Nomes
As religiões Afro-americanas foram transmitidas como parte de uma tradição oral longa, há muitas variações regionais no nome da Deusa.
- África: Yèmọnja, Ymoja, Iemanja Nana Borocum, Iemanja Bomi, Iemanja Boci
- Brasil: Iyemanjá,Yemanjá, Iemanjá, Janaina
- Cuba: Yemaya, Yemayah, Iemanya
- Haiti: La Sirène, LaSiren (Vodun)
- EUA (New Orleans Vodun): Yemalla, Yemana
- Uruguai: Iemanjá
Yemanjá é um orixá africano, cujo nome deriva da expressão Yorubá Yèyémọnja (Yèyé + ọmọn + ẹjá)- Mãe dos pequeninos peixes ou Yèmọnja (Yè + ọmọn + ẹjá) - Salve os pequeninos peixes ou Ìyámọnja (Ìyá + ọmọn + ẹjá) - Senhora (Mãe) dos pequeninos peixes. Deusa da nação de Egbá, onde existe o rio Yemojá (Yèmọnja). No Brasil, rainha das águas e mares. Orixá muito respeitada e cultuada é tida como mãe de quase todos os Orixás Yorubanos, enquanto a maternidade dos Orixás Daomeanos é atribuída a Nanã. Por isso à ela também pertence a fecundidade. É protetora dos pescadores e jangadeiros.
Comparada com as outras divindades do panteão africano, Yèmọnja é uma figura extremamente simples. Ela é uma das figuras mais conhecidas nos cultos brasileiros, com o nome sempre bem divulgado pela imprensa, pois suas festas anuais sempre movimentam um grande número de iniciados e simpatizantes, tanto da Umbanda como do Candomblé.
Pelo sincretismo, porém, muita água rolou. Os jesuítas portugueses, tentando forçar a aculturação dos africanos e a aceitação, por parte deles, dos rituais e mitos católicos, procuraram fazer casamentos entre santos cristãos e Orixás africanos, buscando pontos em comum nos mitos.
Para Yèmọnja foi reservado o lugar de Nossa Senhora, sendo, então, artificialmente mais importante que as outras divindades femininas, o que foi assimilado em parte por muitos ramos da umbanda.
Mesmo assim, não se nega o fato de sua popularidade ser imensa, não só por tudo isso, mas pelo caráter, de tolerância, aceitação e carinho. É uma das rainhas das águas, sendo as duas salgadas: as águas provocadas pelo choro da mãe que sofre pela vida de seus filhos, que os vê se afastarem de seu abrigo, tomando rumos independentes; e o mar, sua morada, local onde costuma receber os presentes e oferendas dos devotos.
São extremamente concorridas suas festas. É tradicional no Rio de Janeiro, em Santos (litoral de São Paulo) e nas praias de Porto Alegre a oferta ao mar de presentes a este Orixá, atirados à morada da deusa, tanto na data específica de suas festas, como na passagem do ano. São comuns no reveillon as tendas de Umbanda na praia, onde acontecem rituais e iniciados incorporam caboclos e pretos-velhos, atendendo a qualquer pessoa que se interesse.
Apesar dos preceitos tradicionais relacionarem tanto Ọ̀ṣun como Yèmọnja à função da maternidade, pode estabelecer-se uma boa distinção entre esse conceitos. As duas Orixás não rivalizam (Yèmọnja praticamente não rivaliza com ninguém, enquanto Ọ̀ṣun é famosa por suas pendências amorosas que a colocaram contra Iansã e Obá). Cada uma domina a maternidade num momento diferente, Oxum tem o poder do seu Axé ligado ao feto e ao parto, cuidando da criança nos seus primeiros anos. Iyemanjá se encarrega da segunda infância e da sua educação. Diz-se que quando já é possível identificar o Orixá de uma criança através dos oráculos, esta deixa de ser responsabilidade de Ọ̀ṣun.
A majestade dos mares, senhora dos oceanos, sereia sagrada, Yèmọnja é a rainha das águas salgadas, regente absoluta dos lares, protetora da família. Chamada também de Deusa das Pérolas, é aquela que apara a cabeça dos bebês no momento de nascimento.
