Zomadonu
Zomadonu, cujo nome significa em fon "Não se põe fogo na boca" era um tohossu, ou seja um bebê deformado filho de Rei Akabá (1680-1704) do Daomé.
Conta a lenda que Zomadonu, junto de Kpelu, tohossu nascido do Rei Agadjá (1708-1732) e Adomu, tohossu filho de Rei Tegbessu (1732-1775) invadiram Abomei liderando um exército de tohossus matando indiscriminadamente os cidadãos que fugiram apavorados, ficando apenas um homem chamado Abadá Homedovó, que sofria de elefantíase. A vida do homem foi poupada, graças à amizade que ele tinha com Azaká, um tohossu da cidade de Savalu.
Ele foi curado por Zomadonu, e ensinado por ele nos mistérios para se propiciar a boa vontade dos tohossu reais. Após isso, o exército dos temíveis pigmeus monstruosos abandona Abomei, entrando no rio. E com Abadá Homedovó começa o culto dos tohossu reais de Abomei, com Zomadonu sendo o principal deles.
Ele é considerado o guardião do bairro real de Abomei e seu hunkpame principal fica no bairro de Legó.
Na Diáspora, o nome de Zomadonu é conhecido tanto no vodu haitiano, como no Tambor de Mina de Nação Jeje, onde é o patrono do terreiro Casa das Minas, também chamado de 'Kwerebentan to Zomadonu' (Querebentã de Zomadonu) em São Luís Maranhão.
Curiosamente, no Maranhão, Zomadonu não possui caracteríticas de tohossu, ou seja, deformação física. Zomadonu é o mais importante vodum do Reino do Daomé, é considerado nobre pertencente a família real de Davice ou Danvice, que é chefiada pela mãe ancestral Nochê Naé. Zomadonu também é pai dos gêmeos Nagono Toçá e Nagono Tocé. Zomadonu é o primeiro vodum a ser homenageado nos toques de tambor da Casa das Minas.
Casa das Minas ou Querebentã de Toy Zomadonu - fundada em meados do século XIX, e segundo Pierre Verger, por Nã Agotimé, da família real de Abomey, esposa do rei Agonglô, mãe do rei Guezô do Daomé, trazida como escrava para o Brasil, e aqui conhecida pelo nome de Maria Jesuína. A casa dedica-se ao culto jeje dos voduns, que estão organizados por famílias, a saber: Davice que é a principal, hospedando as demais: Dambirá (Damballah), Quevioçô (Heviossô), Aladanu e Savalunu. É considerada a mais antiga casa de tambor de mina no Maranhão, localizada à rua de São Pantaleão, no centro histórico de São Luís.
Casa de Nagô (Nagon Abioton) - fundada por africanos de tradição yourubá, mais precisamente, de Abeokuta, deu origem a outros terreiros de São Luís, em que são recebidas entidades africanas jeje-nagôs ou (iorubás): Doçu, Averequete, Ewá, Aziri, Acóssi, Sakpatá, Nanã Buruku, Xapanã, Ogum, Xangô, Badé, Locô, Iemanjá (Abê), Lissá, Naeté, Sogbô, Avó Missã dentre outros; gentis de origem européia ou caboclas de origem nativa: Dom Luís Rei de França, Dom João, Dom Floriano, Dom Sebastião, Toy Zezinho de Amaramadã, Rei da Turquia, S. Ricardino, S. Caboclo Velho, Princesa D’Ôro, S. Guerreiro, D. Mariana, S. Légua Boji, S. João da Mata e muitos outros. Segundo relatos, foi fundada à época de D. Pedro II por malungos africanos "de Nação", ajudados pela fundadora da Casa das Minas. Localizada na Rua Cândido Ribeiro no centro histórico de São Luís, a Casa de Nagô é considerada irmã da Casa das Minas, que juntamente com esta influenciou os demais terreiros de São Luís.
Outros dois terreiros antigos merecem ser lembrados: o Terreiro do Egito (Ilê Axé Niamê) e o Terreiro da Turquia (Ilê Nifé Olorum) (já extintos) que originaram vários outros terreiros, com destaque para a Casa Fanti Ashanti, de Pai Euclides Ferreira sendo a única com espaço dedicado ao candomblé; Casa de Iemanjá (Ylê Ashé Yemowa), de Jorge Itaci (falecido em 2003); Terreiro Fé em Deus, de mãe Elzita. Merece destaque o Ylê Axé de Otá Olé (Terreiro de Mina Pedra de Encantaria, de Pai José Itaparandi). Alguns terreiros dedicam-se ao Tambor de Mina, mas também a algumas sessões de Umbanda, como por exemplo, o Terreiro de Pai Oxalá e Mamãe Oxum de Pai Joãozinho da Vila Nova.
