XAPANÃ/SAKPATA/NSUMBO - SEGUNDO PIERRE VERGER
OBALUWAYE (OMOLU/SONPANÃ/OBALÚWAYÉ/OMOLU/SÀNPÒNNÁ)
Obalúwayé na África
Obalúwayé (“Rei Dono da Terra”) ou Omulu (“Filho do Senhor”) são os nomes geralmente dados a Sànpònná, deus da varíola e das doenças contagiosas, cujo nome é perigoso serem pronunciado.
Melhor definindo, ele é aquele que pune os malfeitores e insolentes enviando-lhes a varíola.
O culto a Obaluwaye, assim como o de Nanã Buruku, do qual trataremos no próximo capítulo, parece fazer parte de sistemas religiosos pré-Odùduà. Nem um nem outro consta da lista dos companheiros de Odùduà quando de sua chegada a Ifé, mas algumas lendas de Ifá dizem que Obaluwaye estava já instalado em Òkè Itase antes da chegada de Orunmilá, que fazia parte daquele grupo.
A antiguidade dos cultos de Obaluwaye e Nanã Buruku, freqüentemente confundidos em certas partes da África, é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe são feitos. Esse ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior a Idade do Ferro e à chegada de Ogum (que veio com Odùduà).
Algumas lendas falam de Obaluwaye e Nanã Buruku contra Ogum. Os primeiros recusam-se a reconhecer a antiguidade do deus do ferro como sendo anterior à deles próprios e, em conseqüência, de servir-se do ferro em suas atividades.
Essa disputa entre divindades poderia ser interpretada como o choque de religiões pertencentes a civilizações diferentes, sucessivamente instaladas no mesmo lugar e datando de períodos respectivamente anteriores e posteriores à Idade do Ferro. Poderia também ser conseqüência da diferença de origem de povos vindos, uns do leste, com Odùduà, e outros do oeste, anteriores a esse acontecimento.
O lugar de origem de Obaluwaye é incerto, mas há grandes possibilidades de que tenha sido em território tapá (ou nupê). Se essa não é sua origem, seria pelo menos um ponto de divisão de crença.
Frobenius escrevia que lhe fora dito em Ibadan que Sonpanâ tinha sido, antigamente, rei dos tapas.
Outra lenda de Ifá confirma essa última suposição: “Obaluwaye era originário de Empé (Tapá) e havia levado seus guerreiros em expedição aos quatro cantos da terra. Uma ferida feita por suas flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas. Obaluwaye-Sonpanâ chegou assim no território mahi no norte do Daomé, batendo e dizimando seus inimigos, e pôs-se a massacrar e a destruir tudo o que encontrava à sua frente. Os mahis, porém, tendo consultado um babalaô, aprenderam como acalmar
Sapanã com oferendas de pipocas. Assim, tranqüilizado pelas atenções recebidas, Sonpanâ mandou-os um palácio onde ele passaria a morar, não mais voltando ao país Empê. O Mahi prosperou e tudo se acalmou. Apesar dessa escolha, Sonpanâ continua a ser saudado como Kábíyèsí Olútápà Lempé (“Rei de Nupê em pais Empê”).
O culto de Sakpata, a versão fon de Sonpanâ, teria seu lugar de difusão na região mahi, na aldeia chamada Pingini Vedji, perto de Dassa Zumê, porém trazido pelos nagôs. Essa tradição é confirmada em Savalu, também na região mahi, onde Sakpata Agbosu do bairro Bla, chefe dos Sakpata da região, foi trazido, segundo dizem, ao templo de Ah_su Soha, o fundador, ou, mais exatamente, o conquistador do lugar que foi o ponto terminal de seu movimento migratório para o norte, migração empreendida para se afastar das regiões destruídas pelas campanhas dos reis de Abomey contra seus vizinhos do leste. Ahosu Soha, durante seu percurso, encontrou em Damê, no rio Weme, os kadjanu, nagôs originários da região do Egbadô, que se dirigiam também para o norte e se juntaram a ele para estabelecerem-se em Savalu com seu deus Agbosu.
