quinta-feira, 31 de outubro de 2013

                         Sasányìn – O culto as folhas sagradas.


Em uma casa de candomblé, um dos elementos principais e que requer grande sabedoria são as folhas. Sem esse entendimento não haverá a presença do Orixá, o velho provérbio das casas: Kó sí ewé, kó sí Orixá! Sem folha não há Orixá.
Ter os conhecimentos das folhas que vão participar dos banhos purificatórios, combiná-las com suas propriedades específicas adequadas a cada Orixá, a cada Orí, na confecção do adòsú, na preparação da ení do futuro ìyàwó como forma de proteção e fortalecimento, no àgbo do banho do ìyàwó para purificá-lo, como também como bebida e remédio e o próprio transe na incorporação da energia, estabecendo equilíbrio e inconciência. A quantidade de folhas no àgbo varia de casa para casa podendo ser quatro folhas ou múltiplos de quatro e combinando a essência,(quente/fria, macho/femea) equilíbrio.
O Olosányìn é o responsável pelas ervas, folhas e vegetais em geral, este cargo está diretamente ligado aos zeladores da casa, dada a sua importância e responsabilidade, caso não existe um Olosáyìn ou Babalosáyìn, o próprio Babalorixá ou Iyalorixá cumprirá essa função, não podendo delegar a outro filho.
As folhas quando chegam na casa devem primeiramente descansar por algum tempo, depois devem ser bem lavadas por quem irá macerá-las, são colocadas sobre a ení para que o Babalorixá ou Iyalorixá possa rezá-las com cântigos das folhas ou de cada fôlha especificamente de frente para os Ìyàwós que se encontram Kúnlè. O Bàbá ou Ìyá abrirá um Obí, confirmará as folhas escolhidas, mastigará o obí espargindo-os sobre as folhas com seu hálito, seu axé, suas palavras mágicas, para logo depois soltar as folhas para macerar, separando os galhos, caules e folhas feias para o lado, em silêncio, com uma vela ou fifó aceso à frente, sem pressa e rápido, o banho do aríàse do Ìyàwó. Vale ressaltar que após a masseração, o banho descansa um pouco e o que sobrou do banho, já cuado, irá para o ojúbo de Òsanyìn da casa, para depois ser despachado nas águas do rio ou mato.
Todas as obrigações, além da iniciação, em que tiver sacrifício de animais de quatro pés, serão sempre precedidos dessa liturgia sagrada sendo um orô obrigatório, sempre com louvação a Pai Òsányìn, no qual chamamos comumente de Sasányìn ou seja Asá Òsányìn, que são feitos no primeiro dia após iniciação, no terceiro e sétimo dia. Há também o ebó de carrego de toda a obrigação que o próprio Ìyàwó participa que é entregue a Èsù Òdàrà em seu ilé, para que de tudo certo e proporcione tranquilidade aos rituais secretos internos do àse.
“Korin Ewé”, isto é, cantar Folhas em louvar a Òsányìn, aos animais que participaram da obrigação, aos Bàbás, Ìyás, ancestrais, aos ègbóns, sua raiz e àse, Ogans e Ekedis, aos Orixás e ojubós da casa, a Òrúnmìlà e por fim a Òsàlá. Finaliza-se o culto com os cântigos das três águas, o omièrò de àse, reverenciando o Màrìwò e Òsányìn.
“Biribiri bí ti màrìwò
jé òsányìn wálé màrìwò
Biribiri bí tí màrìwò
Bá wa t’órò wa se màrìwò”.
Algumas casas tradicionais tem um esquema fixo de folhas combinadas para banhos de àgbo pra casa, para obrigação, para o àse, para o osé, etc.
Um dado litúrgico importantíssimo é que as folhas acompanham os assentamentos de todo e qualquer Orixá quando estes vão comer, acomodando o assentamento, como também o ìgbá Orí quando o Orí vai comer. As folhas combinam de uma forma mágica misturadas e essencialmente equilibradas e de acordo com cada Orixá e sempre frescas.
Obs: Não se toma banhos de àgbo velho que pode estar passado ou estragado, pois as ervas perdem sua função litúrgica.
Pai Òsányìn gosta de um fumo de rôlo no cachimbinho de barro, se disfarça num lagarto, num galho seco que Eyé pousa, pula numa perna só, gosta de vinho de palma, fradinho torrado com mel, frutas, alquimista, solitário e um grande Pai que está presente dentro do àse das casas ketu/Nagô.
Sãos as folhas secas que nos fornecem um bom defumador para inúmeras finalidades, são com folhas que fazemos vários tipos de ebós de sacudimento de egun, e quantas dietas fazemos com folhas? vários comidas de Orixás.
São 21 os korín ewé entoados e a primeira Ewé é o Pèrègún, a folha ancestralizada: asà o, erù ejé.
“Pèrègún àlà wa titun o
Pérègún àlà titun
Bàbá pèrègún àlà o merin
Pèrègún àlà wa titun”
Só Òsányìn conhece os segredos das folhas, só ele sabe os ofós que despertam seu poder e força, conectar com essa magia é o grande Awo, o ejé verde é fundamental em toda liturgia.
Òsányìn Elesekan, Irúmalé àgbénigi, Òsányìn Onísegùn Ewé ó Asà!
Ewé Òrìsà!
oloje iku ike obarainan


