suas funções sendo executadas eis que Olokun julgou que havia sido prejudicada perdendo espaço para as outras divindades e então Olokun resolveu retomar o espaço que ocupava anteriormente invadindo as terras. Muitos seres que já haviam sido criados morreram com ira de Olokun.

Olodumare vendo o que estava acontecendo novamente deu ordens a Oroina, Aganju, Igbona e Oloke para que fizessem uma cadeia de montanhas que isolasse Olokun em seu espaço e assim com a força destes orisas as montanhas isolaram Okun mas Olokun insistia em invadir desafiando assim as ordens de Olodumare.

Olodumare enfurecido condenou Olokun a viver nas partes mais profundas do Oceano e ainda a acorrentou dando a ela um mensageiro que era uma grande serpente marinha de tamanho nunca antes visto. E deu a Olokun uma Ilha onde sua mensageira viria receber as oferendas para levar até Olokun. Após muito tempo nesta situação, já com a terra e a criação reconstruída, Olokun pediu a Olodumare que a deixasse livre mas os seres que viviam na terra deveriam lhe fazer uma oferenda diária de um ser humano em troca do espaço perdido e que lhe pertencia.

Olodumare julgou justo e concordou mas ela deveria permanecer no fundo de Okun e apenas de tempos em tempos poderia vir à superfície em sua ilha e quanto às oferendas diárias, seria a grande serpente, sua mensageira quem lhe entregaria e escolheria a vitima do sacrifício.

É por isto que até os dias de hoje todos os dias o mar leva um ser humano e por vezes vários, mantendo assim Olokun apaziguada.
Com a invasão de Olokun os primeiros seres que haviam sido criados foram todos tragados pelas águas, mas estes primeiros seres eram defeituosos e mal acabados pois eram as primeiras experiências dos orisas que puderam então fazer seres mais aprimorados que desenvolveram as civilizações.

Oloroke (Oloke) apaixonou-se por Olokun e desta união nasceu “Ye ye Yagba Efon”, que criou a água doce formando assim o primeiro curso d’agua que mais tarde passa a ser chamado de Rio Osun numa clara homenagem a Efon que o criou.
Osun = Osoun = aquela que é próvida de muita beleza.
Oloke criou vários lugares para sua adoração, mas sua cidade principal foi Okiti Ikole onde era adorado em um grande Ose (baoba). O Okiti, atualmente estado de Ekiti, é seu grande celeiro.

Conta um outro itan, do odu Ejiogbe, que o Oloke vivia pacificamente com seu povo na cidade de Ikere e de repente apareceu Esu para avisar que as tropas de Ifé estavam a caminho da cidade para uma invasão. O rei Oloke foi ao Babalawo da cidade e o odu que surgiu foi Ejiogbe determinando que Oloke fizesse um ebó de 16 feixes de búzios acompanhados de 16 peixes, 16 galos, 16 galinhas um carneiro que tivesse o chifre com a ponta para o alto e um cabrito. O cabrito deveria ser sacrificado na porta da cidade para Esu o portador da mensagem. O carneiro deveria ser sacrificado à arvore Ose que havia na praça da cidade e os outros ingredientes em volta da cidade em 16 pontos diferentes com o sacrifício dos galos e galinhas.

Seus súditos não deveriam usar nenhuma arma, apenas deveriam esperar na praça da cidade pacificamente. E foi o que Oloke fez, após a conclusão do ebó prescrito sentou-se no centro da praça em frente a grande arvore Ose acompanhado de toda sua gente e esperou pacientemente a chegada dos invasores.
Quando os invasores chegaram, um grande barulho se ouviu, a terra estremeceu e uma grande pedra de nome Osunta cresceu e levou o povo de Oloke para as alturas onde não podiam mais serem alcançados pelos invasores. Quando seu povo estava seguro no alto da montanha, Oloke se transformou em lava vulcânica e desceu montanha abaixo acabando com seus inimigos. Nesta montanha Oloke ficou conhecido pelo nome de Oloosunta, a divindade tutelar da montanha Osunta.

Existe um cântico do orixá que lembra bem esta passagem:

O Lor(i)ekun Omo dide
Wara wara
Si (o)ke si (o)ke
E lorekun lorekun
Wara wara si (o)ke si (o)ke
Lorekun lorekun
Lorekun omo dide

Os filhos estão em pé
Ele (Oloke) pegará a presa
Rapidamente a montanha se abrirá (como um vulcão)
Ele pegará a presa, pegará a presa
Rapidamente a montanha vai se abrir
Ele pegará a presa, pegará a presa
Seus filhos estão em pé (a salvo)

Os Oke são muitos, Oloke é o mestre de todos e entre alguns podemos citar: Oloroke, Oke Olumó, Oke Badan, Olookuta, Oloosunta, Ori Oke, Oke talabi, Olota, Oba Oke, Arira Oke, entre outros.