As origens nagô-iorubás do vodum Sakpata são atestadas pelo fato de que, durante sua iniciação, os futuros Sakpatasi, pessoas dedicadas a Sakpata, são chamados ànàgonu (anago ou nagô) e que a língua usada no ritual de iniciação e nas orações é o ioruba primitivo, ainda falado diariamente pelos Aná.
Pesquisas feitas a respeito de Sakpata-Ainon (“Dono da Terra”) entre os fon ajudam a compreender as relações de Sànpònná-Obalúwayé, o “Rei Dono da Terra” para os iorubás, com Nanã Buruku, considerada sua mãe, no Brasil. Em Abomey, conta-se que Nàná Bùkùú ou Buruku) era mãe de um casal: K_h_su e sua mulher Ny_hwe Ananu, que são os pais de todos os Sakpata, senhores de muitas doenças temíveis de que falamos em outro trabalho.
O culto de Sakpata-Ainon, o Dono da Terra, conheceu em Abomey altos e baixos e tive disputas com a dinastia dos aladah_nu, reis do Daomé. Estes usavam alguns dos títulos gloriosos de Sakpata, tais como: Ainon (“ Senhor da Terra”) ou J_h_su (“Rei das Pérolas”). Os Sakpatanon, chefes desse culto, foram várias vezes expulsos do reino de Abomey.
Em Dassa Zumê, nos foi contada uma história sobre a origem de Sakpata-Sànpònná:
“Um caçador M_lusi (iniciado de Omolu) viu passar no mato um antílope (agbanlín). Tentou matá-lo, mas o animal levantou uma de suas patas dianteiras e anoiteceu em pleno dia. Pouco depois, a claridade voltou e o caçador viu-se na presença de um Aziza (Aroni em ioruba), que declarou ter intenção de dar-lhe um talismã poderoso para que ele colocasse sob um montículo de terra que deveria ser erguido defronte da sua casa. Deu-lhe também um apito, com o qual poderia chamá-lo em caso de necessidade. Sete dias depois, uma epidemia de varíola começou a assolar a região. O M_lusi voltou à floresta e soprou o apito. Aziza apareceu e disse-lhe que aquilo que lhe dera era o poder de Sakpata e que era preciso construir para ele um templo e todo mundo deveria, doravante, obedecer ao M_lusi. “Foi assim que Sakpata instalou-se em Pingini Vedji”.
As proibições em relação à Sakpata são o agbalín, a galinha-d’ angola (sonu), um peixe chamado sosogulo, cujas espinhas são atravessadas, e o carneiro. As oferendas indicadas são os cabritos, galos, feijão e inhame.
Mas, voltando ao culto de Sonpanâ-Obaluwaye, haveria, segundo Frobenius, dois Sonpanâ: o que já foi referido, de origem tapá, que ele chama de Sànpònná-Airo, e o outro, que teria ido a Oyó, vindo do Daomé, que ele chama de Sànpònná-Boku, aproximando-o assim de Nanã Buruku; o que testemunharia os laços existentes entre Obaluwaye e Nanã Buruku.
Existe uma confusão muito grande a respeito de Sànpònná Obalúwayé, Omolu e Molu, que se misturam em alguns lugares e, em outros, são deuses distintos. O que dificulta o problema vem do fato de que Nanã Buruku é igualmente confundida com eles. Para não tornar muito extenso este texto, damos em notas algumas dessas variações. De sua leitura conclui-se que: ou assistimos na África a um sincretismo entre duas divindades vindas uma do leste, Sànpònná-Obalúwayé (Nàná-Buruku), e outra do oeste, Omolu-Molu (Nàná-Brukung), que se juntaram e tomaram o caráter único de Kêto;ou então, tratar-se-ia de uma divindade única, trazida por migrações leste-oeste, como as dos Ga, que foram de Benim para região de Acha, durante o reino de Udagbede, no fim do século XII e levada depois para seu lugar de origem, com um novo nome que, no início, era apenas um epíteto.
Eis alguns oríkì de Sonpanâ, sob o nome de Omolu, recolhidos em Kêto e Abeokutá:
“Meu pai, filho de Savé Opara.
Meu pai que dança sobre o dinheiro.
Ele dorme sobre o dinheiro e mede suas pérolas em caldeirões.