Por oloje iku ike obarainan 
(Texto registrado no EDA/FBN: nº 450.599 – Livro 846 – Folha 259)
Quem de nós, adeptos do culto de Òrìsà, não conhece a pena de cor vermelha denominada ìkóòdíde? Amplamente utilizada em nossos rituais? O que muitos não sabem, como eu também não sabia, é que essas belíssimas penas estão presentes somente na cauda de um papagaio africano que tem o restante das penas acinzentadas.
Quero fazer um convite ao amigo leitor para conhecermos um pouco sobre este papagaio africano, e assim entender a simbologia de ìkóòdíde dentro do culto de Òrìsà, pois como nos ensina Juana Elbein dos Santos: “…desvendar as correspondências dos símbolos e os interpretar nos permite explicar os conteúdos do acontecer ritual.” (2002, p. 24;25)
Denominado Odíde entre os Yorùbá, o papagaio cinza africano ou papagaio do Congo, pertence a espécie Psittacus erithacus, é exclusivamente africano e originário da África ocidental e central, desde a Costa do Marfim até o Congo. É uma ave de porte médio que mede de 35 à 40 centímetros, a cor base de suas penas é o cinza, mas escuro na parte superior do corpo que no peito e ventre, terminando na cauda curta e quadrada de cor vermelho carmim, a região em torno dos olhos é branca e desprovida de penas. Não existe diferença na aparência entre machos e fêmeas e pode-se calcular que uma ave desta espécie viva até aos 70 anos.
Vivem aos pares, e em grandes bandos, ocupando as floretas de planícies, savanas com árvores e ocasionalmente plantações, particularmente de palmeiras, pois sua comida preferida são as “nozes” das palmeiras ricas em óleo. Apresentam quase que constantemente um comportamento monogâmico, podendo levar ao óbito do companheiro a ausência do outro. Na época do acasalamento o par abandona o bando e ambos se revezam no choco.
A sua cor cinzenta em “degrade”, terminando na cauda de cor vermelho carmim, são características únicas, no entanto, as particularidades que o caracterizam no mundo inteiro, mesmo para as pessoas que têm poucos conhecimentos sobre papagaios, são a sua habilidade de repetir palavras e a sua inteligência. É comum entre os papagaios a reprodução de determinadas frases ou sons, mas o papagaio cinza africano distingue-se dos seus parentes por ser considerada uma das espécies de pássaros mais inteligentes do mundo, já tendo sido comparado com golfinhos e chipanzés.
Essas habilidades do papagaio cinza já eram mencionadas em antigos documentos gregos e romanos, ao ponto de ser citado por Plínio, um naturalista romano, na sua “História Natural”.
Infelizmente este papagaio tem vindo a desaparecer dos seus hábitats naturais devido ao desflorestamento e à sua captura para o mercado de animais de estimação.
Os portugueses, primeiros europeus a explorar a costa ocidental da África a partir do século XV, qualificaram os negros de origem Yorúbá, assim como outros de origem africana, de “animista”, por considerarem todos os seres da natureza dotados de vida. Na verdade ele concebe que toda manifestação viva, seja ela, animal, mineral, ou vegetal, é dotada de uma “força vital”, denominadaìpònrí, que pode ser usada a seu favor.
A partir desse olhar passamos a compreender que cada elemento utilizado nos diversos rituais possui uma força específica, em outras palavras, um àseespecífico, e conhecê-lo torna-se fundamental a fim de que possamos direcioná-lo para o objetivo que queremos alcançar.
Ora, vimos que esses elementos têm um significado simbólico, sendo assim a pena ìkóòdíde representa o próprio papagaio cinza com todo o seu potencial, e utilizá-la significa trazer para nós todo este poder.
Entre os Yorùbá tradicionais, as diversas formas de ebo funcionam como “mensagens codificadas”, ou seja, cada elemento que o compõe reflete uma necessidade do indivíduo a ser entendida e atendida por Olóòrun, o criador de todas as coisas, logo, utilizar a pena ìkóòdíde significa buscar atributos como a longevidade, pois vimos que Odíde pode chegar aos 70 anos de vida; inteligência, pois vimos também que é um dos pássaros mais inteligentes do mundo e estabelecer uma relação familiar com nossa ancestralidade, pois vimos o quanto são fortes as relações familiares dessa ave, tanto no nível conjugal, como no nível grupal.
Ìkóòdíde está presente também no igbá orí. Dentro do culto de Orí, na cultura Yorùbá, mantém-se organizado o igbá orí, uma kabasa redonda que representa simbolicamente a nossa cabeça interior ou espiritual – orí inú. Nela estão contidos vários outros elementos, respeitando a individualidade de cada cabeça, e de acordo com as características e propriedades de cada um deles.
Verificamos também que ìkóòdíde está presente nas “representações materiais” de Èsù, aquele que “é o princípio da comunicação;… o mensageiro no sentido mais amplo possível: que estabelece relação do àiyé com o òrun, dos òrìsà entre si, destes com os seres humanos e vice versa. É o intérprete e o lingüista do sistema.” (Juana Elbein dos Santos, 2002, p. 165). Èsù, tem ainda o título deenúgbáríjo – boca coletiva – por representar os òrìsà e nós, humanos, diante de Olóòrun.
Fica claro que a pena de ìkóòdíde entra na representação material de Èsù, a fim de simbolizar a sua capacidade de comunicação, inerente também ao papagaio odíde.
Há um ìtan entre os Yorùbá tradicionais que conta que Odíde não foi sempre cinzento e nem tinha as penas da cauda vermelhas:
Olóòrun decidiu promover uma competição para ver qual pássaro tinha as penas mais bonitas, assim todos os pássaros do mundo começaram a se preparar, melhorando a sua beleza. Naquele tempo, Odíde tinha a plumagem toda branca e, ao contrário dos outros pássaros, não fazia nenhum tipo de preparação. Os outros pássaros começaram a ficar preocupados e queriam saber por que, enquanto eles se preparavam tanto, Odíde não estava fazendo nada. Eles se uniram e resolveram estragar a beleza natural de Odíde jogando cinzas em cima dele, só que não teve o efeito esperado, pois as cinzas se dispersaram com o vento. Procuraram então um feiticeiro, que lhes deu um preparado mágico que transformaria as penas da cauda dele em vermelhas. Os outros pássaros ficaram bastante confiantes que Odíde, agora, não participaria da competição.
Só que, ao contrário do que eles pensavam, Odíde não só participou da competição como ganhou, Olóòrun o premiou dizendo que ‘Odíde era realmente o pássaro mais bonito, porque a verdadeira beleza está do lado de dentro do ser’.”
Em território Yorùbá, quando reis são coroados, ou quando pessoas ingressam no sacerdócio religioso, trazem sobre a cabeça uma pena vermelha da cauda deOdíde, para os lembrar que a verdadeira beleza é a interior. Ritual este que foi mantido no Candomblé brasileiro.
Um certo papagaio chamado “Alex”: Destaque de programas de TV e de artigos científicos, “Alex”, um papagaio cinza africano, ganhou fama pelos EUA e pelo mundo por sua capacidade de comunicação.
A ave foi comprada pela psicóloga americana Irene Pepperberg, pesquisadora das Universidades americanas Brandeis e Havard, em 1977 em uma loja de animais de estimação, quando tinha 1 ano de vida. As pesquisas dela com este papagaio renderam avanços científicos significativos sobre cognição das aves. Foi a partir desses estudos que se descobriu que papagaios não apenas repetem sons, mas são capazes de entender conceitos.
Usando novos métodos de ensino, Pepperberg estimulou Alex a aprender grupos de palavras e a contar pequenas quantidades, além de fazer o reconhecimento de cores e formas. Alex chegou a chamar uma maça de “banereja”, porque a fruta é vermelha por fora (como a cereja) e branca por dentro (como a banana).
oloje iku ike obarainan

                                                          
                                                            Egún antes do òrìsà.


A maioria das pessoas que descobrem o caminho de Ifá (A voz de Olódùmarè) e são direcionada inicialmente para a religião pelo glamour de um ou dois òrìsà ou pela promessa de poder.
Outros vêm à religião pela adivinhação, eles estão buscando respostas para seus problemas e soluções para situações difíceis.
Ifá é conhecido em todo o mundo por possuir um dos sistemas oracular mais preciso da história humana. E o òrìsà é certamente um panteão dinâmico e fascinante de divindades que estimulam o fascínio, a curiosidade, e eventualmente, a devoção. No entanto, as doutrinas de Ifá não são apenas sobre adivinhação, a sua principal preocupação é a evolução espiritual da humanidade. E os nossos mais fortes aliados na luta para evoluir (depois do nosso próprio òrìsà) são nossos ancestrais, conhecido em iorubá como o Egún. O Egún não é um ser glamoroso envolto em miçangas e girando através do Universo com os seus fantásticos poderes cósmicos para moldar as forças da Natureza. Eles são representados pelo pano, o pano rasgado representa a passagem do tempo, o desvanecimento da existência física. Eles não são òrìsà, eles são seus próprios parentes.
Os Egún são os membros do seu sangue em linha direta que voltaram para o outro reino, seus tios, tias, avós e parentes tão antigos que você não conhece seus nomes. Eles permanecem ligados a você pelos laços de sangue e mantêm um profundo interesse em seu bem-estar. É importante notar que Egún são antepassados reverenciados, o que significa que eles viviam uma vida digna e de honra. Eles não são apenas pessoas mortas, mas os mortos sagrados, os mortos reverenciados. Pessoas que estão envolvidas em atos de maldade ao longo de suas vidas, não são dignas de tal honra e geralmente não recebem homenagem como Egún. Aqueles que morrem em desgraça necessariamente não evoluem simplesmente, porque eles têm uma transição para o reino etéreo enquanto ainda podemos orar por eles, eles não são os mesmos ancestrais honrados, ou Egún. Eles são simplesmente mortos.
O Egún tem um papel diferente do que o Òrìsà em nossas vidas. No Ocidente, onde muitos adeptos e devotos de Ifá são muito influenciados pela Santeria/Lukumi, o Egún, é referido como “los muertos”, muitas vezes desempenham um papel secundário para o Òrìsà. No entanto, na Tradição Africana a veneração dos antepassados ​​é muito importante e isso se aplica aos seguidores de diferentes religiões. Leigos e sacerdotes igualmente honram os seus antepassados ​​com oferendas, orações e rituais de honra. O Egún é frequentemente mais influente em nossas vidas do que o òrìsà, porque enquanto o òrìsà é muito poderoso, eles também são impessoais, ou seja, destacados por nós. Embora a personificação do òrìsà os torne um pouco cognoscíveis e acessíveis para os seres humanos, estes últimos são na verdade forças Universais, fenômenos naturais, os princípios espirituais, as leis matemáticas e científicas (loas) que não são pessoalmente interessados nos assuntos dos seres humanos. Isso geralmente vem como uma surpresa para os devotos mais novos, que preveem que, quando eles colocam uma laranja no altar para Osun, ela ouve e responde com um favor. Isto realmente não funciona assim. O òrìsà não ouve as nossas vozes, é por isso que Èsù é conhecido como o Mensageiro Divino do Òrìsà. Ele não só transmite mensagens entre os deuses e o Criador, ele também tem a mesma função entre os seres humanos e as divindades. É por isso que se fazem oferendas a ele primeiro. Isto não quer dizer que o òrìsà não responde às nossas orações ou influencie em nossas atividades, eles certamente fazem.
Mas a nossa comunicação com eles não é direta, a nossa comunicação com nossos antepassados, no entanto, é direta e cara a cara. Aqueles que desenvolveram as habilidades de mediunidade ou são naturalmente talentosos podem ter conversas diretas com os seus antepassados. Nossos ancestrais estão pessoalmente investidos no nosso bem, assim como uma mãe é investida no bem-estar de seus filhos. Quando chegamos diante deles com a nossa dor, nossas lágrimas, nossos dilemas, seus corações são movidos em nossa direção. Eles trabalham a partir dos reinos espirituais para consertar nossos casamentos e relacionamentos em crise, para trazer a paz entre parentes que brigam, para advertir-nos de traição imprevista e tragédias, que nos levam a considerar alternativas superiores em nossas vidas, e muito mais. Sua visão de vida é muito maior do que a nossa, eles têm visto muitos ciclos mais e atingiu grande sabedoria e poder espiritual. Eles também não são sobrecarregados com corpo físico e pode, portanto, mover-se muito mais livremente do que podemos. O Egún é uma força incrível e nós somos sábios para honrá-los e incentivá-los a exercer os seus poderes em nosso nome. A relação entre os vivos e os mortos não é unilateral. Nossos antepassados ​​também precisam de coisas de nós. Eles precisam de nossas orações, nosso amor, nosso perdão, nossa lembrança e as ofertas, por vezes, específicas, tais como alimentos, bebidas, orogbo e claro, água. Pessoas de todas as origens raciais e étnicas devem honrar os seus antepassados é do interesse do desenvolvimento espiritual. Povos ocidentais de ascendência africana estão na posição única de ter gerações de seus antepassados ​​ espalhados por todos os oceanos do mundo, tantos homens esquecidos, mulheres e crianças que viveram e amaram. Alguns estudiosos estimam que milhares de africanos estejam no fundo do mar, vítimas do bárbaro tráfico de escravos transatlânticos. Incontáveis ​​milhões de outros foram abatidos aqui na América do Norte, Central e do Sul e as ilhas do Caribe. O seu sangue, juntamente com o dos nativos americanos, ainda está gotejando abaixo do solo que pisamos. Claro, os outros vão tentar diminuir esse número em seu próprio interesse, mas os números exatos são imateriais. O ponto é que quase todas as pessoas de ascendência africana que vive no ocidente e cuja família está aqui há gerações tem uma dívida enorme de gratidão, a solenidade, respeito e devoção a seu / seus antepassados. Eles suportaram com sofrimento como a entidade humana pôde suportar, de forma que pudéssemos viver. Muitos dos nossos problemas sociais é o resultado de não honrar devidamente a nossa herança, para que o nosso Egún curado possa nos dar força para superar as atuais circunstâncias. Um ancestral lesionado que tenha sido esquecido não tem poder para ajudar os seus descendentes. Mas aqueles que começam a honra e prestar homenagem aos seus ancestrais percebem o valor de fazê-lo.
Vão mudar a suas vidas. Parentes perdidos vão se reunir, até os problemas no casamento e com as crianças começarão a ter soluções com mais facilidade, a nossa “intuição” se torna mais forte e mais focada e as bênçãos e boa sorte começam a entrar na vida daqueles que honram seus antepassados.
Com veneração adequada, ganhamos o benefício da sabedoria dos nossos antepassados, nossos aliados mais importantes e nós também iniciaremos a cura para os males do passado.
oloje iku ike obarainan


