quinta-feira, 3 de outubro de 2013

                            JEJE-MAHI - ROÇA DO VENTURA



ROÇA DO VENTURA



Para se sentar na cadeira de Gayaku da Roça do Ventura tem que ser feita (iniciada) para o vodun Sógbó (sobô), ou Azonsú (lá Azansu) ou para Gbesen (Bé-sém), lembramos que no Ventura a Gayaku é termo dado aquelas que iniciaram pelo menos 1 filho para um vodum da família nagô (Ogun, Odë, Iyemoja, Osun,..., lá não se inicia Iyewa, nem Oba, nem Logunëdë)
Bem, a fundadora foi Ludovina Pessoa, que era iniciada de Ogun (um vodum nagô) obviamente ela não era iniciada de Azonsú, nem de Sógbó e nem de Gbesen, e obviamente não se sentou no trono, tendo-se aliado a Maria de Azonsú da família de Modubi (de José Maria de Belchior, originária do Terreiro do Pinho - Hunkpame Dahomé) da roça de cima para fundar a roça de baixo empossando uma de suas filhas (de Gbesen).
A lógica é que para sentar no trono de Gayaku tem que se iniciar lá um vodun nagô e ser iniciada para vodum propriamente dito, embora o conceito de vodum nagô varie dentro das ramificações do jeje. Por que isso? Isso porque Gbesen é o espírito da vida e assim sendo não compactua com nada que lembre a morte, daí o uso de sempre-vivas em preceitos como o gbo-etá (boitá), do beeko (quizila) com flores dignas de se cobrir defuntos, do não estabelecer casa de egun (asen), etc. como havia na roça de cima (de Modubi) etc.
Os mahis na realidade cultuam voduns que se relacionam diretamente com os orixás e deles tiveram origem de culto na África, e de sua região mahi. Assim comumente ouvimos sou de Sango de um filho de Sógbó e o mesmo de um filho de Aira (lembramos que sacerdotes do Benin afirmam que Sógbó é Sàngó).
Na roça de cima o termo gayaku herdado pelos modubis e pelos hoje, então, descendentes, designa aquela que é dirigente de um culto voltado aos voduns de nagô (um Nagô Vodum antigo), e não necessariamente a que inicia um vodum desta família, o título foi repassado com a criação da roça de baixo. Visto que Azonsu é termo próprio da família de Modubi.
Eguns e voduns que tiveram vida terrena como os reais do Dahomey não são cultuados em Mahi, todos os antepassados da casa são reverenciados (ja avalu) saudando-se e ofertando-se ao vodun Ayizan, sempre à frente da casa principal conforme Ajahuto o fez em Allada.
Os voduns mahis seguem conforme os orixás nagôs, são aqueles que de alguma forma morreram, seus corpos não foram encontrados, despareceram, subiram ao céu ou desceram pela terra, enfim se há sepultura (como a dos reis do Dahomey) não é cultuado como vodum Mahi.


Obs. Esse assunto é referente ao Jeje Mahi no Brasil e não no culto de voduns mahis no Benin onde reina Ainon (Sakpatá). Atualmente vemos o maravilhoso e reedificado asen de Savalou em memória à ancestralidade real do Palácio de Savalou. 
O Jeje Mahi de Cachoeira, Bahia e do Bogum de Salvador, Bahia (da mesma fundadora) tem como divindade principal Gbesen, que é do culto de Dàn de local próximo.

oloje iku ike obarainan



SAGBEJE

SAGBEJE
Cerimônia afro-brasileira, onde as mulheres em um tabuleiro forrado com milho-alho estourados, das quais elas denominam de “flor do velho”, carregam o principal emblema de Obalùàiyé o Sasara-owo seus colares de conta, terra-cota, corais e búzios. Este “tabuleiro” a representação mítica desta divindade, visita sete Terreiros diferentes durante os sete dias que antecedem os Ritos doOlùbàjé. Ao chegar a cada Terreiro, este será recebido ritualisticamente onde serão entoadas orações e rezas à Obalùàiyé e Nàná. Durante este ritual, será depositado aos pés do tabuleiro, senão aos próprios pés de Obalùàiyé grãos e uma quantia em dinheiro que serão de uso exclusivo nas despesas do Olùbàjé. Cada membro do Terreiro receberá uma porção de gbùgbùrù (pipoca) e desta saberá como proceder.
Interessante notar que a palavra sagbe – significa pedir esmola e a palavra je – comer; então a palavra sagbeje poderia perfeitamente ser interpretada como “pedir esmolas para comer”. Obviamente que não podemos levar a palavra “esmola” num sentido pejorativo e sim entender que há uma troca entre o homem e a divindade. Troca esta que ao darmos grãos e dinheiro para comprar “comida” para “O senhor da terra” este nos dá um de seus principais grãos que nutrem o homem – o milho. Os antigos dizem que aqueles que participam do terão vida próspera e nunca há de faltar comida em casa, pelo menos os grãos.
Quando da Cerimônia do Olùbàjé este “tabuleiro” será apresentado no salão, carregado por Oya, onde será distribuído uma porção de gbùgbùrù e muitos que recebem o milho, em gratidão acabam por depositar algumas quantias em dinheiro sobre os grãos. Em algumas linhagens o sagbeje sai antes da “mesa” e em outras depois da “mesa”.
Por favor não confundam o sagbeje com aquelas pessoas vestidas de baiana que ficam com uma peneira em pleno sol do meio dia, distribuindo milho de pipoca americano e arrecadando dinheiro. Este tipo de procedimento nada tem haver com a nossa ritualística.

oloje iku ike obarainan



Um comentário:

  1. Em um mito, é dito que certo dia Obaluaiê decidiu testar o coração dos homens. Então assumindo a forma de um mendigo maltrapilho, saiu em peregrinação pelas estradas empoeiradas do mundo.
    Nos lugares habitados em que chegava, rogava por misericórdia e pedia comida e água fresca.
    Naqueles onde era recebido com benevolência, ao ir embora fazia com que os campos se tornassem imensamente férteis e produzissem um safra extraordinariamente abundante. Abençoava igualmente as águas, que passavam a realizar curas milagrosas nos enfermos.

    Mas nos locais, onde era humilhado com insultos, enxotado a pedradas e tratado sem piedade. Tornava os campos inférteis, dizimava as colheitas com pragas e secava as águas. Ao voltar a suas andanças, deixava um vento ruim que provocava muitas doenças.

    Essa é a origem do sagbeje, quando Obaluaiê assumiu a forma humana para testar a compaixão e boa vontade dos homens.

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