Numa Casa de Santo, Yèmọnja atua dando sentido ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependência; proporcionando sentimento de irmão para irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; proporcionando também o sentimento de pai para filho ou de mãe para filho e vice-versa, nos casos de relacionamento dos Babalorixás (Pais no Santo) ou Ialorixás (Mães no Santo) com os Filhos no Santo. A necessidade de saber se aquele que amamos estão bem, a dor pela preocupação, é uma regência de Yèmọnja, que não vai deixar morrer dentro de nós o sentido de amor ao próximo, principalmente em se tratando de um filho, filha, pai, mãe, outro parente ou amigo muito querido. É a preocupação e o desejo de ver aquele que amamos a salvo, sem problemas, é a manutenção da harmonia do lar.
É ela que proporcionará boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo do seu reino. É ela quem controla as marés, é a praia em ressaca, é a onda do mar, é o maremoto. Protege a vida marinha. Junta-se ao orixá Òṣàlà complementando-o como o Princípio Gerador Feminino.
Culto na África
Ná África, o culto à Iyemanjá tem muitas variações, que variam de região para região, mesmo dentro da grande nação Yorubá, dividida em pequenas etnias. Por exemplo a divindade do oceano éOlóòkun, considerada um orixá masculino na Região de Ọyọ e feminino na região da cidade de Ifé. No Brasil apesar da enorme ascendência cultural do reino de Ọyọ entre nossos afro-descendentes, os Candombles de Keto, herdeiros do Culto de Ọ̀ṣọ́ọ̀si, seguem a tradição de Ifé e consideram Olóòkun uma divindade feminina, maé de Iyemanjá.
O culto a Iyemanjá originou-se no território de Abeokutá entre o povo Egbá, às margens do rio Ogum, que mais tarde transformou-o em culto aos ancestrais femininos, sendo festejado no festival Geledé, estendendo-se assim por várias cidades.
Características
Animais | Peixes, Cabra Branca, Pata ou Galinha branca. |
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Bebida | Água Mineral ou Champanhe |
Chakra | Frontal |
Comidas | Peixe, Camarão, Canjica, Arroz, Manjar; Mamão. |
Cor | Cristal. (Em algumas casas: Branco, azul claro. também verde claro e rosa claro) |
Data Comemorativa | 15 de agosto (Em algumas casas: 2 de fevereiro, em 8 de dezembro) |
Dia da Semana | Sábado |
Elemento | Água |
Essências | Jasmim, Rosa Branca, Orquídea, Crisântemo. |
Fio de Contas | Contas e Missangas de cristal. Firmas cristal. |
Flores | Rosas brancas, palmas brancas, angélicas, orquídeas, crisântemos brancos. |
Incompatibilidades | Poeira, Sapo |
Metal | Prata |
Nomes |
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Numero | 4 |
Odu | IORÒSÚN |
Pedras | Pérola, Água Marinha, Lápis-Lazúli, Calcedônia, Turquesa, Platina. |
Planeta | Lua |
Pontos de Força | Calunga Grande (Mar) |
Saudação |
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Saúde | Psiquismo, Sistema Nervoso |
Símbolo | Lua minguante, ondas, peixes. Abebe |
Sincretismo | Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora dos Navegantes |
Folhas
- Abacá (ọ̀gẹ̀dẹ̀)
- Abacaxi (ọ́pẹ òyìnbó)
- Banana (ọ̀gẹ̀dẹ̀)
- Banana Prata (ọ̀gẹ̀dẹ̀ àgbagbà)
- Carambola
- Laranja (ọsán)
- Mamão (síbó)
- Manga (mángòrò)
- Melancia (bàrà)
- Melão (ẹ̀gúsí)
- Mexerica
- Nespereira
- Uva (èso àjara)
- Aguapê (ẹja ọmọde)
- Alcaparreira
- Alfazema do Brasil (àrùsò)
- Alga Marinha (koríko etí òkun)
- Altéia
- Anis Estrelado