Caçador negro que cobre o corpo com palha da costa,
Não encontrei outros orixás que façam, com ele, uma roupa de pele adornada com pequenas cabaças.
Não queremos falar (mal) de alguém que mata e come gente.
Veremos voltar, na estrada do campo, o cadáver inchado daqueles que insultam Omulu.
Ninguém deve sair sozinho ao meio-dia “ .
Essa última saudação é uma alusão ao nome de Olodé, proprietário do exterior (o que esta fora das casas), dando a Omolu e à sua presença habitual nas ruas, em horas de sol intenso, ao meio-dia… e o perigo que podem correr as pessoas desprovidas de talismãs protetores.
Cerimônias para Obaluwaye
Uma parte das cerimônias para Obaluwaye, em Ifanhim, passa-se no mercado. Isso se justifica pela presença, neste local, de um de seus templos, que tem a mesma forma das barracas do mercado, isto é: quatro pilastras e um simples telhado, onde o lugar consagrado ao deus é coberto por uma grande panela de barro emborcada. Nos dias de festa, depois de passarem pelo riacho sagrado, os fiéis chegam cedo pela manhã e em grupo, vindos do templo principal. O axé de Obaluwaye é trazido por uma mulher em transe que caminha com passos incertos, seguida por aquelas que levam as gamelas com alimentos. Um elégùn possuído pelo deus a acompanha. Seu corpo foi todo salpicado, dos pés a cabeça, com pó vermelho, osùn (ossum). Ele está envolto num grande pano vermelho, bordado de búzios, que cobre sua cabeça e esconde metade do seu rosto. O cortejo se dirige ao pequeno templo do mercado e coloca, ao lado da panela de barro, duas lanças de madeira esculpida e colorida, os _k_ de Obaluwaye. O elégùn dança por um instante ao som de um conjunto de três atabaques, diante dos seus fiéis que se prostram com a cabeça no chão. Os iniciados têm toda a cabeça recém-raspada, exceto um pequeno tufo na frente. Realiza-se, em seguida, uma refeição comum e, no fim do dia, forma-se novamente o cortejo, voltando ao templo principal, longe dos olhares indiscretos dos não iniciados.
Durante o período de iniciação, os novos seguidores de Obaluwaye são pintados com pontos e riscos brancos nos sete primeiros dias, como durante a iniciação dos elégùn de Sangô. É interessante constatar que esse costume continua a ser fielmente observado no Novo Mundo.
Tivemos oportunidade de assistir a belíssimas cerimônias num lugar chamado Isaba, no Holi do ex- Daomé, em 1953, uma época em que o modo de vista nessa região estava ainda preservado dos “ benefícios” das civilizações estrangeiras. Foi pouco antes de ser aberta a estrada Pobê— Kêto nessa região pantanosa, onde até então nenhum leito de estrada carroçável havia resistido às estações chuvosas. Essas festas realizavam-se em um templo de Sonpanâ, que tinham o nome de um rio, Idi.
Esse rio corria perto desse local, na região ahori, do lado nigeriano da fronteira.
O templo consistia em um grande cercado rústico, feito de estacas fincadas no chão, delimitando, em plena floresta, o espaço consagrado ao deus da varíola. No centro, encontrava-se um montículo de terra, sobre o qual havia uma panela de barro (ajere), cujo fundo, cheio de orifícios, lembra as cicatrizes deixadas pela varíola, simbolizando a ação do Rei Dono da Terra contra os malfeitores e os insolentes.
Duas cabanas de estilo holi estavam situadas uma defronte a outra nas duas extremidades. Eram choupanas concebidas para o clima dessa região com paredes de bambu e telhados de palha. Além delas, havia um grande abrigo, sem paredes nem cercas, que servia como local de reunião, cozinha, abrigo contra as intempéries ou dormitório para as pessoas que vinham tomar parte na festa.