                                                  O Rito do Zandró

A Nação Jeje comporta em seus fundamentos um vasto número de preceitos, tradições e rituais que a diferencia significativamente da cultura Nagô e, embora atualmente uma grande parte das casas de culto Jeje aos Voduns estejam, digamos assim, “nagonizadas”, muitas ainda mantém firme os ritos e fundamentos religiosos passados para nós pelos nossos queridos antepassados e por nossos ancestrais africanos. Pelo rito do Zandró – fundamento pertencente exclusivamente à Nação Jeje – o Povo do Vodun presta sua reverência aos que vieram antes e que hoje são para nós a memória do nosso povo.
Este ritual é de fundamentos por demais secretos, por isso, coloco aqui apenas a breve definição do mesmo.
A palavra Zandró  significa vigília e é uma cerimônia que se inicia ao cair da noite e vai até a madrugada. É uma cerimônia específica e particular para cada Casa de Culto, dedicada aos ancestrais daquela casa. No Zandró também se louvam os Voduns, os ancestrais. É um ritual firmado por uma sequência de cânticos e louvores específicos.
Há Voduns em particular como Ayizan – senhora dona do “gancho” da memória ancestre e dos antepassados – e, Azli Tògbósì (Aziri Tobosi) – a grande mãe jeje-mahi dos voduns – que recebem reverencia exclamativa neste ritual. Ayizan é vínculo para se reverenciar os antepassados; como não se cultua kukuto (egun, mortos) no Jeje-Mahi, é através dela que se prestam as reverências a eles. Aos pés do àtínsá (árvore sacra) de Ayizan são depositados vários pratos e ofertados a ela, num ato que muitas casas denominam “fundamento dos pratos”. As vodunsìs cantam para Ayizan ajoelhadas na esteira, batendo palmas e acompanhadas de cabaças (zàn). Aziri Tobosi recebe as comidas de todos os Voduns. A sequência de louvação no Zandró se inicia em Ayizan e termina em Aziri Tobosi.
O cerimonial do Zandró antecede as festas públicas (dòrozàn) do jeje-mahi, e é tido como um convite que se faz aos voduns para virem a festa, e seria o correspondente jeje do padê dos nagôs, embora não exista relação de culto entre os dois. É uma cerimônia restrita não podendo pessoas de fora participarem.
oloje iku ike obarainan

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

  ÀBÍKÚ                            000017213087.jpg
A= Nós;               BI = significa VIDA                     IKÚ = significa MORTE


