domingo, 29 de setembro de 2013


Mógbà Sàngó e o Culto do Edùn Ààrá


Na cultura Yorùbá quando pronunciamos o nome de Sàngó sentamos e quando estamos sentados, nos colocamos de pé em sinal de respeito Sàngó é o grande Imperador. Em poucas palavras, ele é o mais poderoso dos Òrìsà e governa no céu junto a Olórun. Segundo Wándé Abímbólá[1] (1997, p. 95) ele foi o único Òrìsà a subir ao céu e teria governado antes do século 15 XV, sendo saudado em uma cerimônia destacada por também por Abímbólá como Kabo kàbíè sílè, que se traduz como “Bem vindo ao Rei na terra” no qual ele vem ao mundo, manifestando-se em transe num único iniciado.


[1] Wándé Abímbólá foi eleito por todos Bàbáláwo Yorùbá mais antigos com o título “Àwíse Àgbàiyé” – Porta voz mundial da cultura Yorùbá no mundo.







Em território Yorùbá também é muito comum escutar a expressão “Káwòó kàbíè sílè, káárá wòó wòó wòó”, ficando o final desta saudação a imitação do som do trovão (Abímbólá, 1997, p. 98).
Sàngó está associado ao raio e ao trovão, devido sua força e agressividade, fato este que nos faz refletir sobre essa energia da natureza tão destruidora. A seguir forneceremos parte do livro Ifá will mend our broken world de Abímbólá, onde retrata alguns pontos importantes do presente tema.
(pág. 79)
[...] Desde 1995, muitos meteorologos tem investigado o fenômeno dos raios vermelhos, estes poucos visíveis aos olhos do homem, alcançando uma altura de 60 milhas por cima dos trovões. Quando o raio atinge diretamente o solo e o interior da terra esfria, acaba formando uma pedra, sendo possível encontrar ali naquele local o “Edùn ààrá” (Pedra de raio).
Os Yorùbá acreditam que a pedra de raio é criada quando golpeia a terra e quando ela cai, seja sobre uma casa ou quando mate alguém, Sàngó enviou desde o céu o Edùn ààrá e este deve ser extraído por um sacerdote preparado de Sàngó. Estes sacerdotes encarregam-se de isolar a área e efetuar vários rituais e são chamados de Ayòòòsà, “pessoa indicada para extrair o Òòsà (simplificação de Òrìsà)”, tirando da terra uma parte do poder de Sàngó em forma de pedra de raio. Em território Yorùbá esses raios são mais freqüentes em setembro e outubro, sendo estes meses, época de colheitas e temporadas de chuva. Alguns grãos como o milho podem atrair raios, pois são bons condutores. Os raios atraídos por esse grão são chamados de Ààrámokà (Raios de sementes de milho). Raio= ààrá e milho= okà.
Um dos nomes de elogio para Sàngó é:
Aláàrámokà tì dérù bojo.
Dono do raio da semente de milho que assusta o covarde [...] (A tradução é nossa)

Segue verso de Ifá do Odù Ogbè Obara em espanhol (a tradução é nossa) informado pelo Olúwo Ifátókun Itaniy (Edibere Magazine), descendente religioso da família do Àràbà de Ilé-Ifè, o Chief Aworemi Awoyemi adisa mokoranwale[1], onde o mesmo nos dá o entendimento da relação de Sàngó com Edùn ààrá.
[...] Ogbè Obara é aquele que cobre o trovão da tempestade
O raio é aquele que cobre a terra e as árvores da fazenda
Eles foram aqueles que adivinharam Ifá para
Olúkòso-làlú Jénrólá (Nome de Sàngó)
Aquele que usa 200 pedras para vencer seus inimigos
Quando se encontrava no meio dos inimigos,
Disseram para oferecer sacrifício e ele fez.
Se teu fígado é tão forte como pensa,
Se és tão atrevido como pensa
Porque não pode esperar e confrontar com o raio?
Quem foi que usou o raio para vencer a conspiração?
Duzentas pedras
Quem foi que usou Sàngó para vencer a conspiração? [...]