- Araça da praia
- Araticum Bravo (àfe)
- Araticum de Areia (àbo)
- Bétis Branco (ewé boyí funfun)
- Bétis Cheiroso (ewé boyí)
- Capeba (ewé iyá)
- Caruru (ewé tẹ̀tẹ̀)
- Catinga de Mulata (makasá)
- Colônia (tọ́tọ́)
- Douradinha (ewé epo)
- Erva de Santa Luzia (gòdọ̀gbọ̀)
- Erva Prata (ewé dìgì)
- Folha da Costa (ọ̀dúndún)
- Folha da Riqueza (ewé ajé)
- Fruta da Condessa
- Gravíola (ẹ̀kò òyìnbó)
- Jequitibá Rosa
- Lírio do Brejo (balabá)
- Mãe Boa (ìyábeyín)
- Malva (iso-obo)
- Malva Rosa
- Malva Silvestre (ilaṣa omode)
- Manjericão da Folha Miúda (efínrín kékeré)
- Manjericão de Folha Larga (efínrín ata)
- Marianinha (gòdọ̀gbọ̀)
- Maricotinha (etítárẹ́)
- Melão D'agua (agbẹ́ye)
- Musgo marinho
- Nenúfar Branco (òṣibàtà)
- Pariparoba (ewé ẹfọn)
- Salsa Brava (gbọ̀rọ̀ ayaba)
- Salsa da Praia (gbọ̀rọ̀ ayaba)
- Trombeteira (dàgìrì dobo)
- Unha de Vaca
- Brejaúva
- Coqueiro (àgbọn)
- Embaúba - Branca (àgbaó)
- Guabiroba
- Mamão (ìbẹ́pẹ)
- Amor Perfeito
Qualidades
São 16 as qualidades, e por possuírem características tão próprias, há quem chegue a considerar que se trata de orixás individuais (independentes) das outras qualidades. Aqui, no entanto, e por não haver concenso quanto a esta questão, e muito estudo e pesquisa ser ainda necessário, vamos encarar como qualidades de um único orixá, tal como fazemos com todos os outros.
- Yèmọnja Asdgba ou Soba: É a mais velha, manca de uma perna devido a uma luta com Èṣù, rabugenta, e feiticeira, fala de costas, gosta de fiar seu cristal. Comanda as caçadas mais profundas do oceano, tem afinidade com Nanã. Veste branco.
- Yèmọnja Akurá: Vive nas espumas do mar, aparece vestida com lodo do mar e coberta de algas marinhas. Muito rica e pouco vaidosa. Adora carneiro. Come com Nanã.
- Yèmọnja Ataramaba: Nessa forma ela está no colo de seu pai Olóòkun.
- Yèmọnja Ataramogba ou Iyáku: Vive na espuma da ressaca da maré.
- Yèmọnja Ayio: Muito velha. Veste sete anáguas para se proteger. Vive no mar e descansa nas lagoas. Come com Ọ̀ṣun e Nanã.
- Yèmọnja Iya Maãse male ou Ìyámassé: É a mãe de Ṣàngó e quem cuidou de Òṣùmàrè. Esposa de Oranian e muito festejada durante as festas consagradas a seu filho Ṣàngó. As suas contas são branco leitosas, rajadas de vermelho e azul.
- Yèmọnja Iyemoyo, Awoyó; Yemuo; Yá Ori ou Iemowô: É uma das mais velha, possui ligação com Òṣàlà, o seu fundamento está no ori, representa a vida, pode curar doenças da cabeça. Veste branco e cristal.
- Yèmọnja Konla: O seu mito conta que ela afoga os pescadores.
- Yèmọnja Maleleo ou Maiyelewo: Esta Yèmọnja vive no meio do oceano no lugar onde se encontram as sete correntes oceânicas.
- Yèmọnja Odo: Tem aproximação com Ọ̀ṣun, e vive na água doce sendo muito feminina e vaidosa.
- Yèmọnja Ogunté: Considerada a nova guerreira, dona da espada, esposa de Ògún ferreiro (Alagbedé) e mãe de Ògún Akorô e Ọ̀ṣọ́ọ̀si. O seu nome significa aquela que contém Ògún. Vive perto das praias, no encontro das águas com as pedras. Traz na cintura um facão e todas as ferramentas de Ògún. Veste branco; azul marinho, cristal, ou verde e branco.
- Yèmọnja Olosá: Come com Ọ̀ṣun e Nanã. Veste verde-clara e suas contas são branco cristal. É a Yèmọnja mais velha da terra de Egbado. Ná Africa é cultuada como um divindade feminina das lagoas onde desaguam vários rios.
- Yèmọnja Oyo: Benéfica, muito feminina, saudada na cerimónia do Padê, veste de branco, rosa e azul claro.