Oloke é o orisa que se encanta em um leão, o leão da montanha, “Ekun Oke” e quando furioso desce a montanha em forma de lava vulcânica e destrói tudo que encontra em seu caminho pois o vulcão também lhe pertence e Oroina, o fogo universal é sua matéria de origem que resfriada pelas águas de Olokun formaram estas grandes pedras de granito, Oke.

Neste contexto Oloke conduz os quatro elementos primordiais da natureza. O fogo por ser a lava vulcânica, a água da qual ele dependeu para que resfriasse e se tornasse uma montanha de granito, a terra que é a lava vulcânica ja resfriada e pode ser pisada e neste ponto ele divide com seu irmão Aganju tal poder e finalmente o ar sem o qual o fogo não é possível. Não pode-se esquecer que lava vulcanica quando contido na terra é Oroina, quando sai da terra é de Oloke, o fogo que caminha com ela é Igbona e quando se torna terra firme é Aganju, exeto estas grandes pedras de granitos que são Oke. Oloke veste branco e sabemos que o branco é o resultado da interação de todas as outras cores. E se a natureza por si só possui todos estes elementos quando o louvamos exclamamos “Epa mole” em respeito aos espíritos da terra.

O Odu Ifa que acompanhou Oloke ao mundo é Ofun meji e o Esu que os acompanhou é chamado de Esu Orangun também chamado de Esu Anan (Wonan)) um Esu muito velho e poderoso que é assentado em pedra serve Oloke, sua filha Efon (Osun) e também Obatala. A Esu Anan deve ser ofertado galos brancos. Este Odu é uma criatura branca complexa assim como este Esu e foi este Odu e este Esu que acompanharam Irunmolé Oloke ao mundo. Epa mole.

Não se pode esquecer que Oloke também é uma criatura branca complexa e sendo assim veste branco e seu rosto não deve ser encarado por nenhum mortal e o orisa também não quer ver os olhos das pessoas pois Oloke não confia nas pessoas e assim reserva-se debaixo de um Ala. Seu “ala” cobre todos os iniciados de Efon.

A iniciação deste orisa na maioria das vezes é feita com o iniciado ainda criança e quando a iniciação é feita para um adulto são necessários alguns cuidados especiais. Não poderá na iniciação faltar Ewe Ose sua folha principal e a arvore Ose será também de grande importância para uma iniciação uma vez que o rito do arbusto que é cheio de detalhes e segredos os quais não poderei revelar neste trabalho por entender que trata-se de algo muito secreto de um orisa que não é do domínio de todos e que por isto deve ser preservado. A oferenda no arbusto dará inicio a feitura mas não contará com a presença do Yawo pois ai esta sendo tratada a matéria de origem de Oloke e neste momento será oferecido um grande animal que cobrirá o ser humano de outrora.

Sendo um Orisa tão antigo e que participou do tempo da criação não se pode esquecer das Yami agbagba que serão lembradas e tratadas na mesma arvore e em outras seis. Só então começará a iniciação propriamente dita. Oluwa deverá receber oferendas para que assim se complete as oferendas das Yami Eleye. O poder de Yami foi-lhes dado por Olooke e por este motivo as mulheres, quando do festival Ojokeregede, devem ficar de cabeça baixa e agachadas não podendo olhar para Olooke sob pena de morte e também as Yami Osoronga tem respeito muito grande por este orisa uma vez que só ele pode lhes tirar o poder.

Oloke esta sempre presente nos festivais de Yeye Olokun e de Obatala. Seu toque principal no tambor “D’AGUA” é aguerrido e lembra muito o Aluja tocado para Sango, porém mais cadenciado pois na região Ijesa e Ekiti a dança é muito valorizada pela beleza, e os movimentos tornan-se mais lentos para que possam ser executados com muito mais graça. Ele dança também o ritmo Ijesa, isto tanto na África quanto no Brasil.

No festival de Oloke em todo Ekiti-ijesa, na semana que antecede o festival o Egun de Oloke é quem sai a rua para dançar. Na semana seguinte é o festival do Orisa reúne grande numero de fieis e em alguns ritos é proibido a presença de mulheres e crianças, pois, as mulheres não podem sequer tocar no igba do orisa , são consideradas escravas de Oloke e podem apenas cantar para ele e neste momento quem devem cantar são apenas as mulheres. As mulheres podem também serem iniciadas para Oloke, porém não podem por a mão no próprio assento de seu orisa tendo que imediatamente ser confirmado um homem que fará as funções.

No terreiro do Oloroke de Paulo de Efon todos estes fundamentos são observados menos a dança de Egun, pois neste asé, faz-se um oro ao egun de Oloke uma semana antes do festival anual do orisa e é o festival mais esperado de todo o ano litúrgico da casa onde Oloke, um dos mais antigos orisa da terra, abençoa todos os seus filhos e lhes dá proteção e abundancia por todo o ano.