NÓS NASCEMOS PARA MORRER VARIAS VEZES, por acaso é novidade? Para mim os espíritos ÀBÍKÚS têm ligação direta com a vida e a morte. São espíritos muito evoluídos.  Brasil se conota a morte como uma coisa terrível, mas ela é a certeza da vida, de tudo no mundo a certeza maior é que nascemos para morte, com isso da mesma forma que se agrada a vida se agrada a morte.
A religião espírita como um todo admite e cultua a reencarnação, portanto sabemos que não existe a chamada “morte”, pelo menos temos certeza que bonitos e ricos irem para um lado e pobres e feios para o outro não passa de chacota.
C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\COMPLEMENTOXADREZ JOGO.jpgComo no término de um jogo de xadrez, rei, rainha, cavalo, peão, amigos e inimigos vão todos para a mesma caixa.
A realidade é muito mais complexa, perfeita, mesmo que tenhamos que conviver com situações de sofrimento, dor, agonia, e tantas sensações outras para a redenção, evolução.
Da mesma maneira que existe o sofrimento no surgimento da borboleta, necessário para fortalecer a suas asas e o corpo como um todo, também é necessário ajustes para que o ser humano evolua.
Impossível ao longo de uma jornada de milênios querer em uma encarnação resolver todas as pendengas, até por que, adquirimos umas tantas outras.
Reencarnação sucessivas, organizadas, administradas por mentes evoluídas e em evolução é a medida mais correta e isenta.
Todos somos iguais para o PAI clemente e misericordioso, que ousamos chamá-lo de GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, Perfeito, simplesmente perfeito em todas as suas formas de realização.
Acreditamos que continuamos com nossa individualidade, mantemos nossa personalidade mesmo despojados do corpo físico.
Esse sim descartável.
Ora se não é uma isso uma certeza de vai e vem?
Não admissível então que nasçamos com uma certeza, que voltaremos a esfera espiritual, ou seja, morreremos para as coisas terrena, materiais.
Então por que tanto alvoroço, tanta especulação, em relação aos ÀBÍKÚS?
São espíritos de crianças marcadas por várias mortes e retornam, reunindo-se numC:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\ABICUS CRIANÇA NAS ARVORES.jpg pé de Irocô para brincar e chamar as crianças-ÀBÍKÚ vivas.
Da mesma forma que temos os exús, caboclos e demais entidades que servem de intermediários entre nós e as entidades superiores possuem entidades que fingem ser elas para executar tarefas e mentiras em nome das verdadeiras, temos nós os ERES-IBEJIS, que tendo formas infantis trabalham na intermediação entre os orixás e nós, mas também sofrem a mesma situação, pois muitas crianças desejosos de manterem-se na vida espiritual, ou usar de meios energéticos sutis, usam desses meio para executar sua justiça degradante com as pessoas encarnadas, com as crianças, com a sociedade.
Falange, grupo muito bem estruturado e claro que contam com ajuda de entidades "adultas" para a execução de tarefas principalmente a vingança.
As mortes destas crianças geralmente foram mortes violentas, acidentes com mutilações ou comprometimentos de órgãos. Se encaixam nesse grupo os que foram vítimas de homicídios, principalmente com requintes de crueldades. Crianças vitimas de abortos, crianças abusadas fisicamente e mentalmente.
A crença de que os ÀBÍKÚS são entidades maléficas, se da em parte ao problema físico que em muitos casos eles ocasionam para suas mães.
C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\COMPLEMENTO GESTAÇÃO.gifO motivo não é difícil de entender.
Como já disse, muitas dessas crianças foram rejeitadas em outras ocasiões, sofreram com abortos provocados, atrocidades das mais diversas e reconhecendo as futuras mães, pais e parentes e até mesmo nos seus irmãos elementos que criaram problemas no passados tentam de alguma forma vingarem-se.
Muitas vezes a mesma criança organiza seu nascimento várias vezes, deixando o corpo inerte em seguida, outros não chegam a nascer e ou quando nascem e ficam alguns meses, partem para o orun.
ÀBÍKÚ ou eméré formam sociedades no céu (egbé òrun), presididas por lyajansa (a mãe-se-bate-ecorre) para os meninos e olókó (chefe da reunião) para as meninas mas é Aláwaiyé (Rei de Awayé) que as levou ao mundo pela primeira vez na sua cidade de Awaiyé. Lá se encontra a floresta sagrada dos ÀBÍKÚS, aonde os pais de ÀBÍKÚS vão fazer oferendas para que eles fiquem no mundo.
Quando eles vêm do céu para a terra, os ÀBÍKÚS passam os limites do céu diante do guardião da porta, o aduaneiro do céu onjbodé òrun, seus companheiros vão com ele até o local onde eles se despedem.
Os que partem declaram o tempo que tencionam ficar no mundo e o que farão. Se prometem a seus companheiros que não ficarão ausentes, essas crianças, apesar de todos os esforços de seus pais, retornarão, para encontrar seus amigos no céu.
Quando Aláwaiyé levou duzentos e oitenta ÀBÍKÚS ao mundo pela primeira vez, cada um deles tinha declarado, ao passar a barreira do céu, o tempo que iria ficar no mundo. Um deles se propunha a voltar ao céu assim que tivesse visto sua mãe; um outro, que iria esperar até o dia em que seus pais decidissem que ela se casasse; um outro, que retornaria ao céu, quando seus pais concebessem um novo filho, um ainda não esperaria mais do que o dia em que começasse a andar. Outros prometem a lyàjanjasà, que está chefiando a sua sociedade no céu, respectivamente, ficar no mundo sete dias, ou até o momento em que começasse a andar ou quando ele começasse a se arrastar pelo chão, ou quando começasse a ter dentes ou ficar em pé. Resumindo: cada um fez uma promessa.
Nossas histórias de Ifá nos dizem que oferendas feitas com conhecimento de causa são capazes de reter no mundo esses ÀBÍKÚS e Ihes fazer esquecer suas promessas de volta, rompendo assim o ciclo de suas idas e vindas constantes entre o céu e a terra, porque, uma vez que o tempo marcado para a volta já tenha passado, seus companheiros se arriscam a perder o poder sobre eles.
Os ÀBÍKÚS encarnados se perderem o tempo proposto para voltar ao Orun, criam uma situação de atrito com os que ficaram esperando, então, devemos fortalecê-los para evitar que, os que esperam não possam mais influenciar os encarnados,
A influência pode ser de várias maneiras, desde de sonhos, pesadelos, acidentes inesperados, estados de demência mental, atrofia de membros, vampirismo, estímulos ao agrupamento com mentes deturpadas e desequilibradas, pois embora sejam entidades definidas como crianças sabemos que sua forma engana, pois é uma energia espiritual tanto quanto a de um adulto, apenas a forma esta condensada, compactada numa visão etérea, infantil, tendo plena condições de obsessões ferrenha, que para eles tem justificativa.
Trabalho bem organizado para os que ficam, ou melhor; devam ficar e para os que estão lá pode fazer com que os encarnados encontre motivos, um outro caminho, estimulados pelo mecanismo das oferendas, que devem ser tanto para os encarnados como engambelo para os que estão no plano espiritual.
Os pais tem que saber, desmistificar e por em prática os ensinamentos para a má sorte poder ser modificada, numa certa medida, quando certos segredos são conhecidos. É importante identificar o ÀBÍKÚ, seu passado, para entender o que pretende fazer. No caso, as condições nas quais o ÀBÍKÚ deixou o mundo em outra ocasiões. Esta noção sobre a importância de conhecer certos segredos é também expressa no conhecimento que se tem quando os ÀBÍKÚS combinam a chegada no aiê.
C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\ABIKUS ENTIDADE ALMAS.jpgA fraternidade de meninos e meninas fazem suas combinações de códigos que se forem quebrados obrigam eles a ficarem no plano terrestre, o que seria para eles um castigo, portanto eles não deixam que suas combinações sejam descobertas pois furaria o acordo entre eles e os colegas que estão   no orun .
Quando um encarnado souber fará o necessário para que eles quebrem a palavra. É por isso que Ifá quando consultado orienta oferendas que furam o bloqueio secreto dos ÀBÍKÚS.
Essas oferendas são penduradas nas árvores acompanhadas de pratos de alimentos e doces.
As cerimônias serão feitas todos os anos, durante sete anos seguidos, e sempre observado pelo BABA, que poderá após consulta a Ifá determinar os axés até vinte e um ano.
Outras determinações pedem axé todos os anos até vinte e um e de sete em sete até quarenta e nove anos, quando ficará definitivamente no meio da família.
Tais oferendas são, com efeito, uma forma de expressão sem acompanhamento de palavras articuladas; o discurso é substituído pela apresentação dos objetos, provando que a oferenda conhece os segredos, fazendo-o assim participar do pacto dos ÀBÍKÚ.
Entre as oferendas que podem variar desde trajes de roupas, brinquedos, folhas,  frutos, comidas diversas inclusive a que a entidade ÀBÍKÚ gostava em alguma fase de sua anteriores reencarnações, buscando sempre colocar ele em condições de se reeligar com os encarnados e desligar-se do reino antecedente.
As ofertas constituem uma espécie de mensagem, é acompanhada por encantamentos.
A intenção é através de rituais afastar os antigos companheiros e dar motivo para o encarnado continuar no meio, apoiado material e permanente na mensagem dirigida pelos elementos protetores contra os elementos hostís, sendo essa forma de expressão menos efêmera do que a palavra .
Quando existe a necessidade são colocados xaorôs, anéis providos de guizo, usados nos tornozelos pelas crianças ÀBÍKÚS para afastar os companheiros que tentam no mundo lembrar-lhes suas promessas. De fato, seus companheiros não aceitam assim tão facilmente a falta de palavra dos ÀBÍKÚS, retidos no mundo pelas oferendas, encantamentos e talismãs preparados pelos pais, de acordo com o conselho dos babalaôs.
0s membros da sociedade dos ÀBÍKÚ, egbé ará òrun, vêm do céu residir nos lugares pantanosos ou nos regatos, donde chamam as crianças que querem ficar no mundo, como também a volta da árvore IROCO.
Mas nem sempre precauções e oferendas são suficientes para reter as crianças sobre a terra. lyájanjasa é muitas vezes mais forte. Ela não deixa agir o que as pessoas fazem para os reter.
Os corpos dos ÀBÍKÚ que morrem, são frequentemente mutilados, a fim de que, seu perispírito, dizem, percam seus atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar com eles, sobretudo para que o espírito do ÀBÍKÚ, maltratado deste modo, não deseje mais vir ao mundo.
É importante que uma criança quando identificada como sendo um ÀBÍKÚ receba o tratamento adequado para que se mantenha com força suficiente de alcançar a maturidade e o esquecimento total dos laços antigos. O esquecimento parcial gira em torno de 17 anos e o total 49 anos de idade, logicamente depende da qualidade e força vibracional dos ÀBÍKÚS envolvidos, da maneira que serão administrados os axés, o meio ambiente, os laços familiares.
Às crianças ÀBÍKÚS que conseguem sobreviver, são dados nomes específicos que fazem referência à sua especial condição de nascimento. Isto deverá ocorrer sempre, no sétimo dia depois de seu nascimento - se for menina, ou no nono dia - se for menino. No caso de gêmeos, os nomes serão dados no oitavo dia após o nascimento. Esta festividade que comporta um ritual é denominada Ikomojade, e tem por finalidade principal, dar aos ÀBÍKÚS, mesmo que de maneira discreta, nomes que desestimulem sua volta ao Orun, alguns dos quais de conhecimento geral, relacionamos em seguida:
C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\ABICU 2.jpgAge Igba - que a riqueza não se perca.
Aiye Dun - a vida é doce.
Aiye Lagbé - ficamos no mundo.
Apaara - freqüenta minha casa.
Apara - aquele que vai e vem.
Akisotan - não existe mais mortalha para o sepultamento.
Akuji – o que está morto, desperta.
Ajuki - o morto viverá.
Amatunde – o menino que retorna.
Ayomu mo - vai pra o céu e volta.
Bajoko – senta-se ao meu lado.
Banjokô - sente-se e fique comigo.
Buro-Orí-Iké - fica, espere e veja como serás mimado.
Duro – me atende e fica.
Duro Joyé – continua a gozar a vida.
Durosimi - espere para me enterrar quando eu morrer .
Ebe Loko – implora pra ficar.
Ení Lolobo – alguém partiu e voltou.
Enú- Kún-Onipê - o consolador está cansado .
Igbe Koyi - nem a floresta quer você- a selva rejeita essa criança.
Jekiniyin - permita que eu tenha um pouco de respeito.
Jekin-niyin – me dá seu preço.
Ifari – chamemo-lhes.
Iletan – está acabado.
Inu Kuno naipe – estou cansado (a) de receber pêsames.
Ikú Faryin – a morte perdoa.
Ikú Okura – a morte é apenas um nome.
Kaje Yu – não é aceito pra morrer.
Kike – indulgente.
Kokun – não morras mais.
Koni Bi Re – não vai lá.
Kosile – não vai enterrar mais.
Kosokó - não existe mais terra- a terra acabou.
Kosoko – não vai cruzar o túmulo.
Kumipayi – Kuti – a morte não mata mais este aqui.
Maku – não morre mais.
Malómo - não vá embora novamente.
Matnami – não larga mais a vida.
Obi Mesan – não vingarás.
Okú - o morto.
Oku se Hiyn – o morto que retorna.
Omotundé – a criança voltou.
Orun Kun – o céu está cheio.
Ratini – suporta-me.
Sinmi – é difícil ficar enterrado.
Shome – difícil fazer as crianças permanecer.
Tijú-Icú - envergonhe-se de morrer.
Tijuiko – vergonha da morte.
Tomi Mowo – quem sabe como cuidar.
Toyé – se ficares, receberás homenagens.
Wojú – difícil olhar para os meus olhos.