- Yèmọnja Saba: Fiadeira de algodão, Sabá ou Iyasabá é a esposa de Orunmilá, divindade do oráculo iorubano, e como ele detém o poder sobre o Ifá. Isto é celebrado no mito em que Orunmilá, saindo para trabalhar em outras terras, demora-se a retornar e sua mulher, Yèmọnja Sabá começa a passar dificuldades financeiras. Burlando as ordens do marido, ela apanha o oráculo e começa a atender todas as pessoas que corriam à sua casa, Orunmila tomou conhecimento de que havia em sua cidade, uma mulher adivinha que estava arrebanhando muitos clientes. Intrigado, Orunmilá disfarçou-se e foi em busca da tal mulher, que, para seu espanto, era Yèmọnja. Irado, levou a esposa à corte de Olódùmarè para que suas atitudes fossem julgadas. Olódùmarè decidiu que, a partir daquele dia, visto o desempenho de Yèmọnja no manuseio de Ifá, todos os adivinhos deveriam fazer reverências a ela e que ela responderia através dos cauris, trazendo suas mensagens aos homens. Orunmilá, mesmo contrariado, submete-se à decisão do deus supremo. Yèmọnja Sabá é conhecida também por escutar apenas de um dos ouvidos. Quando ocorre sua possessão no terreiro em algum de seus filhos, vêem-se vários filhos de santo apostando entre si para saber através de qual ouvido a divindade estará escutando naquele dia. Precisam saber disso, para que seus pedidos sejam ouvidos e atendidos.
- Yèmọnja Sessu, Sesu, Iyasesu ou Susure: Ligada à gestação. Voluntariosa e respeitável, mensageira de Olóòkun, o deus do mar. Vive nas águas sujas do mar e é muito esquecida e lenta. Come com Obaluaiyê e Ògún. Além do próprio assentamento, tem que se assentar Ọ̀ṣun e Obaluaiyê. Veste branco, verde água e suas contas branco cristal. Tão temível quanto Sabá, Yèmọnja Sessu participa da cerimônia do axexé (àṣẹ̀ṣẹ̀: rito funerário) pois vive nas profundezas, assim como Nanã, que abre a terra para receber os mortos.
- Yèmọnja Yinaé ou Malelé: Aquela que os filhos sempre serão peixes. Também conhecida como Marabô, mora nas águas mais profundas. É a sereia, ligada à reprodução dos peixes; vem sempre a beira do mar apanhar as suas oferendas; está ligada a Òṣàlà e Èṣù.
Batuque
- Yèmọnja Bossí
- Yèmọnja Maré
- Yèmọnja Olomí
- Yèmọnja Iaqueré
- Yèmọnja Omi-remí
- Yèmọnja Ogueremi
- Yèmọnja Iemí
- Yèmọnja Omí-osí
- Yèmọnja Tola
- Yèmọnja Osí
- Yèmọnja Omí-maré
- Yèmọnja Nana Buruku
Tambor de Mina (Maranhão)
Yèmọnja é chamada de Abê, na família de Kevioso, de Naé, na família de Davice, e é genéricamente conhecida por Naité.
Umbanda
Cultua-se Yèmọnja como orixá geral, sem referência a qualidades, pois nesta religião, em que as principais entidades do cotidiano do culto não são os orixás, mas sim os caboclos, pretos-velhos e outros encantados, as referências míticas às divindades africanas bem como seus rituais específicos foram grandemente diluidos.
Santeria Cubana
- Yemayá Awoyo
- Yemayá Akuara
- Yemayá Okuté u Okuti
- Yemayá Konlá
- Yemayá Asesu
- Yemayá Mayaleo ou Mayalewo
- Yemayá Okotó
- Yemayá Lokún Nipa
- Yemayá Atara Magwá Onoboyé
- Yemayá Owoyó Oguegué Owoyó Olodé
- Yemayá Ye Ilé Ye Lodo
- Yemayá Ayabá Ti Gbé Ibú Omi
- Yemayá Atara Magbá Anibode
- Yemayá Iyawi Awoyómayé Lewó
- Yemayá Yalodde
- Yemayá Awó Samá
Sincretismos
Nossa Senhora da Gloria | Nossa Senhora das Candeias |
Nossa Senhora dos Navegantes |
Atribuições
Essa força da natureza também tem papel muito importante em nossas vidas, pois é ela que rege nossos lares, nossas casas. É ela que dá o sentido da família às pessoas que vivem debaixo de um mesmo teto. Ela é a geradora do sentimento de amor ao seu ente querido, que vai dar sentido e personalidade ao grupo formado por pai, mãe e filhos tornando-os coesos. Rege as uniões, os aniversários, as festas de casamento, todas as comemorações familiares. É o sentido da união por laços consangüíneos ou não.