Voltando a cerimônia, ela tinha por objetivo mostrar as primeiras danças dos iniciados em público. Na noite da véspera, houve um àìsùn (“ não dormir” ). Por volta das oito horas da noite, os participantes do culto de Obaluwaye estavam reunidos no grande abrigo, sentados sobre esteiras. Os iniciados estavam deitados no chão, com a cabeça raspada, ar ausente, vestido com um pano bordado de búzios e amarrado no ombro esquerdo. Tinham inúmeras pulseiras, feitas de búzios, amarrados ao redor dos pulsos e dos tornozelos, e traziam a tiracolo longos colares feitos de búzios de maneira a imitar escamas de cobra, semelhantes aos já mencionados a Oxumaré, chamados brajá no Brasil. Tinham o rosto, as mãos e os pés abundantemente salpicados de pó vegetal vermelho, osùn.
Os atabaques batiam de vez em quando um ritmo vivo e intermitente que animava alguns dos assistentes a dançarem por alguns instantes. Pequenas lamparinas a azeite-de-dendê (fìtílà) iluminavam suavemente a assembléia. À meia-noite, trouxeram uma taça de barro contendo azeite-dedendê, na borda da qual colocaram mechas de algodão e acenderam-nas enquanto as lamparinas eram apagadas. Toda a assembléia sentou-se em redor e um dos responsáveis pelo culto pôs-se a lançar substâncias e folhas sobre as chamas, pronunciando palavras constrangedoras. Suas mãos passavam e repassavam por cima do fogo, que ora brilhava com muito clarão e crepitava queimando aquelas substâncias, ora vacilava, parecendo extinguir-se, mas reavivava-se com novas doses produtos e folhas.
A assistência seguia atentamente todas essas operações.
Entretanto, a chama terminou por apagar-se. A escuridão foi total e os assistentes soltam um grito prolongado. Quando as lamparinas foram novamente acesas, a taça não estava mais lá. Todo mundo retomou um ar alegre e aliviado. A cinza, resultante desse trabalho, ia ser misturada às beberagens e aos banhos rituais dados aos iniciados. Houve uma refeição acompanhada de bebedeira e as coisas acalmaram-se um pouco.
No dia seguinte pela manhã, os iniciados fizeram a tradicional descia ao riacho para as abluções e, no começo da tarde, realizaram-se as primeiras danças em público.
Suas evoluções eram acompanhadas pelas dos seus iniciadores e de diversos sacerdotes de Obaluwaye, vindos dos templos das aldeias vizinhas. Os transes manifestavam-se com grandes gestos de braços, inclinações de corpos para frente e para trás e com uma tal violência, que os elégùn pareciam estar a ponto de perderem o equilíbrio. Os assistentes vinham logo amparar e abraçar seus corpos agitados.
Logo os transes acalmaram-se e foram todos se inclinar diante do montículo de terra coberto pelo ajere, e puseram-se novamente a dançar. Podia-se observar o ar trocista e desligado dos mais velhos, em contraste da expressão concentrada e tensa dos iniciados. Esses tinham uma vassoura nas mãos, chamada a África ilew_ e no Brasil “ xaxará de Obaluwaye” , símbolo da propagação e da cura das doenças.
Obaluwaye no Novo Mundo
As pessoas que lhe são consagradas usam dois tipos de colares: o lagidiba, feito de pequeninos discos pretos enfiados, ou colar de contas marrons com listas pretas. Quando o deus se manifesta sobre um de seus iniciados, ele é acolhido pelo grito “Atotô!” Seus iaôs dançam inteiramente revestidos de palha da costa. A cabeça também é coberta por um capuz da mesma palha, cujas franjas recobrem seu rosto. Em conjunto, parecem pequenos montes de palha, em cuja parte inferior aparecem pernas cobertas por calças de renda e, na altura da cintura, mãos brandindo um sasará, espécie de vassoura feita de nervuras de folhas de palmeira, decorada com búzios, contas e pequenas cabaças que se supõem conter remédios. Dançam curvados para frente, como que atormentados por dores, e imitam sofrimento, as coceiras e os tremores de febre. A orquestra toca para Obaluwaye um ritmo particular chamado opanije, significando em ioruba “ ele mata qualquer um e o come” , expressão que encontramos, anteriormente, nas saudações que lhe são dirigidas na África.
A festa anual de oferendas de comidas chama-se “Olubajé” , no decorrer da qual lhe são apresentados pratos de aberem, milho cozido enrolado em folhas de bananeira, carne de bode, galos e pipocas.
Segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Neste dia, o chão do adro da Igreja de São Lázaro, na Bahia, é coberto de pipocas que as pessoas passam em seus próprios corpos para se preservarem de possíveis doenças contagiosas, associando, assim, numa mesma manifestação, a sua fé à força do deus africano e do santo católico.
As proibições alimentares das pessoas dedicadas a Obaluwaye são, como na África, carne de carneiro, peixe de água doce de pele lisa, caranguejos, banana-prata, jacas, melões, abóboras e frutos de plantas trepadeiras.
Diz que é filho de Nanã Buruku e originário, como ela e Osumaré, do país Mahi. Os “ pejís” dessas três divindades são, por esse motivo, reunidos numa mesma cabana, separa das dos outros orixás.2
OPANIJÉ
Segundo Pierre Verger, opanijé é uma saudação yorubá utilizada na Africa, para saudar Omolu, e significa "ele mata qualquer um e come". Para compreendermos o que os gestos coreográficos da dança querem traduzir, precisamos conhecer alguns mitos. Diz a lenda:
Quando Omulu era um menino de uns doze anos, saiu de casa e foi para o munda para fazer a vida. De cidade em cidade, de vila em vila, ele ia oferecendo seus serviços, procurando emprego. Mas Omulu não conseguia nada. Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava. E ele teve que pedir esmola, mas ao menino ninguém dava nada, nem do que comer, nem do que beber. Tinha um cachorro que o acompanhava e só. Omulu e seu cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras. Omulu comia o que a mata dava: frutas, folhas e raízes. Mas os espinhos da floresta feriam o menino. As picadas de mosquito combriam-lhe o corpo. Omulu ficou coberto de chagas. Só o cachorro confortava Omulu, lambendo-lhe as feridas. Um dia, quando dormia, Omulu escutou uma voz: "Estás pronto. Levanta e vai cudar do povo".
Omulu viu que todas as feridas estavam cicatrizadas. Não tinha dores nem febre. Obaluaê juntou as cabacinhas, os atós, onde guardava água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu e Olorum partiu.
Naquele tempo uma peste infestava a Terra. Por todo lado estava morrendo gente.Todas as aldeias enterravam os seus mortos. Os pais de Omulu foram ao babalaô e ele disse que Omulu estava vivo e que ele traria a cura para a peste. Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omulu. Todos esperavam-no com festa, pois ele curava. Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber agora imploravam por sua cura. Ele curava todos, afastava a peste. Então dizia que se protegessem, levando na mão uma folha de dracena, o peregum, e pintando a cabeça com efum, ossum e wági, os pós branco, vermelho e azul usados nos rituais e encantamentos. Curava os doentes e com o xaxará varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família. Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro, seu instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xaxará. Quando chegou em casa, Omulu curou os pais e todos estavam felizes. Todos cantavam e louvavam o curandeiro e todos o chamaram de Obaluayê, todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluayê.(texto Mitologia dos orixás - Reginaldo Prandi).
Omulu viu que todas as feridas estavam cicatrizadas. Não tinha dores nem febre. Obaluaê juntou as cabacinhas, os atós, onde guardava água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu e Olorum partiu.
Naquele tempo uma peste infestava a Terra. Por todo lado estava morrendo gente.Todas as aldeias enterravam os seus mortos. Os pais de Omulu foram ao babalaô e ele disse que Omulu estava vivo e que ele traria a cura para a peste. Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omulu. Todos esperavam-no com festa, pois ele curava. Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber agora imploravam por sua cura. Ele curava todos, afastava a peste. Então dizia que se protegessem, levando na mão uma folha de dracena, o peregum, e pintando a cabeça com efum, ossum e wági, os pós branco, vermelho e azul usados nos rituais e encantamentos. Curava os doentes e com o xaxará varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família. Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro, seu instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xaxará. Quando chegou em casa, Omulu curou os pais e todos estavam felizes. Todos cantavam e louvavam o curandeiro e todos o chamaram de Obaluayê, todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluayê.(texto Mitologia dos orixás - Reginaldo Prandi).