C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\ABIKU,NASCIMENTO.jpgComo se vê, os nomes ÀBÍKÚ renegam a morte e a possibilidade de retorno ao Egbe Orun. Ressaltam a vida e o quanto é bom desfrutar das coisas existentes sobre a Terra, principalmente o amor dos pais e irmãos. Estas crianças devem ser chamadas, sempre, por estes nomes, o que ajuda o rompimento definitivo do seu vínculo com o grupo Emeré.
Periodicamente oferecem-se comidas ritualísticas às crianças ÀBÍKÚS, o que acontece, invariavelmente, por ocasião de seus aniversários natalícios, produzidas principalmente, com feijões e óleo de palma. Acredita-se que durante estes festivais, os espíritos ÀBÍKÚS se apresentam e, ao participarem do evento, são apaziguados.
Por eles não terem templo, assentamentos, ou local específico para receberem homenagem, mas da mesma forma que entidades outras sentem a necessidade de quando estavam encarnados, os ÀBÍKÚS sofrem de fome, sede e frio, uma vez que ninguém oferece o sacrifício para eles e eles, nem rituais especiais para ajudarem a se equilibrar energeticamente, propiciando melhorar sua condição de entrada os corpos de bebês recém-nascidos.
Os axés normais de ÀBÍKÚ o caruru tradicional oferecido aos ibeji. Este caruru não é outra coisa senão o obèlá da cerimônia dos ÀBÍKÚ e preparado do mesmo modo. Oká (pasta de inhame). Obèlá (espécie de caruru). Èkuru (feijão moído e cozido nas folhas). Eran dindi, eja dindin (carne e peixe fritos). . Os sete meninos representam os gèmeos Cosme e Damião, Dois-Dois (deformação de Idowu, aquele que, entre os iorubás, nasce depois dos gêmeos Táiwo e Kèánindé) Crispim, Crispiniano, Sal e Tàlèbí.
Em sua prece a tanyinon tinha evocado Sàlàkó, que com Tàlàbi são os nomes dados aos meninos e meninas que vem ao mundo com pedaços de membrana rompida sobre a cabeça; circunstância excepcional do seu nascimento que os aproxima da sociedade dos ÀBÍKÚ .
Os espíritos ÀBÍKÚ formam um grupo denominado Egbe Orun Abíkú, que habita no mundo paralelo que nos rodeia, o Orun, morada dos deuses e dos antepassados.
No Orun, termo que pode ser corretamente traduzido para céu, este grupo de espíritos dividem-se em categorias, de acordo com o sexo, sendo que os pertencentes ao sexo masculino são chefiados por Oloiko (Chefe do grupo) e os de sexo feminino, por Iyajanjasa (A Mãe que bate e corre).
Na sua vinda do Orun para o aiye (terra), os espíritos, também conhecidos como Emere, estabelecem um pacto com Onibode Orun, o guardião dos portais do Orun, condicionando sua permanência, no nosso mundo, a determinadas exigências.
Convém reafirmar a situação do vampirismo, das obsessões, podemos assim dizer exercido pelos ÀBÍKÚ desencarnados é de extrema violência podendo em muitos casos levar uma criança de tenra idade a ter sofrimentos que seriam perturbadores até para adultos. Também a possibilidade desta crianças assediadas pelos ÀBÍKÚS desencarnados sofrerem acidentes que lhe causem mutilações ,sofrimentos temporários ou definitivos tanto no campo mental como físico é muito grande e de grande constrangimento para todos que estão a volta como tutores da criança ÀBÍKÚ reencarnada.
As pessoas diretamente ligadas a elas sofrem ou são afetadas pelas vibrações dos desencarnados, tornando-se involuntariamente instrumentos em muitos casos de torturas, sofrimentos para o encarnado ÀBÍKÚ, assim de maneira involuntária estimulam eles a desertarem da ação vigente. Além claro do constante sentimento de impotência e culpa, que em muitos casos chegam a raia da loucura, da depressão, pois não conseguem uma explicação lógica.
Pior quando pressentem que um perigo esta eminente e não conseguem entender o que e como possa acontecer.
É aconselhável, portanto, que se faça um ebori na criança ÀBÍKÚ ficando uma pessoa responsável que deverá chama-lo sempre de MEU FILHO, independente do grau de parentesco que tenha. Este ebori deverá ser cuidado e de inteira responsabilidade da pessoa escolhida.
Geralmente é aquela que tenha ligação espiritual com o grupo ÀBÍKÚ que na maioria das vezes são filhos de XANGÔ, NANÃ, IANSÃ e OXALÁ, claro não esquecendo da mãe de todas as cabeça IEMANJÁ.
Estas pessoas serão encarregadas de conduzir as vibrações de equilíbrio destas crianças até alcançarem a idade em que estará liberta das perseguições dos ÀBÍKÚ companheiros de outra vida.
A criança ÀBÍKÚ quando desencarna a partir dos 54 anos não mais estarão vinculadas aos grupos de origem, no entanto durante sua vida deve estar preparada quando tornar-se progenitor de observar a entidade que esta na ronda.
Sempre dias depois do nascimento da criança filha de ÀBÍKÚ, realiza-se a cerimônia de dar o nome, denominada ekomojadê, quando o babalaô consulta o oráculo paraC:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\advinhação JOGO DE BUZIOS.jpgdesvendar a origem da criança.
É quando se sabe, por exemplo, se trata de um ente querido renascido. Os nomes pode referir-se ao seu orixá pessoal, geralmente o orixá da família, ou à condição em que se deu o nascimento, tipo de gestação e parto, sua posição na seqüência dos irmãos, quando se trata, por exemplo, daquele que nasce depois de gêmeos.
A partir do momento do nome, desencadeia-se uma sucessão de ritos de passagem associados não só aos papéis sociais, como a entrada na idade adulta e o casamento, mas também à própria construção da pessoa, que se dá através da integração, em diferentes momentos da vida, dos componentes do espírito.
Com a morte, estes ritos são refeitos, no axexe com a intenção de liberar essas unidades espirituais, de modo que cada uma delas chegue ao destino certo, restituindo-se, assim, o equilíbrio rompido com a morte.
O ebori de um ÀBÍKÚ deve ser fortalecido e observado de 40 em 40 dias até o sétimo ano, se o axé for feito antes dos 3, se passou muito desta faixa deve ser avaliado de 40 em 40dias mas não tem um período mínimo de 7 anos mas sim de 9 anos.
Se for descoberta a situação a partir dos 13 anos a situação é bem mais complicada, pois imputaria a criança ÀBÍKÚ encarnada uma jornada de sofrimento dos mais variados. Deste a saúde fragilizada até a parte financeira afetada. Na realidade haveria um rodízio de situações ao longo da vida não dando condições da pessoa desfrutar desta vida.
Melhor seria resumir que a vida de um ÀBÍKÚ que consegue se manter vivo é uma vida de sofrimento dos mais variados, não tendo a mente deste elemento descanso, paz. Pior que quem esta a sua volta sofre muitas vezes sem perceber o efeito das vibrações destas entidades, que embora sejam infantis, podemos assim dizer estão vinculadas a todas as entidades que se opõem a evolução do ser humano através da reencarnação.
Os ÀBÍKÚ desencarnados se associam à entidades outras com a finalidade de fazer cumprir os contratos anteriores entre eles e os que estão encarnados, que esquecem a união por estarem com o espesso véu da veste física.
Como coloquei anteriormente a sorte (destino) pode ser modificada, numa certa medida, quando certos segredos conhecidos são aplicados de maneira correta e em tempo hábil, dentre os elementos que podem ser utilizados as folhas mensageiras são importantes, embora não tão usadas.
A próxima criança gerada pela mãe do falecido, se apresentar uma das marcas feitas no cadáver de seu irmão, se possuir lóbo duplo ou bipartido numa das orelhas, ou ainda, se possuir um sexto dedo num dos pés ou mãos, estará caracterizando a presença do ÀBÍKÚ devendo ser imediatamente submetida aos rituais que lhe preservarão a vida e que, da mesma forma que os procedimentos relativos ao cadáver de seu falecido irmão, só podem ser ministrados por um sacerdote do culto de Ifá, C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\ABIKUS RECEM NASCIDO.jpgBabalawo consagrado e especializado neste tipo de ritual.
Assegurado o nascimento da criança, e tendo esta efetivamente nascida com vida, deverá então ser submetida aos rituais propiciatórios, para que o espírito permaneça naquele corpo, com a garantia de que será aquela a sua última encarnação.
Um ebó será preparado, com um pedaço de tronco de bananeira vestido com roupas e gorros tingidos de osun e bordados de búzios e guizos. Pendura-se tudo nos galhos de uma árvore e, no chão, arria-se, ao redor do tronco, pratos ou alguidares de barro contendo inhame, acarajé, ekurú, akasá, canjica, doces, frutas, bebidas, folhas ritualísticas, tudo bem coberto com mel de abelhas. Uma cabra, um pombo e um galo são sacrificados e arriados no local, onde permanecerão por algum tempo. Depois, embrulham-se os corpos dos animais sacrificados num pano branco, cobre-se com bastante pó de efun, amarra-se e enterra-se nas margens de um rio, ou despacha-se nas águas, de acordo com a orientação obtida através do oráculo.
C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\banho de ervas 5.jpgNa confecção do ebó, não são utilizadas rezas ou cânticos, sendo exigida, isto sim, a presença dos pais biológicos do ÀBÍKÚ, que deverão saber o objetivo do ebó. As mesmas folhas oferecidas no sacrifício serão utilizadas em banhos e na confecção de pós mágicos que serão esfregados nas incisões do ÀBÍKÚ e na preparação do amuleto que deverá acompanhá-lo pelo resto da vida. As folhas têm que ser consagradas antes de sua utilização e, para isso, possuem ofós específicos, que ressaltam suas qualidades e funções. Estas são as plantas sagradas utilizadas em seus rituais:

- Abirikolo - à cascaveleira, também conhecida como amendoim-do-mato, ou ainda, xekeré.
- Agidimagbayin - walteria americana - Folha de veludo, erva de soldado.
- Idi - Amendoeira.
- Ija - Osun - Bixa orellana, Lin.
- Lara pupa - Mamona vermelha.
 
- Olobutoje - Pinhão-da-Bahia.
- Opa emere - Dobradinha-do-campo.
Estes são os ofós de consagração de cada folha:
Abirikolo: Ewe abirikolo, insinu Orun e pehindá. (Folha abirikolo, coveiro do céu, retorne).
Agidimagbayin: Ewe agidimagbayin, Olorun maa ti kun, a a ku mo. (Folha agidimagbayin, Olorun fecha as portas do Orun para que não morramos mais).
Idi: Ewe idi lori ki ona Orun temi odi. (Folha idi, diga que o caminho do Orun está fechado para mim).
Olobotuje: Olobotuje ma je ki mi bi abíkú omó. (Folha de olobotuje, não me deixe parir filhos).
Opa emere: Opa emere kipe ti fi ku, yiomaa ewu ni, nwón ba ri opa emere. (Galho de emere não permita que eles morram - a vara de emere os apazigua).
Formalizado o pacto, a criança viverá normalmente, como qualquer ser humano, só devendo morrer em idade bastante avançada. Acredita-se que os seres humanos dotados de espírito ÀBÍKÚ, talvez pelo alto grau de evolução de seu ori, são dotados de muita inteligência e, no decorrer de suas vidas, transforma-se em verdadeiros líderes, dedicados ao bem estar de sua comunidade e principalmente dos seus familiares. Obatalá participa das ligações que existem entre o orixá da criação, as pessoas de corpos mal formados, corcundas, aleijados, albinos e aqueles cujo nascimento é anormal (ÀBÍKÚ e ibeji). Portanto ao contrário que muitos falam nada tem a ver com a criança que já nasce "feita" no santo.
Olorum fecha a porta para que não morram, mas sabemos que a criança vê coisas más em sonhos, criança chama seus companheiros, brinca com eles, briga, cobram a fidelidade e a promessa e eles dizem que quando saiu para este mundo que não se esqueceria deles, mas quando ele chegou ao mundo, ele os esqueceu, seus companheiros chegam a beira do regato, eles chamam pelo companheiro.
Os pais atentos correm a procura dos babalaôs, pedindo que Ifá os ajude para que este ÀBÍKÚ, não seja capaz de morrer mesmo que seus companheiros o chamem, que ele não seja capaz de encontrá-los.
 Se a família não corresponde com o carinho e as obrigações devidas o chefe da sociedade (dos ÀBÍKÚ) no céu parte para o mundo e ajuda a criança a partir. Estas crianças não escutam. Elas se vão.
Os rituais embora antigos, passados de boca em boca, escondidos embaixo das unhas de pais e mães de filhos de santo, fagulhas espalhadas, de prática religiosa e cultural, que se adaptam e se aplicam ainda hoje através da sabedoria, associada à evolução tecnológica com muita propriedade.
No entanto existem rituais sabidos e antigos que não divulgarei por não aceitar, por acreditar ser rituais retrógrados que agridem, e estimulam mentes desorganizadas em nome de manter rituais dos antepassados e ortodoxos manipulando assim dor e sofrimento com a desculpa de socorro e felicidade. Quem esta desesperado, fragilizado e desejoso de um milagre pode aceitar o que considere, repito EU método inadequado.
A facilidade de hoje através de exames radiológicos confirmam com certeza situações que podem identificar um ÀBÍKÚ que esta comprometido em criar situações de sofrimento mãe-filho, exames que somados aos búzios ajudam a evitar sofrimento, amenizando as cargas energética grosseiras.
Ainda hoje, desde sempre e esperamos que perpetue-se o trabalho para a manutenção da vida em todas as suas formas, descartando o estímulo ao aborto, mesmo em situações de tratamento difícil, árduo, mas a vida sempre deve prevalecer.
Pela prática divinatória através do jogo de búzios, nos dias de hoje identificamos muitos desses ÀBÍKÚS, que percebemos em uma segunda instância, muitos serem "criados", passam a existir por ingerência do ser humano através do aborto, praticado em tempos passados, sob o véu de mil e uma desculpa, mas o sacrilégio, o martírio é o mesmo.
Ao praticar um aborto eliminamos apenas o corpo denso, o físico, mas não eliminamos o espiritual, que sofrerá a carga detonadora de seu corpo físico, gerando indignação, e cobrança futura.
Mesmo uma criança deficiente deve ter sua vida mantida, desde que seu espírito esteja ativo.
Tem a criança deficiente e ou ÀBÍKÚ o direito de nascer? Temos o direito de rejeita-los por problemas físicos, ou por larvas espirituais grosseiras?... esta pergunta parece à princípio absurda, mas não é, e nos dias atuais é tema aberto, ainda que em " portas fechadas".
A concepção de aprimoramento através da reencarnação sucessiva, rompe sobre maneira com o véu do comodismo relativo a aborto e ao deficiente, e claro sobre os ÀBÍKÚ.
A reencarnação rompe com a fumaça que esconde a confusão, esclarecendo e valorizando todas as experiências humanas, tornando possível que materialistas, espiritualistas e pragmatistas ofertem a cultura social preciosos subsídios porque prevê que o homem do futuro será um homem prático, com condições de solucionar com grande margem de êxito os problemas terrenos e imediatos, valorizando o mundo material, pois estará mais certo da imortalidade, entendendo assim o significado circunstancial. Nós esotéricos, espiritualistas, místicos e todos que pregam a reencarnação como forma de aprimoramento, resgate; não supervalorizamos o nascimento de uma criança deficiente, mas observamos como um reforço na comprovação de nossa teoria a respeito da finalidade evolutiva do ser humano.
Por este motivo a criança deficiente e os ÀBÍKÚS, sob o prisma místico, tem o direito a vida, nascer, reencarnar é ter a chance de evoluir, e quanto mais cedo um espírito se aprimora, evoluí, se reajusta ou se redime pelas vidas sucessivas, tanto melhor para ele, e, para todos da sociedade ligado a ele, pois estamos todos comprometidos direta ou indiretamente.
Nossas necessidades, nosso destino e nossos erros são muitos parecidos, e na engrenagem das leis cósmicos – Karma - tem sido e vai sempre ser regra unânime:
Quem colocar obstáculos no caminho do seu semelhante, terá obstáculos iguais a transpor em sua jornada, daí então a necessidade de trabalharmos e usarmos todos os meios possíveis para fazermos os ÀBÍKÚS membros de nossa sociedade.
Esta situação pode e deve ser tratado no seu campo espiritual, e os antigos nos C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\COMPLEMENTOMENTORES.jpglegaram instrumentos para fazê-lo, através de ebós e oferendas específicas, que se vale do mesmo princípio dos antigos: "enganar" os ÀBÍKÚ.
Não vamos driblar as leis divinas, o riscado do GADU mas podemos alterar os casos não irreversíveis após o nascimento, mas durante a gestação e nos primeiros meses de vida....muita coisa pode e deve ser feita.