Características dos filhos de Yèmọnja
Pelo fato de Yèmọnja ser a Criação, sua filha normalmente tem um tipo muito maternal. Aquela que transmite a todos a bondade, confiança, grande conselheira. É mãe. Sempre tem os braços abertos para acolher junto de si todos aqueles que a procuram. A porta de sua casa sempre está aberta para todos, e gosta de tutelar pessoas. Tipo a grande mãe. Aquela mulher amorosa que sempre junta os filhos dos outros com os seus. O homem filho de Yèmọnja carrega o mesmo temperamento: é o protetor. Cuida de seus tutelados com muito amor. Geralmente é calmo e tranqüilo, exceto quando sente-se ameaçado na perda de seus filhos, isto porque não divide isto com ninguém. É sempre discreto e de muito bom gosto. Veste-se com muito capricho. É franco e não admite a mentira. Normalmente fica zangado quando ofendido e o que tem como ajuntó o orixá Ògún, torna-se muito agressivo e radical. Diferente é quando o ajuntó é Ọ̀ṣọ́ọ̀si, aí sim, é pessoa calma, tranqüila, e sempre reage com muita tolerância. O maior defeito do filho de Yèmọnja é o ciúme. É extremamente ciumento com tudo que é seu, principalmente das coisas que estão sob sua guarda. Gostam de viver num ambiente confortável e, mesmo quando pobres, pode-se notar uma certa sofisticação em suas casas, se comparadas com as demais da comunidade de que fazem parte. Apreciam o luxo, as jóias caras e os tecidos vistosos e bons perfumes. Entretanto, não possuem a mesma vaidade coquete de Ọ̀ṣun, sempre apresentando uma idade maior, mais responsáveis e decididos do que os filhos da Ọ̀ṣun. A força e a determinação fazem parte de suas características básicas, assim como o sentido de amizade, sempre cercada de algum formalismo. Apesar do gosto pelo luxo, não são pessoas ambiciosas nem obcecadas pela própria carreira, detendo-se mais no dia a dia, sem grandes planos para atividades a longo prazo. Pela importância que dá a retidão e à hierarquia, Yèmọnja não tolera mentira e a traição. Assim sendo, seus filhos demoram a confiar em alguém, e quando finalmente passam a aceitar uma pessoa no seu verdadeiro círculo de amigos, deixam de ter restrições, aceitando-a completamente e defendendo-a, seja nos erros como nos acertos, tendo grande capacidade de perdoar as pequenas falhas humanas. Não esquecem uma ofensa ou traição, sendo raramente esta mágoa esquecida. Um filho de Yèmọnja pode tornar-se rancoroso, remoendo questões antigas por anos e anos sem esquecê-las jamais. Fisicamente, existe uma tendência para a formação de uma figura cheia de corpo, um olhar calmo, dotada de irresistível fascínio (o canto da sereia). Enquanto os filhos de Ọ̀ṣun são diplomatas e sinuosos, os de Yèmọnja se mostram mais diretos. São capazes de fazer chantagens emocionais, mas nunca diabólicas. A força e a determinação fazem parte de seus caracteres básicos, assim como o sentido da amizade e do companheirismo.
São pessoas que não gostam de viver sozinhas, sentem falta da tribo, inconsciente ancestral, e costumam, por isso casar ou associar-se cedo. Não apreciam as viagens, detestam os hotéis, preferindo casas onde rapidamente possam repetir os mecanismos e os quase ritos que fazem do cotidiano.
Todos esses dados nos apresentam uma figura um pouco rígida, refratária a mudanças, apreciadora do cotidiano. Ao mesmo tempo, indicam alguém doce, carinhoso, sentimentalmente envolvente e com grande capacidade de empatia com os problemas e sentimentos dos outros. Mas nem tudo são qualidades em Yèmọnja, como em nenhum Orixá. Seu caráter pode levar o filho desse Orixá a ter uma tendência a tentar concertar a vida dos que o cercam - o destino de todos estariam sob sua responsabilidade. Gostam de testar as pessoas.
Lendas
Yemanjá - Mãe de todas as cabeças
Quando Olódùmarè criou o mundo, dividiu-o conforme a natureza individual de cada Orixá, entregando a cada um destes um reino específico para governar. Èṣù tornou-se o senhor da comunicação, controlador de todos os caminhos no mundo. Ogum ganhou o axé sobre todos os metais, tornandos-e o forjador que propricia a agricultura com seus instrumentos, e divide com Èṣù o controle da abertura dos caminhos.