O mito acima informa caracteristicas importantes deste orixá, que ele além de imperar sobre as doenças, detém a força da cura ele é o Senhor da Terra. Esses atributos permitem que possamos compreender os gestos desta dança. Opanijé é um toque que interage com a dança, e são tão intricados que o primeiro acaba assumindo o nome do segundo. Os movimentos da dança se processa da seguinte forma:" ... 3 passos para direita, tres passos para esquerda, com as mãos espalmadas a cada movimento de braços que avançam e se recolhem, volvem-se em alternância para o alto e para baixo. Quando voltadas para cima, significam vida, para baixo significam morte ..."(parte do texto Jose Flavio P. Barros). Podemos então interpretar que essa descrição mostra uma busca dessa divindade, ele estaria percorrendo o mundo a procura das curas para as doenças que afligem a humanidade. O movimento das mãos além de simbolizarem a vida e a morte mostram também que os passos dados de tempo em tempo e uma parada no terceiro passo, demostram a alternancia dos momentos que se esta bem de sáude e de momentos em que estamos doente. As andanças de Omolu pelos quatro cantos do mundo na procura do conhecimento das doenças, é demostrado na dança quando ele gira e para. A ligação com a terra é demonstrado na distensão e extensão dos braços na direção do solo. Esses gestos com os braços seriam como se Obaluaye estivesse remexendo a terra a qual ele é senhor.
OLUBAJÉ
Olubajé é um ritual sagrado comemorado geralmente no mês de agosto, em homenagem a Obaluayê que alguns fazem sincretismo com São Roque e São Lazaro.
Este ritual antigamente tinha seu início sempre em meados de julho, que era quando as comunidades pertencentes ao candomblé traziam o ibá (assentamento) de Obaluayê ou Omolu de seu quarto de santo para o centro de seu barracão, com suas vestes e paramentos, para ser ali reverenciado por todos os adeptos e visitantes da dita comunidade, e ao mesmo tempo para que fossem depositados em seu redor os donativos para conclusão de seus festejos no mês de agosto. Estes donativos não se resumiam em dinheiro, também eram ofertados vinhos, azeites, mel, feijões, arroz, farinha, fubá, camarão seco, inhames, batatas, animais de duas e quatro patas, velas, enfim tudo que fosse necessário para o preparo das oferendas dedicadas aos orixás.
Quando faltavam entre sete ou quatorze dias para festividade, dependendo da casa, para conclusão deste preceito era preciso “pedir esmola”, em nome do orixá, pois se acredita que além de ser o Deus das Doenças, também é o Deus dos Desvalidos. Para isso, eram preparados tabuleiros: um com um assentamento muito bem arrumado de Obaluayê, que seria carregado por uma yawo com mais de três de anos de feita, ou seja, uma adosi, outro com pipoca, e um outro com guloseimas como cocadas, fubá de amendoim, de castanha, bolinhos, etc. Tudo pronto saía do barracão uma comitiva sob a supervisão de ou de ekedes, ou alabe, ou ogans, etc. Iam às ruas não só pra esmolar como para trocar pipocas e guloseimas por dinheiro e outros materiais ofertado ao orixá. O dinheiro era depositado no tabuleiro onde estava o assentamento do orixá, que só poderia ser contado no regresso ao barracão. Esta comitiva nos dias que ficavam fora do seu barracão de origem batia de porta em porta pedindo donativo, abordavam as pessoas nas ruas com muito respeito e agradeciam sempre a atenção a eles dispensada, com a palavra: “Olorunsan”, deus lhe pague.
Um momento importante desta peregrinação era quando batiam na porta de um barracão. Neste momento é que esta comitiva tinha que mostrar a educação e os princípios recebidos de seu barracão de origem. A começar por não levantar a cabeça por nada, salvo as ekedes e ogans responsáveis pela peregrinação. Ao entrarem no barracão visitado já encontravam uma esteira aonde iriam depositar seus tabuleiros, e várias outras a sua volta aonde iriam se sentar e bancos para os responsáveis pela comitiva.