Quanto ao tabu de mulheres por a mão no Igba do Orisa , não se deve faze-lo para que o orisa não perca suas forças e condene a mulher que assim agir.
Oloke não pode ter seu rosto visto pelas pessoas e ele também não quer ver as pessoas para não ter que castiga-las pois o orisa é muito justiceiro e todos podem mentir mas os olhos falam a verdade e sendo assim Oloke não confia em quem quer que seja por isto não olha para ninguém.

Um orisa acompanha muito Oloke ao ponto de levar em seu nome o nome do orisa é ele Ogun Oloke ou Ogun Oke pouco conhecido no Brasil. Este Ogun viveu em Ori-Oke ao lado de Oloke e é que da caminhos a Oloke. Isto pode ser confirmado em um Itan do Odu Ogunda:

Os vários orisa, como é dito
Cada um tem as áreas especiais onde habitam
Ogun é o deus do ferro, da guerra e dos viajantes
Foi ogun quem usou um facão para abrir o caminho quando os orisa estavam vido do Orun para este mundo.
Por isto, é acreditado, que os orisa o respeitam.
Mas ogun é muito agressivo para uma vida povoada.
Então ele foi para o topo de uma colina
Onde ele foi em busca de caça, farra, guerra e exploração.
Na montanha ogun conheceu Olooke, o dono da montanha,
e os dois caçavam juntos até que ele se cansou.
Quando ele decidiu voltar para a cidade de ile Ifé
Era difícil para ele adquirir uma casa para morar
Porque a face dele era terrível
Olooke acompanhou Ogun para maior desespero das pessoas.

OJO TI OGUN NTI ORI-OKE SOKALE
ASO INA L’O MU B’ORA
EWU EJE L’O WO

O dia em que Ogun estava descendo da colina
A face dele estava como fogo
E ele estava vestido em sangue

Ogun é chamado para clemências de jornada
Para caça abundante
E para se ter vitória em uma guerra
É Ogun o responsável pelas marcas faciais
Os outros orisa
Tem que respeitar Ogun.Olooke.

Neste Itan podemos ver que Ogun foi quem abriu os caminhos para Olooke vir para as terras baixas e participar do convívio das pessoas.

ODURA OLOOKE

· Ah,olooke se eyi o
eniyan ko o
ise eleduwa ni
ko se ba
mo ji gini,mo rin gini
mo rin gini gini wo ja
mo ba awon agbagba meta
agbagba meta to ti Ile-ife bo
mo ni bawo ni won se n se nibi
wo ni ire ni ko je temi
beeri mi ke yo mo mi
sese lo omode yo mo eye
mo di odindin mo wo lo mo.

· Omi dudu
Omi dudu
omi dudu fo ju jo aro
o fi oju jo aro
ko le ran aso
ko le ran aso
ko le ran awo
ko le fi ipa ran ebi awa

· Momori bale
Baba mi
Mon maa kare oke lere
Baba mi
Mon maa kare oke lere
Omo Olooke a to bo ro ré
Baba mi
Mon maa kare oke lere
Baba mi
Mon maa kare oke lere

· Mo fi ori bale
fun baba Oke
Oloroke
fun baba Oke
Oloroke
ORIKI OLOOKE

Òkè ládéokín ajíbíse
Òkè gbogbo è lomo
Dúdú n kóóró
A ní nla ìfun àjànàkú
A wá láyá ijá korikori
Òkú erin ti í ba àràbà lérú
Òkè ládéokín a bi aso kolà
Òkè ládéokín eléwú mònà mònà
Ayibíowú omo lájogun
Òkè kéé kèè kéé
Ni yíkè yíkè i yí
Ta ní lè yí sóbí
Ta ní lè yí Elegbaa
Ta ní lè yí Tèngbá
Ajíbíse Òkè baba Siè
Egbe akankú e jòwó
E má je kí Olooke o re òwu
Olooke ti ó re òwu kò dé
Olooke ti ó re òwu kò bò
E bá mi gbé omo Olooke
Lantí Lantì
Òkè kò ní ilé tíè lótò
Ìdí Obàtálá ní í gbé
Òkè ládéokín eléwú mònà mònà
Jojololá Ajíbíse
Òkè gbogbo è lomo

O orin que segue é para tirar Olooke no barracão ou para tirar uma Pessoa para receber um cargo da casa de Olooke. Neste momento só as mulheres podem cantar e as mesmas vão jogando seus Iborun ou pano da costa Branco no cão formando uma pasarela para o grande Orisa passar e as mesmas permanecem sempre agachadas e com olhar baixo.

Laye Olugbon
Iborun a lo
Oro n lo
Laye aresa
Iborun a lo
Oro n lo
Ori a e lo ta de lo ta de
Atare a loko losun
Fa doko ikiko
Eleda iluran
Eniya gbo o
Eleda iluran

Laye olugbon
Mo gbe iborun meje
laye aresa
mo gbe iborun mefa
laye akanda
Mo ra koko, m ora aran
mo egbirin baba aso
afi ole,lo le pe ile yi o dun
mo tu ju gbogbo won lo
oloje iku ike obarainan