Este pequeno verso de Ifá nos indica que o raio e o trovão são capazes de cobrir toda terra, fazendo entender que não há nada nem ninguém que não possa estar fora do alcance desta divindade. A tormenta não pode ser mais poderosa que o inesperado trovão que reluz com seu majestoso som impactante, o barulho do trovão dispersa a maldade e controla os inimigos, assustando até mesmo o mais valente dos homens.
Seria interessante também analisar o índice de mortos atingidos por raios no Brasil e no mundo. Segundo o Jornal “O Globo” cresce o número de mortos atingidos por raios no nosso país:
“O número de mortos em 2008 aumentou e, segundo o Inpe, foi o maior na década. Setenta e cinco mortes foram registradas em todo o país. No ano anterior, 47. O recorde anterior era de 73, em 2001. No ano passado, a maioria ocorreu no Sudeste, principalmente em São Paulo (20). “É resultado da combinação de duas coisas: bastante raio e bastante gente. Cerca de um quarto da população brasileira vive em São Paulo. É uma combinação explosiva, diz o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat/Inpe), Osmar Pinto Junior. Quase 80% das vítimas eram homens; metade tinha entre 25 e 59 anos. A maioria trabalhava na zona rural”.
Ao nos deparar com esses fatos, nos faz pensar no poder de destruição de um raio, por isso atribuído a esse Òrìsà. As principais funções de Sàngó é combater a traição, o medo, roubo, injustiça e a conspiração, representando a coragem, o conhecimento, o som da música, a dança, o poder em todos seus aspectos e o respeito.
Sua cor branca e vermelha representa o sinal da riqueza espiritual, o fio de seu machado duplo corta a adversidade e os obstáculos. Sàngó ajuda somente aqueles que fazem o bem, nunca ficando do lado dos injustos e das pessoas de mau caráter, fato pelo qual seus adeptos podem receber o nome de iniciado como “Mógbà” querendo dizer: (Mó= limpo \ gbà= receber) [a tradução é nossa], ou seja, “limpo para receber” o poder deste Òrìsà. No caso de uma pessoa não possuir estes requisitos, estaria correndo grande perigo durante sua vida.
Segue Oríkì em espanhol (a tradução é nossa) coletado no site do Ilé Tuntun fornecido por Táíwò Abímbólá[2], retratando um pouco mais das particularidades desse grande Òrìsà.
Eégun ará Oyo
Ará Ìwó, ará Ede
Omo Odò Obà
Tí o bà nse wón, eégun ará Òyó
Won a ní ìtalé lò njà wón
Won a má sùrè kiri
Onílé orí òkè, má fi ti ìsàlè ká mi mó
Tí wón bá pe Oya
Kó dáhùn ní ilé Irá
Ikú bàbá yèyé
A pa má wà á ogún
Tí ó bá á won l`'álè
Won a ma d'éró ònà
Sàngó oko Oya
Bí Sàngó bá won n'Ígbódù
A ma tè wón n'Ífá
Sàngó, to bá jàjàjà
K'odá ilé onìbàtña sí
Eégun tó gbe 'ni lá nyì odò ò fún
Òrìsà tò gbe 'ni là nfi obì bo
Abímo má gbàbé
Sàngó ò oko Oya
O ancestral místico de Oyo
Cidadão do povo de ÌwóCidadão de Odò ObàQuando Sàngó os incomoda
Pensam que são picados por ìtalèEntão eles correm aos arredores
Divindade, que vive sobre a terra, não bloqueie minha trajetória
Quando Oya é chamada
Ela deve responder sobre o povo de IráQuando Òrìsà Oko é chamado
Ele deve responder ao povo de IráwóQuando Sàngó é chamado
Ele deve responder ao povo de KósoOh, inspirante do terror da morte.
Ele não mata porque deseja uma parte das propriedades da vítima.
Quando ele se encontra no bosque
Eles entram mais longe na floresta
Quando ele os encontra no caminho
Se convertem em viajantes
Sàngó marido de OyaSe, Sàngó se encontra Igbódù
Sàngó irá parar sua luta em respeito de Òrunmìlà
Sàngó quando você esta com humor de guerra
Escute o suplicar do tambor bàtáUm devoto roda em Odó para ter apoio de SàngóUm devoto propicia o apoio de Sàngó com obi ábátáO pai que nunca se esquece de seus filhos.
Sàngó marido de Oya
Este Oríkì fornecido por Táíwò Abímbólá também demonstra o aspecto de Sàngó como estando em todas as direções e responsável por bloquear a trajetória de vida das pessoas de má índole.
[...]O ancestral místico de OyoCidadão do povo de ÌwóCidadão de Odò ObàQuando Sàngó os incomoda
Pensam que são picados por ìtalèEntão eles correm aos arredores
Divindade, que vive sobre a terra, não bloqueie minha trajetória [...]
Quando menciona que é cidadão do povo de “Íwó, Odò Obà”, faz entender que ele está presente em todo lugar. Quando aparece na parte do texto como “Pensão que são picados por ìtalè”, dá o entendimento que é o raio que atinge uma pessoa.

oloje iku ike obarainan

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