Depois de algum tempo de descanso os visitantes começavam a rezar os seus àdúrás (suas rezas), ao terminar tomavam bênçãos aos mais velhos e trocavam de bênçãos entre si e com os outros que ali se encontrassem. As filhas do barracão anfitrião corriam para preparar uma comida para os visitantes; se esta visita fosse ao cair da tarde, elas se encarregariam de acomodá-los até o dia seguinte. E durante a noite, algumas com ordem do anfitrião se encarregavam de tomar conhecimento sobre o que estivesse acabado nos tabuleiros para repô-los, para que no dia seguinte pudessem continuar sua peregrinação com tranquilidade. Ao amanhecer então, após terem tomado um café reforçado era chegada à hora de partir, então todos se voltavam para o dono do barracão visitado batiam paó e a benção. Um responsável pelo cortejo dizia: “EREBE OLORÚNSAN, BABA MIM, ADUPÉ”, Deus lhe pague por tudo meu pai, obrigado. E escutavam um alegre: OLÓRUN ÍBEWÓ SAN, e Deus lhe paguem pela visita, e assim a comitiva seguia em frente para completar sua peregrinação. Quando retornavam ao seu barracão de origem eram recebidos com festa pelos seus superiores, irmãos e outros que faziam parte de sua comunidade.
Nesta mesma noite ou na noite seguinte tinha início à segunda parte do ritual com o sacrifício dos animais oferecidos aos orixás. Para então começar os festejos próprios do Olubajé.
Para falar de OLUBAJÉ é preciso me reportar ao início do século XX até os meados dos anos noventa, quando este ritual e suas oferendas eram sinônimos de fé, amor e paz. Este era o momento pelo qual às comunidades que professavam o candomblé reuniam seus adeptos e simpatizantes para festejar o deus das doenças de pele, Obaluayê. Momento este que seria aproveitado para agradecer a ele a proteção recebida contra todos os tipos de doenças e também para pedir paz e saúde para sua vida como para os seus. A comunidade e seus simpatizantes se reuniam na maior união e comunhão de fé para preparar os alimentos para um abundante banquete que seria oferecido a todos os presentes nos festejos em homenagem a Obaluayê. Este era um momento de reflexão em busca de saúde, paz, liberdade, compreensão e união. Ocasião de extremo respeito, pois ali estavam também em busca de milagres para alguns males que estivesse a afligir, não só a si como para os seus. Sabiam também que este era o momento único no decorrer do ano que todos tinham com exclusividade não só agradar e reverenciar o Deus da peste e das doenças de modo geral, como também cantarem seus lamentos, dançarem, além de serem agraciados com um rico repasto dedicado a ele.
A PALAVRA OLUBAJÉ
.....Ademola Adesoji, em seu livro “Ifá-A Testemunha do Destino e o Antigo Oráculo da Terra de Yorubá”, escreve: bàjé = estragar.
Dr. Eduardo Fonseca Junior, grande mestre africanista e historiador em seu “Dicionário-Yorubá (Nagô) Português”, escreve: bàjé = corromper, estragar (agora como corruptela afro-brasileira); bájé = menstruação e bajé = comer com alguém. Assim como outros escritores fidedignos, nenhum coloca olubajé como elemento de despacho como alguns acreditam e fazem questão de passar para os incautos. A palavra Olùbàjé designa o ritual onde são servidos alimentos aos participantes em uma verdadeira comunhão com o Deus da Varíola. A mesma palavra, com gráfias diferentes Olùbáje nos leva a um outro significado “Senhor da Putrefação”, um dos títulos de Obalùàiyé visto que as doenças sob seu dominio fazem com que suas vitimas apodreçam ainda em vida.
Então, vejamos:
Bajé = convite para comer.
Olu = senhor, mestre, dono.
OLUBAJÉ = CONVITE PARA COMER COM O MESTRE.
Termo original: OLU BA NI JÉ = O MESTRE NOS CONVIDA PARA COMER.
Com a elisão o I é derrubado, ficando apenas OLUBANJÉ = COMENDO COM O MESTRE........
........UM MANÁ DOS DEUSES
OBALUAYÊ: deus da peste, da varíola, da catapora, das doenças de pele, etc.