No Maranhão, especificamente, em São Luís, há uma diversidade de terreiros, até hoje não catalogados. Além disso muitas casas funcionam precariamente principalmente por dificuldades financeiras. Acredita-se que existem mais de 200 terreiros espalhados na capital definindo-se como Mina, Umbanda ou Mata (Encantaria de Barba Soeira). Em Codó, a "Meca" do Terecô, os terreiros são também numerosos, sendo mais conhecido a "Tenda Espírita de Umbanda Rainha de Iemanjá", de Bita do Barão. Existem terreiros de mina chefiados por pais e mães de santo, feitos no Maranhão, ou de origem maranhense, no Piauí, Pará, Amazonas, e em São Paulo, como por exemplo a Casa das Minas Thoya Jarina1 , fundada por Toy Vodunnon Francelino de Shapanan,
Cânticos em Jeje-fon/Iorubá-nagô-vodum
De abertura:
Imarabô é mojubára
Egba e koshé
Omodê boji koi abô abô é mojubá
Legba Eshu Lonã
Outro:
Ô mina telê telê
Imassaila taió taió
Secila é malajokê
Boboromina saíla vodum
Eko Abê eko agá
Eko omodê ô, eko omodê ô, kirielé omodê ô
Para Xangô:
Faraê faraê aê
Shangô numa velê, kabê!
Éde mariolê, é demariolá, okê
Orisá, ori Shangô, kié meó keshé keshé
Ora missã orubajô
Kabê kabecile
Éde pá epá êp êp!
Faraê...
Outro:
Kaô anana irê kaô! Agongon jelé
Shangô alodô, agô irô misselé
Para Averequete:
Verequetinho é sualá
Euá mandô sualá
Verequetinho, verequetinho...
Outra:
Averequete na c'roa de lôro, avuô pombo d'ôro ô pombo do ar
Averequete na c'roa de lôro, pombo d'ôro ô pombo do ar
Outra:
Ô maizá, maizá ôi zará, Verequete é do maizá
Ô maizá, maizá ôi zará, Verequete é do maizá
Para Toy Zezinho:
Ele é guma, ele é mailô
Ele é guma, ele é mailô
Toy Zezinho ele é mailô
Outro:
Toy Amaramadã, Toy Amaramadã, Zezinho!
Toy Amaramadã, Zezinho!Toy Amaramadã, Zezinho!
Para os voduns jejes:
O piná piná pina na basila mato sanje
Erunkó Bossukó girijó erun Dã Daomé
O pina pina pina na bacila mato sanje
Bo bossokó girijó erun Dã Danumé
Para Badé:
Badé Zoro di mapá
Badé zoro di mapá
Ele é zoro, zoro
Zoro di mapá
Para Yemanjá/Abê:
Édelá, ède manjá
Agbê Sesila olodô
Édelá, ède manjá
Agá Sesila olodô
Para Ogum:
Kwê kêro mimalá , Kwê kêro mimalá, Kwe kero mimalá
Kwê kêro Ogum ô
Para Ogum:
Okê Okê otobi odé, ai céu céu Ogum ô
Fala maré kwê, Fala maré kwê, Ogum abá é Ogum ô, Ogum abá Ogum ô
Kwê kê Ogum, kwê kwê
Kwê kê Ogum, kwê kwê
Para Euá:
Euá mandou salvar, Euá madou salvar
Ela mesmo era quem vinha, Euá mandou salvar!
Outro:
Euá ô kié é, Euá ô kié é
Orixá eu quero guia!
Euá ô kié é, Euá ô kié é
Orixá eu quero guia!
Outro:
Euá, Euá da mina bobossa Euá
Euá, Euá, Euá
Da mina tobossa Euá
Para Lissá/Oxalá:
Jan da maramadã aê, jan da maramadã aê
O Badé Abacossu, naveó Messan Oruarina
Erun obatá ô Lissá sideô avereço
Jan da maramadã Lissá, jan da maramadá Lepá
Para o Vodum Dã/Dan:
Ei Dan, Ei Dan, Ei Dan!
É um Vodun So na Mina de Dan, Aê Dan
Ei Dan, Ei Dan, Ei Dan!
É um Vodun So na Mina de Dan, Aê Dan
Outro:
Han-han gibê, Hê un Dangibê
É kpa hunkó, vodum maió danumé
Han-hangibê, Hê un Dangibê
É un tohuió, vodum maió danumé
Para Maria Barbara ou Barba Soeira
Raiou Mamãe Barba, raiou Maria Bárbara
Raiou Mamãe Barba, raiou Maria Bárbara
Anaicô, anaicô! hoje é dia de folgar, senhor!