Ọ̀ṣọ́ọ̀si recebeu o poder sobre a caça e tornou-se o provedor dos alimentos e da fartura. Ọbalúwaìye, pela sua natureza intrínseca com a terra, recebeu o poder de curar ou inflingir as doenças. Oxumaré, vivendo entre as nuvens, torna-se o dono do Arco-ìIris, embelezando o céu e controlando a chuva, equilibrando o ciclo das águas que sobem e que descem. Xangô tornou-se o patrono da ordem e da justiça, com poder sobre o trovão e a eletricidade do solo. IÌyásan, ganhou o controle sobre o reino dos mortos e os raios como arma. Yewa ficou incumbida de guiar os espíritos dos mortos para o Orum e o poder sobre os cemitérios. Ọ̀ṣun seria a dona da beleza, do amor sensual e da fertilidade das mulheres, além de ser dona das riquezas da terra.
Nanã recebeu a tarefa de receber os mortos no seio da terra, que com suas águas paradas, formam a lama para que Òṣàlà modelasse os novos seres humanos. Para Yemanjá, coube como missão, cuidar de Òṣàlà, de assisti-lo em suas tarefas, de cuidar de sua casa e de seus filhos.
Yemanjá, insatisfeita com aquela situação, pois todos os outros Orixás pareciam ter funções importantes no mundo e por isso recebiam oferendas e louvores de seus adoradores. Ela, menos favorecida, sentindo-se uma serviçal, relegada a um segundo plano, reclamava o tempo todo.
E falou tanto, tanto nos ouvidos de Òṣàlà, que a cabeça dele não aguentou e ele enlouqueceu. Òṣàlà, não suportando as insistentes queixas de Yemanjá, adoeceu. Percebendo o tormento a que havia submetido Òṣàlà, começou a tratar a cabeça do marido enferno com ori (gordura vegetal), omi-tutu (água fresca), obi (nóz de cola), e oferendas de eyelé-funfun (pombos brancos), conseguindo assim curar Òṣàlà.
Òṣàlà ficou tão agradecido que pediu a Olódùmarè que este desse a Yemanjá o poder de curar todas as cabeças. Assim Yemanjá passou a receber oferendas sempre que se realiza o Bori e todos os ritos destinados a propiciar à cabeça ds pessas. Yemanjá é responsável pela saúde mental.
Yemanja - Simbolo da Maternidade e Fecundidade
Yèmọnja teve muitos problemas com os filhos. Ọ̀sónyìn, o mago, saiu de casa muito jovem e foi viver na mata virgem estudando as plantas. Contra os conselhos da mãe, Ọ̀ṣọ́ọ̀si bebeu uma poção dada por Ọ̀sónyìn e, enfeitiçado, foi viver com ele no mato. Passado o efeito da poção, ele voltou para casa mas Yèmọnja, irritada, expulsou-o. Então Ògún a censurou por tratar mal o irmão. Desesperada por estar em conflito com os três filhos, Yèmọnja chorou tanto que se derreteu e formou um rio que correu para o mar.
Yèmọnja foi casada com Okere. Como o marido a maltratava, ela resolveu fugir para a casa do pai Olokum. Okere mandou um exército atrás dela mas, quando estava sendo alcançada, Yèmọnja se transformou num rio para correr mais depressa. Mais adiante, Okere a alcançou e pediu que voltasse; como Yèmọnja não atendeu, ele se transformou numa montanha, barrando sua passagem. Então Yèmọnja pediu ajuda a Ṣàngó; o orixá do fogo juntou muitas nuvens e, com um raio, provocou uma grande chuva, que encheu o rio; com outro raio, partiu a montanha em duas e Yèmọnja pôde correr para o mar.
Èṣù, seu filho, se encantou por sua beleza e tomou-a a força, tentando violentá-la. Uma grande luta se deu, e bravamente Yèmọnja resistiu à violência do filho que, na luta, dilacerou os seios da mãe. Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Èṣù "saiu no mundo desaparecendo no horizonte. Caída ao chão, Yèmọnja entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokum e ao criador Ọlọ́run. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo dando origem aos mares. Èṣù, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros na corte.
Por isso Yèmọnja é representada na imagem com grandes seios, simbolizando a maternidade e a fecundidade.
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