Seu banquete era e é composto de um tipo de comida específicos para cada orixá, e de dois ou três tipos especifico para ele, além disso, os animais anteriormente sacrificados em sua homenagem. Tudo deve ser preparado com muito amor, carinho e respeito; tudo muito bem cozido e condimentado, a base de: camarão defumado, cebola, gengibre, noz moscada, kioiô, gergelim, gemas de ovo, sal, azeite doce, azeite de dendê, etc. O necessário para que o seu banquete se torne não só o mais saboroso possível, como também medicinal pela ação de ervas, raízes e frutos contidos no seu preparo. Muito tem se discutido a quantidade de iguárias que devam ser oferecidas durante a cerimônia... em meu conhecimento são num total de 21 comidas, 7 de caráter publico e 14 de caráter privado, que permanecem em uma esteira dentro do Quarto de Santo
Enquanto as pessoas filhas de yabás se desdobram no preparo das comidas, um outro grupo colhe folhas de mamona as lava e as enxuga para só então colocá-las em um balaio para que nelas sejam servidas as comidas.
DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS
Este era e é um momento mágico, que todos esperam, o qual tem início logo pós as louvações com cânticos e danças de todos os outros orixás. Neste instante começa o ritual do OLUBAJÉ. Quando então, ao som dos atabaques, vão saindo do quarto de santo onde as oferendas estão arriadas e imantadas pela energia dos orixás e pelos orins e àduras (cânticos e rezas). Em primeiro lugar vem a yalorixá ou babalorixá com seu adjá puxando o cortejo; em segundo uma yabá carregando uma ou duas esteiras, em terceiro um filho (a) de santo carregando o balaio contendo as folhas de mamona, e em seguidas, filhos e filhas, ekedes, ogans, etc. trazendo sobre suas cabeças as panelas, oberós ou bacias contendo os alimentos, os quais devem ser depositados sobre as esteiras estendidas no centro do barracão, para serem distribuídas a todos iniciados ou não. Após comerem o que desejarem junta as pontas da folha que pode estar totalmente vazia ou não e rodam em torno da cabeça três vezes, para só então depositarem dentro de outro balaio que já está a disposição para este fim, pois tudo faz parte das oferendas e logo no amanhecer do dia seguinte irá ser entregue às águas ou as matas.
Outra fato importante, é que o cântico, tanto da saída do quarto com os alimentos sobre a cabeça, como enquanto se alimentam até o final da distribuição dos mesmos quando se dá por encerrado este ritual deve ser este:
E ajeun bó
Olubajé ajeun bó
E, contração de èyi = isso, isto, este, esta.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Olubanijé = Olubajé = convite para comer com o mestre.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Tradução: ISSO É COMIDA PARA NOS ALIMENTAR, O MESTRE NOS CONVIDOU PARA COMER.
oloje iku ike obarainan
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ResponderExcluirNo título do presente texto, lemos: "XAPANÃ/SAKPATA/NSUMBO - SEGUNDO PIERRE VERGER". Contudo, ao que eu saiba, em nenhuma de suas obras, Pierre Verger dissertou sobre o Nkisi Nsumbo. Nem tão pouco sobre nenhuma outra divindade, historicidade, costumes e mitologia Bantu. Detendo-se e aprofundando-se, quase que exclusivamente, à cultura Nagô-Yorubá.
ResponderExcluirSendo que o próprio texto, em momento algum discorre sobre Nsumbo. Apenas evidencia seu sincretismo na diáspora, com divindades de outras culturas africanas.
E no meu entendimento, creio que já é hora de começarmos a interpretar e decodificar os textos dos pesquisadores. Que a exemplo de Verger, apenas registraram o que viram, o que lhes foi dito e o que entenderam. Sem contudo, aprofundarem-se em significações simbólicas, conceitos filosóficos e dogmas religiosos que sustentam os cultos por eles pesquisados.
Em todos os blogs que visito, me deparo com uma exaustiva reprodução dos textos deixados por esses pesquisadores clássicos, sobretudo Pierre Verger.
Mas não a nenhuma preocupação em comentá-los, e muito menos, nenhuma tentativa em interpretá-los. E não é somente em relação aos orixás, mas também sobre Egungun, Iyami e sobretudo os textos dos Odú do Ifá.
Uma vez que esses textos são apresentados por religiosos, convenhamos, é um verdadeiro absurdo.