Ô Santa Bárbara lançou pedra no mar
Anaicô, anaicô! hoje é dia de folgar, senhor!
Ô Santa Bárbara lançou pedra no mar
Outro
Ô lá vem Barba nas ondas do mar
Ô Barba vem rolando é no rolo do mar
Outro
Minha divina Santa Barba, ô venha ver seu mundo
Ô mar, ô céu, ô venha ver seu mundo
Para a Princesa Oriana
Oriana das ondas do mar, Oriana das ondas do mar
Oruana é a flor do mar, Oruana é a flor do mar
Outro
ô mike éle, O mike éle, ô mike éle anaicô!
Boboromina chegô agora
Oruana das ondas do mar, Oruana das ondas do mar
Para D. Luís Rei de França:
Venceu Brasil, Venceu Brasil, Venceu Brasil
Ganhou aliança
D. Luís é Rei, D. Luís é Rei de França!
Para D. José Floriano:
Ele é o Rei do Mar ancião! Ele é o Rei do Mar ancião!
Ô vem cavalgando seu cavalo no passar do Boqueirão
Para S. Légua Boji
A família de Légua está toda na eira
Ô bebendo cachaça,ô quebrando barreira
A família de Légua está toda na eira
Ô bebendo cachaça,ô quebrando barreira
Outro:
Seu Légua tem doze bois na Ilha do Maranhão
Vou levar minha boiada, da mata pro sertão
Boi, boi, boi! Tire as tamancas do boi S. Légua
Outro:
Meu pai é Légua Boji, eu sou Boji Buá
É mar, é ceu, é ceu é mar!
Outro: ' Foi lá no Oriente
No Oriente uma Estrela Brilhou
Foi lá no Codó, que a familia de Légua raiou
Ele é neto de Pedro Angaço, filho de Légua Boji
Na coroa de seu pai
Ele viu a canoa virar, ele viu (bis)
Para D. Mariana
No rio Negro os murerus viraram flores
Na mata virgem, o sabiá cantou
Ela é a cabocla Mariana
A bela turca que aqui raiou
No rio Negro os murerus viraram flores
Na mata virgem, passarada cantou
Eu, cabocla Mariana
Filha de 'turco' que por aqui reinou
Outro:
Lá fora tem dois navios, na praia tem dois faróis
É a esquadra da marinha brasileira, Mariana!
Lá na praia dos Lençóis
Para D. Sebastião:
Ê rei, ê rei, rei Sebastião
Se desecantar Lençol
Vai abaixo o Maranhão
Rei Sebastião, guerreiro militar (bis):
É Xapanã ele é pai de terreiro
Ele é guerreiro da coroa Imperial
Ele vem descendo da cidade de areia:
Dessa cidade dos portais do maranhão
Ô Maranhão, ô Maranhão
Todos são filhos de Rei Sebastião
Para S. João da Mata
Sou caboclo da bandeira, da folha do ariri
Sou caboclo da bandeira, pedra de Itacolomi
Sou caboclo da bandeira, João da Mata falado...
De encerramento para Voduns:
Levara vodum idô
Acuntirê é de aladónon
Levara, levara, lebara, dadá missô
De encerramento para Gentilheiros e Caboclos:
Azakerê, kerê ô levara vodum
Azakerê, kerê ô levara vodum
Há festas especiais para voduns, gentis e caboclos, sendo que de acordo com o desenvolver do culto mudam-se os toques e os cânticos também, dependendo da família ou linha de entidades que se queira homenagear. Contudo os voduns não são celebrados juntamente com gentis ou caboclos, a festa destes ocorre separadamente, com toques especiais em língua jeje ou nagô, isto é, num jeje(fon) intraduzível, deturpado naturalmente no decorrer de séculos, o que torna na maioria das vezes imprecisa sua origem, isto se deve também ao fato de que o tambor-de-mina, com exceção da Casa das Minas, ser um mixto de elementos nagôs (yourubás), jeje (ewe-fon), fanti-ashanti, ketu, cambinda (angola-congo), indígenas e europeus(catolicismo romano). Por essa riqueza cultural e pelo próprio sincretismo presente no culto fica difícil separar Tambor-de-Mina e Encantaria, Terecô ou Tambor da Mata já que muitas casas de culto se dedicam a todas essas vertentes similares e intrínsecas. Entretanto, o que de fato vem descaracterizando o tambor de mina, é a influência direta ou indireta de denominações não originárias do Maranhão, como a Umbanda e o Candomblé sobre muitos pais e mães-de-santo
oloje iku ike obarainan
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