LENDAS

Segundo a lenda, os ÀBÍKÚS vieram à terra, pela primeira vez, na localidade denominada Awaiye, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e seu chefe no Orun. O grupo era formado por 280 espíritos que, parando no portal do céu, fizeram diversos pactos, condicionando seu retorno a diferentes situações, que variavam de acordo com a escolha de cada um. Desta forma, alguns estabeleceram a data de sua morte para depois que vissem, pela primeira vez, o rosto de suas mães; outros, para quando completassem sete dias de nascidos; outros ainda, para quando começassem a andar; alguns, para quando ganhassem um irmão mais novo; outros, para quando se casassem ou construíssem uma casa. Aqueles que nascessem comprometiam-se a não aceitar o amor de seus pais e, todos os presentes e agrados recebidos, seriam inúteis para retê-los na Terra, ao passo que alguns, se comprometeram, simplesmente, a provocarem seus próprios abortos, não chegando sequer a nascer. Estabeleceram ainda que, se seus pais adivinhassem seus rituais, roupas e oferendas, e, se em tempo hábil os oferecessem, concordariam em permanecer neste mundo.


"Um caçador que estava à espreita, no cruzamento dos caminhos dos ÀBÍKÚ, escutou quais eram as promessas feitas por três ÀBÍKÚS quanto a época do seu retorno ao céu.
"Um deles promete que deixará o mundo assim que o fogo utilizado por sua mãe, para preparar sua papa de legumes, se apague por falta de combustível. O segundo esperará que o pano que sua mãe utilizar, para carregá-lo nas costas se rasgue. A terceira (porque é uma menina ÀBÍKÚ ) esperará, para morrer, o dia em que seus pais lhe digam que é tempo dela se casar e ir morar com seu esposo.
"O caçador vai visitar as três mães no momento em que elas estão dando a luz seus filhos ÀBÍKÚS e aconselha à primeira que não deixe se queimar inteiramente a lenha sob o pote que cozinha os legumes que ela prepara para seu filho; a segunda que não deixe se rasgar o pano que ela usa para carregar seu filho nas costas, que utilize um pano de qualidade diferente (dos que se usam geralmente para este fim); ele recomenda, enfim, a terceira, de não especificar, quando chegar a hora, qual será o dia em que sua filha deverá ir para a casa do seu marido.
As três mães vão, então, consultar a sorte, e Ifá, Ihes recomenda que façam respectivamente as oferendas de um tronco de bananeira, de uma cabra e de um galo, impedindo, por meio deste subterfúgio, que os três ÀBÍKÚS possam manter seu compromisso.
Oferece-se um galo para o senhor dos caminhos, BARA que encombrirá o engodo não despertando a curiosidade e nem a manifestação dos que estão no mundo espiritual. Porque, se a primeira coloca um tronco de bananeira no fogo, destinado a cozinhar a papa do seu filho, antes que ele se apague (o tronco de bananeira, cheio de seiva e esponjoso, não pode queimar) e o ÀBÍKÚ, vendo uma acha de lenha não consumida pelo fogo, diz que o momento de sua partida ainda não é chegado. A pele de cabra oferecida pela segunda serve para reforçar o pano que ela usa para levar seu filho nas costas; a criança ÀBÍKÚ não vai achar que esse pano se rasgou e não vai poder manter sua promessa.
Quando chegou a hora de dizer à filha já uma moça, que ela deveria ir para a casa de seu marido, os pais não lhe disseram nada e a enviaram bruscamente para casa dele.

OS IBEJIS NASCEM COMO ÀBÍKÚS MANDADOS PELOS MACACOS
Era uma vez um fazendeiro que vivia caçando macacos, pois os macacos eram uma praga para o fazendeiro, devorando toda a sua lavoura.
O fazendeiro e seus filhos vigiavam a plantação e mesmo com uso de paus, pedras e flechas não continham o ataque dos macacos. O fazendeiro perseguia os macacos por toda parte, mas eles continuavam sua investida às safras. Eles criaram mil artimanhas para enganar o fazendeiro. Nessa disputa, muitos macacos foram mortos, os sobreviventes persistiam.
C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\ABICUS 5.jpgUma das esposas do fazendeiro ficou grávida. Veio então um vidente para adverti-lo.
Ele disse que aquela matança de macacos era perigosa, pois os macacos eram sábios e tinham poderes. Disse que eles gerariam uma criança ÀBÍKÚ, aquela que nasce para morrer cedo.
Assim, logo depois do nascimento a criança morreria e isso tornaria a acontecer de novo, num nascer para morrer sem fim, atormentando o fazendeiro até o último de seus dias.
O adivinho aconselhou o fazendeiro a deixar os macacos comerem em paz.
O fazendeiro ouviu, mas não se convenceu e continuou vigiando seus campos e caçando macacos na mata. Os macacos decidiram mandar dois ÀBÍKÚS para o fazendeiro.
Dois macacos transformaram-se então em ÀBÍKÚ e entraram no ventre da esposa grávida do fazendeiro. Lá eles ficaram até a hora de nascer como gêmeos.
Eles foram os primeiros Ibejis a nascer entre os iorubás.
Foram os primeiros gêmeos.
Os Ibejis chamaram muito a atenção de todos.
Uns diziam que eram uma graça, outros, mau presságio.
Mas os Ibejis não permaneceram muito tempo vivos, logo voltando para junto dos que ainda não nasceram, pois eles eram ÀBÍKÚ.
O tempo passou e eles voltaram a nascer e morrer sucessivamente.
O fazendeiro estava desesperado com tamanha desgraça e foi consultar um adivinho de um lugar distante ,já que "santo" de casa não faz milagres... para saber a razão daquelas mortes.
O adivinho jogou os búzios e explicou o que estava acontecendo.
Também advertiu o fazendeiro que parasse de perseguir os macacos, deixando-os comer em seus campos. O fazendeiro voltou para casa e não mais perseguiu os macacos.
Sua esposa deu à luz outros Ibejis e eles não morreram. Mas o fazendeiro não tinha certeza ainda se as coisas tinham mudado mesmo e então voltou ao adivinho.
O adivinho jogou os búzios e disse que dessa vez as crianças não morreriam e tornariam a nascer como ocorreria antes.
Disse ainda que os Ibejis não são pessoas normais. Eles têm grandes poderes para gratificar e punir os humanos. Que recebessem tudo o que pedissem para que seus familiares tivessem vida boa.
Quando o fazendeiro voltou para casa contou para sua esposa tudo o que tinha aprendido. E assim aconteceu e a família do fazendeiro prosperou a velha aldeia de Ifá tudo transcorria normalmente. Todos faziam seu trabalho, as lavouras davam seus bons frutos, os animais procriavam, crianças nasciam fortes e saudáveis. Mas um dia a Morte resolveu concentrar ali sua colheita. Aí tudo começou a dar errado. As lavouras ficaram inférteis, as fontes e correntes de água secaram, o gado e tudo o que era bicho de criação definharam. Já não havia o que comer e beber. No desespero da difícil sobrevivência, as pessoas se agrediam umas às outras, ninguém se entendia, tudo virava uma guerra. As pessoas começaram a morrer aos montes.
Instalada ali no povoado, a Morte vivia rondando todos, especialmente as pessoas fracas, velhas e doentes. A Morte roubava essas pessoas e as levava para o outro mundo, longe da família e dos amigos.C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\MATERIAL SUPORTE\IMAGENS ESPECIAIS\COMPLEMENTO LIVRO DE BRUXA.jpg A Morte tirava a vida delas. Na aldeia morria-se de todas as causas possíveis: de doença, de velhice, e até mesmo ao nascer. Morria-se afogado, envenenado, enfeitiçado. Morria-se por causa de acidentes, maus-tratos e violência. Morria-se de fome, principalmente de fome. Mas também de tristeza, de saudade até de amor. A Morte estava fazendo o seu grande banquete.
Havia luto em todas as casas. Todas as famílias choravam seus mortos.
O rei mandou muitos emissários falar com a malvada, mas a Morte sempre respondia que não fazia acordos. Que ia destruir um por um, sem piedade. Se alguém fosse forte o suficiente para enfrentá-la, que tentasse, mas seu fim seria ainda muito mais sofrido e penoso. Ela mandou dizer ao rei, por fim: “Para não dizerem que sou muito rabugenta, até concordo em dar uma chance à aldeia, basta que uma pessoa me obrigue a fazer o que não quero. Se alguém aqui me fizer agir contra a minha vontade, eu irei embora, mas só vou dar essa oportunidade a uma única pessoa. Não vou dar nem a duas, nem a três.” E foi-se embora dali, saboreando antecipadamente mais uma vitória.
Mas quem se atreveria a enfrentar a Morte? Quem, se os mais bravos guerreiros estavam mortos ou ardiam de febre em suas últimas horas de vida? Quem, se os mais astutos diplomatas havia muito tinham partido?
Foi então que dois meninos, os Ibejis, os irmãos gêmeos Taió e Caiandê, que os fofoqueiros da cidade diziam ser filhos de Ifá, resolveram pregar uma peça na horrenda criatura. Antes que toda a aldeia fosse completamente dizimada, eles resolveram dar um basta aos ataques da Morte. Decidiram os Ibejis: “Vamos dar um chega-pra-lá nessa fedorenta figura.”
Os meninos pegaram o tambor mágico, que tocavam como ninguém, e saíram à procura da Morte. Não foi difícil achá-la numa estrada próxima, por onde ela perambulava em busca de mais vítimas. Sua presença era anunciada, do alto, por um bando de urubus que sobrevoavam a incrível peçonhenta. E o cheiro, ah, o cheiro! A fedentina que a Morte produzia à sua volta faria vomitar até uma estatueta de madeira.
Os meninos se esconderam numa moita e, tapando o nariz com um lenço, esperaram que ela se aproximasse. Não tardou e a Morte foi chegando. Os irmãos tremeram da cabeça aos pés. Ainda escondidos na moita, só de olhar para ela sentiram como os pêlos dos seus braços se arrepiavam. Mas podia-se dizer que a Morte estava feliz e contente. Ela estava até cantando! Pudera, tendo ceifado tantas vida e tendo tantas outras para extinguir.
Nesse momento, numa curva do caminho, enquanto um dos irmãos ficava escondido, o outro saltou do mato para a estrada, a poucos passos da Morte. Saltou com o seu tambor mágico, que tocava sem cessar, com muito ritmo. Tocava com toda a sua arte, todo o seu vigor. Tocava com determinação e alegria. Tocava bem como nunca tinha tocado antes. A Morte se encantou com o ritmo do menino. Com seu passo trôpego, ensaiou um dança sem graça. E lá foi ela, alegre como ninguém, dançando atrás do menino e de seu tambor.
O espetáculo era grotesco, a dança da Morte era, no mínimo, patética. Nem vou contar como foi a cena: cada um que imagine por conta própria. E é bem fácil imaginar.
Bem; lá ia o menino tocador e atrás ia a Morte. Passou-se uma hora, passou-se outra e mais outra. O menino não fazia nenhuma pausa e a Morte começou a se cansar. O sol já ia alto, os dois seguiam pela estrada afora, e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.
O dia deu lugar à noite e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.
E assim ia a coisa, madrugada adentro. O menino tocava, a Morte dançava. O menino ia na frente, sempre ligeiro e folgazão. A Morte seguia atrás, exausta, não agüentando mais. “Pára de tocar, menino, vamos descansar um pouco”, ela disse mais de uma vez. Ele não parava. “Pára essa porcaria de tambor, moleque, ou hás de me pagar com a vida”, ela ameaçou mais de uma vez. E ele não parava. “Pára que eu não agüento mais”, ela implorava. E ele não parava.
Taió e Caiandê eram gêmeos idênticos. Ninguém sabia diferenciar um do outro, muito menos a Morte, que sempre foi cega e burra. Pois bem, o moleque que a Morte via tocando na estrada sem parar não era sempre o mesmo menino. Uma hora tocava Taió, enquanto Caiandê seguia por dentro do mato. Outra hora, quando Taió estava cansado, Caiandê, aproveitando um curva da estrada, substituía o irmão no tambor. Os gêmeos se revezavam e a música não parava nunca, não parava nem por um minuto sequer. Mas a Morte, coitada, não tinha substituto, não podia parar, nem descansar, nem um minutinho só. E o tambor sem cessar, tá tá tatá tá tá tatá.
Ela já nem respirava: “Pára, pára, menino maldito.” Mas o menino não parava. E assim foi, por dias e dias. Até os urubus já tinham deixado de acompanhar a Morte, preferindo pousar na copa de umas árvores secas. E o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá, uma hora Taió, outra hora Caiandê.
Por fim, não aguentando mais, a aparição gritou: “Pára com esse tambor maldito e eu faço tudo o que me pedires.”
O menino virou-se para trás e disse: “Pois então vá embora e deixe a minha aldeia em paz.”
“Aceito”, berrou a nauseabunda.
O menino parou de tocar e ouviu a Morte dizer: “Ah! que fracasso o meu. Ser vencida por um simples pirralho. ”Então ela virou-se e foi embora. Foi para longe do povoado, mas foi se lastimado: “Eu me odeio. Eu me odeio.”
Tocando e dançando, os gêmeos voltaram para a aldeia para dar a boa notícia. Foram recebidos de braços abertos. Todos queriam abraçá-los e beijá-los. Em pouco tempo a vida normal voltou a reinar no povoado, a saúde retornou às casas e a alegria reapareceu nas ruas.
C:\Documents and Settings\usuario\Desktop\SEMANARIO\RASCUNHO\imagens da semana\COMPLEMENTO  CULTURAL.gifMuitas homenagens foram feitas aos valentes Ibejis. Mesmo depois de transcorrido certo tempo, sempre que Taió e Caiandê passavam na direção do mercado, havia alguém que comentava: “Olha os meninos gêmeos que nos salvaram.”
E mais alguém complementava: “Que a lembrança de sua valentia nunca se apague de nossa memória.”
Ao que alguém acrescentava: “Mas eles não são a cara do Adivinho?”
oloje iku ike obarainan